Queridos
maringaenses de classe média, que moram em um bairro onde a especulação
imobiliária constrói uma muralha invisível entre as classes. Você que mora na
zona 07, na zona 02, na zona 04, na zona 05, no centro ou novo centro, entre
outros bairros considerados nobres, onde as políticas publicas, chegam como num
passe de mágica, onde existem belos jardins e canteiros centrais: eu sei que é
difícil quando alguém nos faz enxergar nossos próprios privilégios, mas deixa
eu tentar mais uma vez.
Eu
não me importo com o quão “difícil” será para você adquirir mais bens, mais
terrenos para construir uma porção de casas geminadas de péssima qualidade para
vender sonhos para os mais pobres que você. E não me importo o quão “difícil”
será construir verdadeiras mansões para garantir a continuidade do seu
conforto.
Não
me importo o quão “difícil” será para você fazer uma viagem para o nordeste
todo fim de ano, parcelado a perder de vista, para que você possa relaxar e esquecer
os problemas diários.
Eu
não me importo com o quanto de empregos sua pequena empresa esta gerando para
essa cidade, e o quanto sua benevolência clientelista e solidária esta
espalhada em suas orações no conforto de seu lar, tomando uma bela taça de
vinho, saboreando alguns petiscos, e crente que sabe falar sobre política.
Eu
não me importo com o quão “difícil” o transito esta se tornando para você que
possui em sua casa um carro para cada membro familiar, e que tem a pachorra de
falar de sustentabilidade, de meio ambiente, com toda a hipocrisia que aprendeu
com seu rico dinheiro.
Essa
conversa não é sobre o seu plano de saúde defasado, nem sobre como a
democratização e popularização da saúde privada fez com que essa situação se
tornasse insustentável para a concretização do seu desejo de se sobrepor ao
restante da classe que sofre nas filas do SUS.
Eu sei que praticamente todas as conversas deste mundo
são sobre você, sobre seus anseios de consumo, e você está acostumado com isso,
então deve ser um baque não ser o centro das atenções. Mas, seja forte! É
verdade: nós não estamos falando sobre você.
Quando você chora em defesa de uma cidade conservadora
das tradições, dos bons costumes e da moralidade cristã e alega que em suas condições
de classe média em pseudoascensão o governo neoliberal da família Barros foi símbolo
de progresso em 8 anos, suas lágrimas não me comovem. Porque o que me comove
são as lágrimas daqueles que nascem e crescem sem qualquer perspectiva para
alimentar os mesmos anseios que você. É sobre essas pessoas que estamos falando
e não sobre você.
Quando você esperneia pelos mil reais gastos todos os
meses com a mensalidade da escola ou do cursinho dos seus filhos e que agora se
revelam “inúteis”, eu não me comovo. Porque o que me comove são as milhares de
famílias inteiras que se sustentam durante um mês com metade da quantia gasta
em uma dessas mensalidades. É sobre essas pessoas que estamos falando, não
sobre você.
Quando você argumenta que, na verdade, seus pais só
pagam seu cursinho porque trabalham muito ou porque você ganhou um desconto
pelas boas notas que tira, eu não me comovo. Porque o que me comove são as
pessoas realmente pobres, que mesmo trabalhando muito mais do que os seus pais,
ainda assim não podem dispor de dinheiro nem para comprar material escolar para
os filhos, quem dirá uma mensalidade escolar por mais barata que seja. É sobre
essas pessoas que estamos falando, não sobre você.
Quando você vocifera aos quatro cantos do
mundo que todos têm os mesmos direitos, que a sociedade é igualitária, e que só
dependem das pessoas por meio do trabalho, e do esforço individual o sucesso financeiro.
Na verdade, eu sinto uma leve vontade de desistir da raça humana, eu confesso,
mas só para manter o estilo do texto eu preciso dizer que o que me comove é
olhar para as periferias da cidade e identificar que as condições de
subsistência e existência não são as mesmas de quem nasceu nos bairros “nobres”,
que a educação não é a mesma, que o acesso a saúde não é a mesma, e que essa
conversa de “não pode dar o peixe, tem que ensinar a pescar” é conversa de
vermes da classe média em pseudoascensão social, que acreditam que um dia vão
se tornar donos dos meios de produção e do capital. É conversa de quem acredita
que se alguém esta andando de Audi é pelo simples fato de ser um gênio, e
despreza o fato de por nascença não necessariamente precisar trabalhar para ter
um Audi.
Quando você defende a candidatura do Pupin,
e diz que ele é honesto, e que a oposição esta tentando derrubá-lo pelo fato de
ter tido sua candidatura sob judice, e quase ser impugnado, e chora dizendo que
ele junto com o Silvio Barros devem continuar a mudança, eu não me comovo. Na
verdade, eu sinto ânsia de vômito ao perceber o quanto a classe média em
pseudoascensão social é egoísta, covarde e traiçoeira, o quanto pensa no
próprio umbigo. Esta conversa não é sobre seus interesses particulares, não é
sobre o que é melhor para o seu desenvolvimento individual, ou o
desenvolvimento dos seus negócios, não é sobre a construção de novos shoppings
ou centros comerciais, não é sobre a derrubada de patrimônios históricos como a
antiga rodoviária para transformar em estacionamentos para que você tenha mais
conforto ou dê mais conforto ao ritmo de consumo maringaense. Essa conversa é
sobre uma classe explorada que sai de madrugada de suas casas, de bicicleta, ou
de ônibus, que são obrigados a deixarem seus filhos o dia todo em creches, em
programas sociais, e que ao final do mês são humilhados com salários de menos
de 600 reais, e que se veem obrigados a decidir entre comer, entre estudar,
entre morar, por que não podem ter tudo. E ainda tem que ouvir, que só passam
por isso por que não “correram atrás”.
Se a coisa vai ficar tão ruim assim se formos
governados por partidos socialistas, ao invés de nos submetermos mais uma vez
ao governo aristocrático da família Barros que passa a coroa ao príncipe do
inferno Pupin, proponho então aos medíocres da classe média em pseudoascensão
social que troquem de lugar com os moradores da periferia, que ganhem os
péssimos salários que ganham que sejam discriminados nos shoppings, e nos
bairros nobres por não trajarem roupas de grife, que não tenham acesso a
educação privada, que não tenham mais planos de saúde e tenham que enfrentar as
filas do SUS, que fiquem a mercê da falta de dignidade humana e do trafico de
drogas, e depois disso tudo me diga qual o tipo de governo buscará para
resolver seus problemas, isso sem mencionar a massificação da ideologia
burguesa que estará penetrando sua mente. Ah,
você não pode esperar tanto tempo? Então, porque os pobres podem esperar até
mais, já que todos sabemos que o problema da desigualdade social no Brasil não
é algo que pode ser resolvido de ontem pra hoje?
Então,
por favor, reconheça o seu privilégio de classe média em pseudoascensão social
e tire ele do caminho, porque essa conversa não é sobre você. Já existem
espaços demais no mundo que têm a sua figura como estrela principal, já passou
da hora de mais alguém nesse mundo brilhar.
Queria te parabenizar pelo texto. Eu sou a autora do original e encontrei o seu blog pesquisando respostas que o meu texto teve internet afora. Achei sensacional a sua apropriação. Obrigada pelo uso criativo das minhas palavras e pelo novo texto que nasceu. Abraços.
ResponderExcluirEu que tenho que agradecer pelo texto fantástico que escreveu e que me proporcionou reflexões. Pequei em não por referência ao seu texto aqui no Blog, mas já compartilhei teu texto algumas vezes na rede, facebook, twitter, essas coisas. Fico feliz que tenha gostado dessa versão. Eu achei a tua lógica de escrita sensacional, e achei que caberia pra tantas outras coisas, que me senti no direito de reproduzir. Abraços
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