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segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Vinte e seis


Casou? Não casei. Teve filhos? Não. Saiu da casa dos pais? Não saí. Mora em um puxadinho no fundo de casa? Não. Engravidou uma menina de 17 anos? Não. Esta preocupado com o seu futuro? Sim. Como é ter vinte e seis anos? Não recomendo a ninguém, mas vou ser mais específico. Com vinte e seis anos, você percebe que o tempo passou, e que agora é um semi trintão, que não concluiu ao menos 10 % das coisas que gostaria de ter feito, nota que o tempo passa para todo mundo, e tem medo de ficar velho e gordo, e mais feio do que já é. Ter vinte e seis é ficar remoendo o passado, lembrando da infância, e de tudo o que poderia ter feito de diferente, que não fez, mas que outros fizeram e deu certo.
Um belo dia você acorda e todos os seus amigos de infância estão casados, grávidos, mudados, carecas, gordos, e tão frios com você, a intimidade e os assuntos em comum deixaram de existir desde o mundo adulto, acho que por isso ficam mesmo só as lembranças de uma infância de tantas histórias para contar. Sabe aqueles fins de tarde que se estendiam pela noite com os mais variados assuntos, e ininterruptas gargalhadas das coisas mais tolas que adolescentes podem fazer? Sabe aquela galera toda reunida, com tanto assunto que tem que brigar para falar? Lembro como se fosse hoje, todos sentados na mureta de tijolo, só não lembro bem do que falávamos, por que se eu lembrasse, hoje eu traria a tona o mesmo assunto, chorando por atenção, suplicando pelo sentimento de reviver o passado por mais um minuto que seja. Eu me recordo que por um instante eu fugi, eu fui o culpado, mas outros instantes, parece que pelos acasos e descasos da vida, convergiram para o distanciamento daquilo que parecia imortal. E hoje, só esta imortalizado nas minhas memórias, em poucas fotos, me entristece não ter registrado tantas coisas, por isso hoje eu necessito que tudo seja fotografado, afinal hoje, é o passado de amanhã. Não há mais vida na minha rua, e no funeral, me sinto tão solitário, nessa idade, nesses vinte e seis anos, nunca me senti tão sozinho, e tão morto. Mortificado, a cada casamento que deveria ser de alegria e é, a cada partida, a cada um que nunca mais voltou, a cada um que se foi pra algum lugar além do que eu possa manter os laços de amizade, a cada filho gerado, a cada vídeo de casamento onde eu apareço  ainda criança, junto, posando de inocente, e ai me lembro, que só tenho essa saudade justamente, por que, eu era o autor, eu construía a minha história junto com os outros, e no ápice da minha dependência, eu era tão independente, por que ainda era capaz de descobrir sem medo, medo de errar, que só se ganha quando adulto. Aos vinte e seis, o tempo passa tão rápido, e o mundo fica tão pequeno quanto seus sonhos. Tudo aquilo que te fascinou magicamente, hoje te parece tão bobo, tão tolo. Me lembro da primeira vez que ousei aventurar-se em dar a volta no quarteirão. Magistral! E a primeira vez que tomei um ônibus sozinho, era eu fazendo a minha história com tanta propriedade. Eu acho que jamais conseguirei traduzir aqui, em palavras, ou em qualquer outro lugar o que está na minha memória, é tão particular. Ontem, no casamento de um amigo de infância, ao me ver no vídeo, percebi como as vidas se cruzam, se descruzam, se afastam, e com vinte e seis, se não segue os padrões, se esta meio atrasado na ordem cronológica, a impressão, é que parou no tempo, retrocedeu, não cresceu a ponto de esquecer o passado, tão forte ainda por aqui. Alguma coisa aconteceu, algo deu errado, soa injusto isso tudo ter que permanecer no passado, tão distante, mas vejo que qualquer tentativa de trazer de volta, pode ser um desastre, um show de horrores. Os egos talvez sejam maiores que tudo o que já existiu entre nós. Esquece a corrente jogada no fio, o acidente na esquina de casa, as mandiocas roubadas do vizinho, a fogueira na data vazia, o pique esconde na plantação de vassoura, esquece a cidade desenhada no asfalto, ou na terra quente do quintal, debaixo da mangueira, dos boizinhos de plástico, das pinhas roubadas, do mês castigo, das bolas rasgadas, e das brigas homéricas com os vizinhos mais velhos, intolerantes às crianças. E vou mais longe, esquece do teatro de fim de ano, do amor do pré, do cheiro do Quick de morango, da minha capa de chuva transparente, da quadrilha, da professora do pré. Esquece dos panfletos que entregamos Deus sabe onde, dos sorvetes que vendemos, dos papelões que pegamos, das brincadeiras que brincamos. Esquece desses vinte e seis anos, que nos uniram, nos separaram, e deixaram nas fotos, e nas lembranças um sabor amargo de tempo que não volta mais. Mas esqueça sozinho, casado, mudado, pois eu não me esquecerei jamais. 

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

O vírus do trabalho.


Não tem remédio, não tem cura, não tem solução. Esta espalhado aos quatro cantos, está arraigado em cada cristão, evangélico, homofóbico, gente de boa índole, moço de família, conservador dos bons costumes, pequeno e grande burguês a ideologia burguesa, de que trabalhar é a única dignidade que resta, aos pobres mortais. Feridos em suas dignidades, os pobres desempregados, se estapeiam em filas, em vias de retrocesso, deixam seus nomes, e suas funções, estão as ordens, prontos para produzir, reproduzir, regozijar da vida assalariada. Quem diria, que o trabalho, com suas inúmeras transformações, sendo o fenômeno fundante do ser social, aquele saudoso trabalho, espontâneo, regulador das atividades biológicas, primárias, básicas, tido como intercâmbio do homem com a natureza, para a produção das necessidades reais, estivesse tão próximo, do abismo em que se encontra, abismo coberto pelo véu da mercadorização, da coisificação do homem, da fetichização das mercadorias. 
A essência do trabalho estava justamente nestas relações diretas com o instrumento de trabalho, com os produtos deste trabalho, e com a real necessidade de se trabalhar. Vejam só como estamos subordinados a ideia de que o trabalho, ainda esta ligado as minhas necessidades primárias. Mas qual a relação direta que temos com o nosso trabalho, seja produtivo ou improdutivo, seja um assalariado ou um operário? Toda esta fragmentação que me distancia de quem eu sou, e das minhas reais necessidades, e como tudo isso se interliga de modo fascinante no sistema de metabolismo social do capital, só me fazem descolar-se ainda mais de tudo aquilo que até então, julgava a unica verdade. Para isso, aprendi a função dos paradigmas. Se não compreendermos as origens e as transformações do trabalho, que o subordinou as necessidades de reprodução do próprio sistema, com a fragmentação, o afastamento do sujeito da objetividade e da totalidade da produção de sua própria vida, não seremos capazes de discernir, o nosso verdadeiro papel no mundo do trabalho e das relações humanas que se inserem na sociedade capitalista.
Quem blasfemaria contra a ideologia capitalista dizendo sobre o horror de se ter que trabalhar de 8 a 14 horas diárias? Quem poria em discussão o horror de ser obrigado a viver em função de produzir coisas que não lhe dizem nenhum respeito, de ter que acordar cedo todos os dias, de fazer horas extras, de não ter tempo verdadeiramente livre? Quem atentaria contra o sistema de produção que move o mundo, que move a economia, que faz o dinheiro e as mercadorias girarem? Quem faria a critica aos lucros exorbitantemente incomparáveis em relação ao salário pago aos empregados?
Na verdade, por dentro, os trabalhadores agonizam aprisionados ao ódio que se mistura a conformação anacrônica, não exteriorizam de modo contundente, e culminam no ciclo vicioso e estático que torna imutável, incurável,  é o vírus. A doença, que torna pálido, anêmico, de cama, que mata veladamente, eles inventam de tudo, televisão, praças, shoppings, ginásticas laborais, tentam manter vivos, afinal, são mão de obra, são massa, mas se morrem, eis que nascem outros tantos sem berço, sem o sangue burguês.
Me pergunte a fórmula da riqueza, e responderei, nasça rico, ou dê jeito de explorar o trabalho de outrem. Seja o dono do meio de produção, e da matéria prima, seja o intermediário dos outros homens, com seus meios de subsistência, e lucre milhões com isso. Alie-se ao mercado, a competição, ao consumismo, a alienação. Parece fácil? Se fosse, não teríamos tão poucos com o verdadeiro poder nas mãos. Assalariados que ganham mais, outros ganham menos, uns mandam, outros obedecem, e isso é tão óbvio, a classe é uma só, mas nunca vão concluir isso por si mesmos enquanto o sistema fragmentar as relações humanas e de trabalho. 
Como zombies, admiram quem trabalha noite e dia sem parar, se orgulham, e dão exemplos as gerações seguintes, reproduzem os paradigmas. Mortos vivos, vão e voltam para suas casas, onde permanecem com a televisão, quando  muito os livros, alguns estudam, buscam de certa forma se libertarem, estes agonizam conscientemente, de olhos abertos, com a boca seca de tanto gritar e ninguém ouvir. 

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Do que é feito a educação?


Hoje, com olhos de gente grande, faço rugas na testa tentando puxar pela memória quais eram as minhas atitudes de aluno, quais eram as atitudes dos meus professores e como era a escola a qual pertenci por uma década inteira. Muito tempo não acham? Do pré ao fim do ensino médio foram longos 12 anos, 11 na mesma escola. Posso dizer que acompanhei por um longo  período o processo de desenvolvimento estrutural, desde as salas novas, aos muros de concreto que substituíram os alambrados de ferro. Foram várias pessoas, indo e vindo, vários professores indo e vindo, alguns estiveram desde o inicio e permaneceram, alguns amigos carrego até hoje como grandes companheiros. 
O que eu quero me perguntar mesmo, é como é que andava a minha educação, e a educação na minha escola nesses tempos. Quero saber da minha vontade de estudar, de ler, das minhas facilidades em aprender, em prestar atenção, em buscar conhecimento, em escrever, em criar, em respeitar. Eu fui um bom aluno? Eu tive bons professores? Eles sofreram comigo e com a situação a qual eram sujeitados? Por que eu realmente nunca pensei que pudesse estar desse lado, o do professor. Sim, além dos 12 anos, foram mais 5 anos estudando no ensino superior, aprendendo coisas que em 12 não fizeram nem cócegas no meu cérebro. Hoje, eu vejo que aprendi muita coisa, contudo, o desafio maior, é justamente transmitir todo esse conhecimento que me abriu a mente, às mentes fechadas, caminhando contra todo um sistema de ensino que aprendeu que não precisa ensinar muita coisa, o sistema cooptado e inserido no modelo capitalista não vislumbra grandes cérebros, e contenta-se com seres alfabetizados, capazes de tornarem-se massa de manobra no máximo, sem grandes possibilidades de articulação e transgressão do modelo social vigente. 
Aos que sonham ser professores e compartilhar de um ambiente de cultura e intelectualidade, acreditem, eu fiquei bestificado com a ignorância, a falta de companheirismo, a grosseria, a falta de comprometimento, e vejam só, a falta de EDUCAÇÃO por parte dos mesmos. Um ambiente hostil, um ambiente calcado na covardia de homens traiçoeiros construídos pelo sistema. Uma decepção. Como lidar com a falta de compaixão, com a falta de solidariedade daqueles que deveriam ser os primeiros a te acolher? Ronda um preconceito obscuro por todos os lados meio aos educadores, meio ao ambiente já hostilizado. Preconceito com quem esta iniciando, preconceito com professores do PSS- Processo de Seleção Simplificada, e o preconceito com o professor de Educação Física, o que não é novidade para ninguém. E eu me pergunto, com tantos desafios, ainda somos obrigados a enfrentar esse tipo de situação? 
E me pergunto, pais, vocês se preocupam com a educação de vossos filhos? Será que ninguém consegue perceber onde chegamos? Ou será que fingimos? Não sei o que sabem sobre as escolas, mas o que vejo, é um lugar tomado por dinossauros e fosseis de uma educação que já não dá mais conta de ensinar nos moldes tradicionais, e faz desse angu, o prato principal. Já esta muito claro que a preocupação do Estado e da secretaria de educação, é com os números, as estatistias, quanto mais alunos aprovados, maior o índice de alfabetizados, de corpo na escola, menos evasão. Ora, se está tão fácil assim ser aprovado, por que desistir? Não que eu deseje alunos desistindo, mas isso é tão estratégico. O pré histórico livro de chamadas ainda é o meio de controlar professores e alunos, misturando-se aos conselhos de classe, que são medonhos. Um tal de aluno que não pode reprovar daqui, e não pode reprovar dali. Professor fazendo das tripas coração para passar aluno, fazer livro de chamada, avaliar, dar aula, cumprir horários, planejar aula, e ele ainda tem que se atualizar. O caos. assim eu caracterizo a educação. Os alunos, em grande parte estão se transformando em mão de obra, seres não pensantes, não críticos, emburrecidos, ignorantes, e semi analfabetos. Os professores mais velhos estão cansados, e espalham um discurso derrotista e conformado, diante de uma educação desestimulante. Te pedem inovação e criatividade, e não lhe oferecem ao menos uma cartolina, a falta de material, de condições estruturais, de quadras, de materiais esportivos, somam a todos os problemas deste ambiente e montam um quadro desesperador. 
Dia desses tentei trabalhar um texto em sala de aula, e desisti quando percebi que os alunos não tinham capacidade de interpretação suficiente para entender e debater o assunto, eles eram do ensino médio. Me senti frustrado, não necessariamente derrotado, mas refleti sobre os discursos fúnebres sobre a educação que veio dos outros professores. As mãos parecem atadas vez ou outra, por que se briga com aluno que não quer aprender, se briga com professor que não te respeita, se briga com funcionários que não querem trabalhar, por que se você começar a movimentar a estrutura, consequentemente os outros tem que se mover, e é tamanha a estagnação, que as reações são as mais adversas, desde caras feias, a caras mais feias ainda. O fato é que o ambiente escolar me parece mudado, as salas de aula me parecem causar um certo desconforto, uma vontade de fugir, a sala dos professores me parecem frias e emburrecidas, e todos caem nessa teia do Estado, que nos faz insetos enredados, sem ter pra onde fugir.


sexta-feira, 12 de agosto de 2011

OS REIS E A PERFEIÇÃO.


Minha vida passageira, minha canta Cantareira
Passarinho passa areia, lado ninho a ladeira
Lava roupa lavadeira, roupa lava vida inteira
Borboleta, bobo, teia, da aranha sanfoneira
Macho marchará na rua, dobra esquina meia lua
Sol lá tente novamente, dó ré mi facilitou
Foi gol quente, incendeia, Cava lei, depois rodeia
Figura antes, e depois, nunca pr’outra agonizou
Sempre as margens, respirando um resto de vento
Caro magro, vago, simulacro ao relento
Diz, pressente, displicente, diz contente...
Conta comigo, conta conto, dá desconto
Rei ti ciências de um parágrafo mudo, ausente.
Sair e dar a mão no Irã, diz: crime, nação.
Sair e dar a mão no Irã é discriminação, na mão, na mão.
É descaminho contra árido da fronteira, é de volta
É de contra, mão sem ato, sem rumo
É daqui deste lugar, sem par, que sumo
Aos olhos dos eleitos, perfeitos, dessa gente que não é gente
Rei invente! Rei entenda! Rei suscite a mim que sou eu.
Não seu, mas nas tuas mãos, no teu Rei, nado, me afogo.
Diz: Caracterizado de homem como um, como outro.
Rei levante! Irrelevante talvez
Para quem dentro da saga cidade, ex – cura, esmurra
Como quem a ponta, fura, cega, manipula
Mãe pula meus desejos e minha alma
Fama, ilha, cortejo que não se dissipa
Família: bocejo de quem discrimina.
Bananal, banal, Brasil, carnaval.
No próprio ventre o gargarejo sufocado, amor to enterrado
Diz crente, mas não acredita ao menos no que diz
Diz tudo como quem diz da boca pra fora.
Condena! Diz: crime, nação.
Rei integrado, Reificado com toda essa perfeição.
Abatido, e não representado, consumido
Mercado ria, ria da nossa cara, ri de mim que te consumo, que te desejo
Passaria passarinho, antes da morte o beijo, antes do sangue, o vinho.
Castra a ação, antes de ser, interrompe o amor.
A base de mordidas, pauladas, agressões, trans- gressões, trans-sexuais.
Diz crente novamente, aparta o beijo violento na televisão
Se diverte nas ruas, o reis de paus na mão.






segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Espasmos de uma noite só.


Eu só queria ter um pouco de paz, eu só queria não ser nada demais
Eu só queria não olhar pra você...
E sentir, que não posso ser mais nada além
Só não queria te ver nos jornais
Te encontrar nas redes sociais
Olhar seus álbuns, suas fotos, retratos
Que só me lembram meus erros, meus traços
Meu jeito teu, de ser, sem contar com ninguém
Sem sonhar, sem ser, aquilo que eu sempre quis

Te ver feliz não é nada demais
O que dói mesmo é o que você deixou pra trás
Eu sei que sonho só se for assim
Desse seu jeito de ser tão feliz
Que me parece tão errado, é o seu jeito interessado
Interessante às vezes ser ruim
Com esse jeito de ser todo clean
Meninos sofrem por amar demais
Mas as meninas sempre sofrem mais

E agora eu sei que o erro foi meu
Por que acreditei que era verdade o dia que te conheci
E agora eu sei que tudo não passou
De um momento em glória, sem amor
Desconstruído na contradição
Dos nossos passos, ilusão
Mas agora vejo o quanto eu cresci
Mesmo com o gosto amargo de ser deixado assim.

Da janela do meu quarto, das verdades que eu digo
E dos perigos, sem amigos pra contar
E dos vestígios, as lembranças sem parar
Se dissolvem como o álcool
Ou o teco no cigarro.

Talvez no escuro do meu labirinto
Da morte do meu signo
Eu seja esquecido
E nunca passe a mesma dor
E nunca ouça alguém dizer, que é amor.

Talvez, sem lápide, sem brinco
Eu seja claro enquanto digo
Amores já não valem mais a pena
Amigos são destinos, são escolhas, é dilema
É problema, é cinema, mas nem sempre tem final feliz.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

NÃO VOU ACEITAR SUAS OPÇÕES RELIGIOSAS!


Para quem acompanha o Blog já deve ter visto esse texto alguns posts atrás, contudo, em virtude de uma manifestação promovida pelos Livres Pensadores resolvi repostar remetendo a postagem coletiva em defesa do Estado Laico, se avolumando nesta justa manifestação de quem preza pela liberdade de TODAS as manifestações religiosas, mas antes de tudo, pela não discriminação que acontece e se justifica pela liberdade de expressão dos parlamentares que desejam professar suas religiões no Congresso Nacional.
Caros ungidos no óleo extraído do sangue do redentor! Crentes infames na salvação da alma, na vida após a morte, e na redenção dos pecados. Julgadores das vidas alheias, esperando o julgamento final, contando com o ovo na cloaca da galinha, como se já estivessem garantidos no reino fantasioso dos céus. Caros pastores dos horrores, do escambo religioso, da troca da opinião e da razão, por uma eternidade celestial e imune ao fogo do inferno. Caros covardes cristãos, que se defecam por conta de um diabo inventado, e que acham que fé tem a ver com ler a bíblia, rezar uma vez por dia, e pedir muito a um ser superior que não os deixe na mão na hora do arrebatamento. Caros defensores da palavra divina escrita por meros cagões que possivelmente são tão pecadores quanto você, o que é normal, já que somos todos pecadores, buscando a evolução do espírito, para a aceitação santificada, idealizada, ungida, benzida pelos dedos grandes do iluminado, não é do sol que eu estou falando.
Até aqui, a maioria dos cristãos de boa índole, e dos evangélicos que amam todo mundo sem diferenças, e querem salvar todas as almas mundanas que fazem sexo por prazer e não para reprodução, já devem ter tido uma sincope, já devem ter me julgado e condenado em nome do senhor. Pois vejam que interessante como é normal ouvir isso da boca dos ungidos no óleo santo, que em nome do senhor, isso, em nome do senhor aquilo, já notaram? Que em nome do senhor muita gente foi cruelmente injustiçada e assassinada, e não, não eram os perseguidos por seguirem a palavra de Deus, eram os perseguidos pelos seguidores dessa palavra tão mal interpretada, que se alastram como erva daninha pelos quatro cantos do mundo, pregando, insultando a inteligência, e desprezando a racionalidade. Sabem por que Deus tem todas as respostas? Por que nós, seres humanos, não as temos. Assim atribuir o que não se pode responder a uma entidade superior, baseado nos simples fato de ser ignorante, e não acreditar que só o homem é capaz de transformar o mundo, isso meus caros, é um prato cheio para os que fingem acreditar, fingem tão bem que gritam aos quatro cantos, fingem tão bem, que a grande massa, orientada, manipulada e obediente, para não ter o trabalho de se questionar ou ter opinião própria, o que exige um mínimo de cérebro, preferem seguir a onda religiosa do momento, vivendo no mundo do maniqueísmo, do moralismo, e do Deus dos conformados, que explica claramente que o destino está tão traçado, que os caminhos só te levam a um único lugar, continuar sendo o que você é, um nada ungido esperando salvação, fazendo voto de pobreza, esperando em Cristo ungido que seja recompensado no final, bem lá no final. Ora, meus caros, aqui vos fala não um ateu, não um agnóstico, muito menos um evangélico ungido. Aqui vos fala um ser humano que culturalmente se diz católico, batizado, crismado, catequizado, de família inteira católica, alguns praticantes, outros nem tanto, aqui vos fala alguém que durante anos recebeu a informação de que no fim, tudo vai dar certo, que Deus escreve certo por linhas tortas, que o sofrer de hoje será recompensado por meu voto de pobreza, por minhas boas ações, e pelo dízimo ofertado na igreja ungida. Contudo, aqui também vos fala, alguém que questionou, que leu, que abriu a mente, que sentiu-se a vontade para dizer não ao dogmatismo e ao fundamentalismo, alguém que não aceita que a resposta seja um mistério, sendo o homem tão capaz, tão inteligente a ponto de criar coisas inacreditáveis.
Discutir religião com alguém que não se questiona, não reflete, e foge da racionalidade, é esmurrar uma faca afiada repetidamente, é inútil. Pedir que estes leiam este texto, e concordem, ou simplesmente reflitam, é tão inútil quanto, eu não os recrimino por isso, afinal de contas, eu sei bem como é ler e ouvir o que uma parcela ungida em Cristo propaga por ai, quase um vômito, sei bem como é não conseguir ler até o final tanto equivoco, tanta indução ao erro, e tanta má fé com uma massa que não costuma pensar por si só. Sinto e compartilho das mesmas náuseas que sentem ao me ouvir dizendo tantas asneiras, levantando tantas questões, que para vocês, resume-se em mentiras e verdades, em bem e mal, mas para mim, não passa de intolerância aos que optaram, por que veja bem, religião sim é uma OPÇÃO, apesar de muitas vezes, principalmente na igreja católica, tenha-se o costume de batizar antes mesmo que o individuo se dê conta, do que se trata a tal religião, e não venham me dizer que a comunhão, e a crisma são uma possibilidade de se decidir se é isso mesmo que vai seguir, quem depois de ouvir que vai para o fogo do inferno caso não siga os dogmas da igreja, vai mudar de idéia? Quem quer decepcionar toda uma família por não acreditar nas mesmas coisas? Meus caros existem uma máquina de fazer crente (evangélicos), uma máquina de fazer católicos, e o ritmo é frenético, não dá tempo de perguntar se você quer ou não ser ungido, só dá tempo de julgar, condenar, e queimar no fogo do inferno.
Neste momento, muitos devem estar afoitos em refutar o que estão lendo, vão em frente, somos todos capazes de opinar, de juntar argumentos, mas, por favor, não me venham com versículos, nem frases prontas, não tentem me convencer que falta Deus na minha vida, por que se ele realmente existe, é bom que ele seja realmente muito generoso, e não os julgue como estão acostumados a fazer com os outros.
É preciso meus caros, que vocês entendam, que por mim, o Estado nem existiria, por que ele não me representa, ele representa as idéias burguesas, e esta a favor dela. É preciso que entendam meus caros, que o capitalismo se constitui e se mantém pelas diferenças e pelas desigualdades, e nele mesmo se encontra a incitação para a discriminação, tão estratégico, tão manipulativo, percebam o quanto as minorias, o quanto os diferentes grupos se digladiam, se insultam, travam brigas homéricas, um pequeno grupo nos governa, e reina sob a guerra anunciada, premeditada, inventada, tão falsa quanto a moral que tanto se prega, tão falsa quanto o modelo de família que você acredita ser o único, tão falsa quanto a tua covardia em aceitar que na eternidade seus problemas estarão resolvidos, por enquanto, só resta sentar e esperar, ou ajoelhar, e rezar.
Assim sendo, meus caros, o Estado que eu não quero, e que é laico, sim LAICO, acreditem se quiser, e é preciso que saibam disso, e compreendam o motivo de ser laico. Não é por que o Estado não precisa de Deus ungido, ou por que o Estado é coisa do demônio, se bem que... Enfim, o Estado é laico justamente para proteger as diversas manifestações religiosas, não permitindo que de acordo com os governantes que ocupem o poder, uma religião suprima todas as outras. Imagine você, se ao invés da constituição, a bíblia, ou o alcorão, ou outros dogmas orientassem a organização da vida social? Deixemos o dogma do Estado, a constituição, nos orientar, ou padeceremos a mercê da guerra religiosa a nos desorientar? 

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Tem evangélico por aqui? Queira se retirar!

Bom, meus caros, já faz algum tempo, vem crescendo um asco dentro de mim, no que diz respeito as religiões e seus seguidores, eu gostaria de não generalizar, e não vou fazer. Eu gostaria (Um desejo profundo meu, quase utópico) que todas as pessoas fossem capazes de pensar por si só, mas isso, deve ser pedir demais. Fato é que elas acreditam pensar por si, porém, são tão suscetíveis, tão maleáveis, tão manipuladas, que eu ando me sentindo no dever, de dar um tapa (Simbolicamente falando) bem dado na cara desse povo, que mais parece rato de laboratório, do que gente. 
O dever é informar? Não, é muito mais árduo, é alfabetizar socialmente, politicamente, religiosamente, culturalmente, enfim, ensinar o beabá completo. (seria bom se fosse por osmose) No entanto, eu que não acredito em milagres, penso que seria um, enfiar juízo na cabeça desse povo, já que o espaço esta vazio mesmo. Nessa ansia de ser pedagógico com os ensinamentos, lhes trago o primeiro passo, leia o texto abaixo do Pastor Silas Malafaia, e tente apontar por sí só os erros, os absurdos, os interesses, e se possível, o que esta na entrelinhas do seu "pedido especial".

"Um pedido especial
A maior alegria do nosso ministério é poder servir a Cristo; é saber que fomos chamados por Ele para propagar o evangelho e ajudar a expandir o Reino de Deus. Entretanto, ninguém consegue fazer algo sozinho. Se hoje nosso programa de televisão pode ser assistido por mais de um bilhão de pessoas, apoiamos diversos projetos sociais e promovemos eventos evangelísticos, é porque contamos com a contribuição de parceiros liberais. Somos profundamente gratos por isso.

Um dos lemas desse ministério é ser transparente em suas ações. Por isso, fazemos questão de prestar contas dos recursos investidos, seja pelo programa de TV ou pela revista Fiel, enviada aos Parceiros Ministeriais mensalmente. Agora temos um novo desafio. 

Todo dia 15 e 20, temos de pagar milhões de reais às emissoras de televisão para manter o Vitória em Cristo no ar, um programa que alcança todo o território nacional e é transmitido dublado em inglês para mais de 200 nações. No entanto, ainda não conseguimos levantar os recursos necessários para honrar nosso compromisso neste mês. 

Gostaríamos, então, de pedir uma oferta especial, segundo o que você propuser em seu coração. Lembre-se, a oferta é voluntária e um ato de fé e amor. Não é uma obrigação. Como sabemos que você é uma pessoa de visão na obra do Senhor, esperamos contar com sua liberalidade para nos ajudar nesse grande investimento. 

Desde já agradecemos por sua compreensão. Que Deus multiplique sua semente e produza frutos em sua vida e na de sua família.

Muito obrigado por tudo!"

Pr. Silas Malafaia

Depósito em nome da Associação Vitória em Cristo:
Bradesco: Agência – 0663-7 / Conta – 92177-7
Banco do Brasil: Agência – 0296-8 / Conta – 225822-6
Itaú: Agência – 6002 / Conta – 36367-6

E ai, gostaram? Se você não viu nada de incomum neste texto, no minimo você é evangélico. Agora se me disser que se ao invés de um pastor, fosse um padre, você relevaria, meu querido, mais que maleável e sucetivel, você seria um tremendo hipócrita. É claro, que em nível de sucetibilidade os católicos, sob minha análise, tem um indice menor, visto que culturalmente, seja verdade ou mentira, se firmou como uma tradição, e berra aos quatro cantos ser a maior religião, com mais adeptos e blá blá blá, o que pode ser uma ótima justificativa para alguém ser usado, enganado, manipulado. Isso conta muito. Algumas religiões podem ser considerdas neste mesmo nível, por ter de certa forma essa tradição. Por isso a maior facilidade de católicos abrirem os olhos, notarem que o mundo é bem mais do que se imagina, enfim, deixar de falso moralismo e hipocrisia. Agora, meu querido, se você é da Universal do reino de Deus, Pentecostal Ungida sei lá onde, ou Só Jesus na Causa, o caso é grave, você precisa de tratamento de choque. Agora se você é da Associação Vitoria em Cristo, se você gosta do Pastor Silas Malafaia, esse canalha de merda, bom, sinto lhe dizer, teu Deus esta de brincadeira com a tua cara. Bradesco, Banco do Brasil e Itaú, não tem nada a ver com Deus, Deus não tem uma conta no banco, e o Pastor Silas malafaia só esta precisando manter o seu programa de televisão, bem como seu conforto, sua igreja, e seus fiéis pagadores, digo, seguidores. 

O próximo passo agora, é aprender sobre as religiões, e parar de frequentar o culto.

Abraço e até a próxima aula.

http://www.vitoriaemcristo.org/_gutenweb/_site/gw-noticias-detalhe/?cod=487
Pastor Silas Malafaia

quarta-feira, 20 de julho de 2011

O "Pink Money", os estereótipos e a apropriação de "guetos" pelo Capital.

Apesar de há algum tempo já existente, poucos são aqueles familiarizados com um termo que, por dentro de todo o debate gerado pelo brutal aumento dos ataques contra homossexuais tanto nas ruas das principais capitais brasileiras quanto no Congresso por Bolsonaro's e evangélicos, adquire centralidade e merece uma atenção especial daqueles que buscam entender como o capitalismo pretende a "resolução" de algumas das principais expressões de sua crueldade enquanto sistema econômico e social. Tal termo é o "Pink Money".

Criado já há algum tempo, o termo, como se define na Wikipedia, faz referência ao "poder de compra" da comunidade LGBT. Suas origens, alcance e perspectivas podem ser sintetizados da seguinte forma: "Com a ascensão do movimento dos direitos gays, o pink money passou de uma franja de mercado e marginalizado para uma próspera indústria em muitas partes do mundo ocidental, como os Estados Unidos e Reino Unido."¹ 
Esta dinâmica de transformação, da qual já emana um profundo conteúdo ideológico e desnuda inicialmente a maneira pela qual os capitalistas buscam lidar e entender a comunidade GLBT, encontra em numerosos artigos na internet e blogs aprofundamento e desenvolvimento.
Na maioria destes pontuam-se as bilionárias cifras que envolvem o "consumo gay" e buscam, por incontáveis vias, alertar e pontuar a importância de entender o "mercado" para, assim, e não há nada mais ideológico do que isto, "tirar melhor proveito" dele.

O que (dizem ser) é o "consumo gay" e a utilidade dos Estereótipos

Basta uma busca rápida e uma olhada nos estúpidos programas do dito "humor" para entendermos quais são as predileções dos homossexuais e/ou quais as áreas de interesses destes segundo a ideologia burguesa. Segundo um site dado a refletir o impacto, benefícios e a necessidade do empresariado e marketeiros dispenderem atenções ao "consumo gay", as principais áreas de interesse da comunidade são a automobilística, tecnologia, turismo, moda e luxo.²  
Obviamente que toda a estética e referências envolvidas são recheadas de todo o tipo de estereótipos e chavões pejorativos os quais, historicamente, foram atribuídos aos gays.
O Sadomasoquista, o bombeiro, o "emplumado", o delicado, o espalhafatoso, todos são os "tipos ideias", dos quais, nenhum homossexual, bissexual ou transsexual pode escapar. 

Tal é e sempre foi a tendência de interpretação das minorias e dos grupos indesejáveis, por parte da ideologia dominante, que seja, estereotipá-los, transformando-os em elementos caricatos e identificáveis, passíveis de separação e segregação para, assim, "Guetorizá-los" e proteger o padrão de indivíduo, desejável, estável, heterossexual, casado, branco e que deve se constituir, necessariamente, como a regra da sociedade como um todo.
Este processo, todavia, não é novo, nem na história dos oprimidos, nem no caso da comunidade LGBT. 
Basta ligar a TV em qualquer canal propagador do sensacionalismo e evidenciador da barbárie cotidiana da sociedade de necessidade capitalista, para vermos quais são os estereótipos atribuídos aos Jovens negros, pobres e da periferia, enquanto ladrões, estupradores e bandidos; às mulheres, enquanto, em sua grande maioria, donas de casa, "esposas", submissas e resignadas e, se forem negras, enquanto domésticas e faxineiras (Não por retratem a triste realidade da maioria da População feminina deste país submetida aos piores e mais degradantes empregos, mas por reproduzirem-nas enquanto corretas, sem críticas); dos homossexuais como os, chamados socialmente, "tarados", escandalosos e descontrolados e segue-se uma longa linha de definições rígidas e absurdas...

Como dissemos, no entanto, tal processo serve como uma espécie de "definidor universal" e bloqueio da ideologia dominante, definindo o "distinto" e o "regular", o diferente e o normal, para garantir a manutenção de seu padrão desejável e colocar em seus devidos guetos o que "surge e é diferente" sendo que, invariavelmente, como em tudo no capital, tal processo terá suas implicações econômicas, que encontram uma expressão acabada em relação a comunidade GLBT no "Pink Money".

 Pink Money: Aspectos positivos para a comunidade GLBT em sua "integração"?

A transformação da comunidade Glbt em "mercado gay", necessariamente precisaria passar por um processo de "homogeneização" de interesses pela via da conformação de tipos ideias, estereótipos, que, como demonstramos, servem a um interesse essencialmente ideológico de separação daqueles agrupamentos de indivíduos de um todo, cujas características são tidas como ideais e desejáveis. 
Esta definição possui base histórica e, sendo assim, basta voltarmos 40 anos no tempo para observarmos o quão indesejáveis e segregados eram os homossexuais na Grande Nação da liberdade, os EUA, na qual, os ataques aos homossexuais nas ruas, praças e pontos de encontros, dentre eles o emblemático STONEWALL, ao qual iremos nos referir mais a frente,  pelos orgãos repressivos do Estado -Polícia- eram tão comuns, ou mais, quanto os espancamentos, prisões arbitrárias e assassinatos de jovens "afro-americanos", submetidos a um apartheid aberto, que começavam a se organizar nos Grupos que dariam origem aos “Panteras Negras”.

Esta transformação das ditas "diferenças" em "mercados" é uma das principais ferramentas de objetificação de agrupamentos de indivíduos com características distintas do padrão aceitável burguês e, igualmente, uma importante ferramenta de cooptação e "fagocitose" destes setores, outrora oprimidos e atacados. Vende-se, então, a ideia de que, para garantir-lhes espaço na sociedade, é necessário atender-lhes aos seus interesses, cujas fontes de referência são os numerosos estereótipos pré-estabelecidos, realizando, assim, um duplo objetivo aos capitalistas: A transformação dos setores oprimidos e marginalizados em números objetivos e fonte de consumo para determinados ramos da produção e a cooptação destes setores e "amortecimento" dos conflitos sociais, estes gerados pela própria ideologia capitalista que, naturalmente, por dentro de uma sociedade de opressão e exploração, não deixarão de existir. 

O resultado é o esperado e constatado em relação a muitas comunidades historicamente oprimidas, ou seja, seu isolamento em guetos constantemente discriminados e atacados, elemento extremamente desejável pelos capítalistas pois divide a calsse trabalhadora dentro dela própria, com heterossexuais discriminando homossexuais, etc; a cooptação de milhões destes oprimidos ao projeto de sua realização no consumismo e na obtenção dos bens e posições ideologicamente vendidos e, em momentos de agudização das tensões sociais; a retomada de uma escalada de violência e ataques àqueles que representam o "indesejável" e não mais podem ser "toleráveis"- existe termo mais ideologicamente reacionário e cínico do que este?- na sociedade.

Recentemente, vimos reportagens que nos colocam os números da barbárie cotidiana relegada aos GLBT's e que nos evidenciavam espancamentos cotidianos de jovens que moram nos morros dos Rio de janeiro. Da mesma forma, centenas de mortes continuam ocorrendo todos os anos e o número de espancamentos, só na região da avenida Paulista se mantém em níveis estratosféricos. No mesmo sentido, a bancada evangélica organiza milhares de pessoas em marchas contra os direitos GLBT's e propagam, ao lado dos adeptos- assumidos- da ideologia da ditadura militar e da extrema direita, o ódio e a morte aos gays, lésbicas e todos os de orientação não heterossexual, pelo bem da Família, da Ordem e da Propriedade Privada. Neste cenário, até mesmo os grandes avanços, como a recém aprovada União estável, perdem completamente seu brilho, frente à reacionária PROIBIÇÃO de homossexuais doarem sangue e o veto Homofóbico, perpetrado por Dilma, ao Kit-Anti-homofobia. Nos termos mais populares e simples possíveis, fica a pergunta: "De que merda de integração dos GLBT os marketeiros e cães do capitalismo de plantão estão falando?"

De volta a Stonewall (Por isso lutamos) e a liberdade de SER

A revolta de Stonewall, como ficou conhecida, foi um processo de resistência e confrontos ocorrido em Nova York, em 1969, como resposta aos corriqueiros ataques, prisões, espancamentos e prisões arbitrárias que ocorriam na região da cidade conhecida como Greenwich Village. Após o que seria "mais uma batida cotidiana policial" os moradores homossexuais, travestis e moradores de rua que residiam na região e se encontravam no Bar Stonewall, decidiram se levantar e reagiram, desta vez nos mesmos termos, aquele ataque cotidiano. Prenderam os policiais e provocadores dentro do Bar na primeira noite, enfrentaram-se com as tropas de choque detrás de barricadas por semanas lado a lado de artistas, jovens, trabalhadores e militantes negros que já haviam combatido a polícia nas manifestações anti-guerra e, sendo assim, deram passos decisivos na autodeterminação de seus destinos, aglutinando milhares ao seu lado.

O processo de Stonewall, no qual se desenvolveu uma auto-organização interessantíssima contra a repressão e sua segregação, foi o berço de formação de organizações de luta pelos direitos do que chamamos hoje de GLBT, organizações estas que passaram a retratar as mazelas e a opressão cotidiana e a, até mesmo, organizar ações de enfrentamento tático contra a repressão que ainda perdurava em nome do Esquadrão de Moral Pública da época, que, em numerosos Países tem numerosos nomes com o mesmo intuito, proibir, reprimir e, quando possível assassinar. Este exemplo, não poderia deixar de ser lembrado e, dele, não podemos deixar de buscar lições.

Obviamente que não propagamos aqui a condenação em relação a qualquer aspecto dos "estereótipos ideais" que criticamos. Os exaltamos para evidenciar o quão simplista e formatador é o movimento da ideologia burguesa a serviço dos interesses do capitalismo que transforma o indivíduo, cujas potencialidades são enormes e tendem ao infinito, em elementos formatados, rígidos, secos, limitados e reprimidos em todos os níveis, sobretudo pelos padrões machistas, homofóbicos e racistas que fundamentam esta ideologia.

Os lutadores de Stonewal diziam :  
"times were a-changin'. Tuesday night was the last night for bullshit.... Predominantly, the theme (w)as, "this shit has got to stop!"Participante anonimo. Ou seja, esta merda tem de parar. Em inglês, inspirador. 
A opressão e "guetorização" dos GLBTT's tem de terminar e, mesmo com o brilhante e inspirador exemplo de Stonewall, sabemos que ainda demos pouquíssimos passos no sentido de avançar para sua "liberação", sobretudo, porque sabemos que estas tarefas envolvem, como buscamos demonstrar, um questionamento mais profundo da sociedade de classes na qual estamos.

Apenas questionando os estereótipos, os "dever-ser", a dinâmica de apropriação de um lado e de segregação de outro estabelecida pelo capitalismo em relação aos "indesejáveis"; somente buscando construir uma sociedade que se livre de todo o culto à aparência e busque a essência; somente construindo escrupulosamente uma sociedade cuja produção esteja a serviço das necessidades da maioria da população e não do lucro de uma fração ultra-minoritária da sociedade, os capitalistas; somente construindo, hoje, no pequeno, polegada por polegada, uma Contra-moral, uma legítima moral revolucionária, que se paute pela Liberdade Sexual completa; somente construindo uma sociedade que se paute por uma moral que não se pauta na auto-repressão, no auto-flagelo, na discriminação, na segregação, mas sim na completa autodeterminação pensada e organizada coletivamente; somente assim, refletindo e construindo tudo isto e muito mais, é que avançaremos na perspectiva da superação de nossa opressão, seja qual for.
O capitalismo merece e PRECISA perecer


 O capitalismo é um sistema econômico e social Podre e decrépito, baseado na exploração, na mentira e na transformação das massas em objetos de uma ínfima minoria. A ideologia Burguesa teve muito esforço em caracterizar a doutrina marxista, no que diz respeito ao que prega acerca do desenvolvimento do individuo e acerca das questões cotidianas e "morais", como um sistema de idéias que pregava o Rígido, estreito e o castrador. Não é difícil lembrar da propaganda anti-comunista que colocava lado a lado milhares, com fardas verdes, pastas de dentes iguais, vivendo em ocas gigantes e completamente alienados.

Na realidade, é nesta inverdade que se evidencia o principal medo e este é o recurso ideológico mais desesperado e de apelo ao velho que a burguesia internacional lança mão. Hoje, milhões passam fome enquanto bilhões de alimentos são queimados todos os dias. Igualmente, bilhões estão relegados ao desemprego e observam a face cruel de suas mortes sem perspectiva. Milhares e milhares de recursos, terras e bens nas mãos de pouquíssimos capitalistas e bilhões de desalojados, desabrigados, desprovidos de terra, moradores de Rua, etc. As idéias, os costumes, os valores, o aceitável é um padrão que se vende em lojas e homogeniza as intenções e os desejos- ou a repressão destes-...

Lutamos pela liberação desta lógica de opressão. Pelo fim desta sociedade e por uma cuja produção esteja a serviço de produzir e garantir, sejam remédios, alimentos, casas, transportes, etc e etc, a maioria da população conforme precisem. Somos pela transformação desta ideologia castradora e pela completa liberdade sexual, pela libertação da produção artística, pelo livre desenvolvimento da individualidade de cada um, dentro de uma sociedade dirigida CONSCIENTEMENTE e coletivamente.

Digam-nos: O que lhes soa mais castrador e arcaico? O que a sociedade capitalista tem a nos oferecer?

STONEWALL e o exemplo de seus lutadores, se organizando de modo independente e se aliando aos setores de jovens e trabalhadores negros, das periferias, contra os patrões e capitalistas castradores representados pela Polícia, nos indicam um caminho diferente do "PINK MONEY", da "integração burguesa" e de toda a opressão que nos reservam os espectros do velho.

AVANTE!

sexta-feira, 15 de julho de 2011

AS “GUEI” DESPOLITIZADAS, E O PRECONCEITO INVIZIBILIZADO.


Tim Maia já dizia “Este país não pode dar certo. Aqui prostitua se apaixona, cafetão tem ciúme, traficante se vicia, e pobre é de direita”.

Não é curioso, como de modo geral, uma grande minoria (que paradoxo!), se revela tão pouco conhecedora de suas próprias causas? Já notaram negros fazendo piadas de negros, gordos, fazendo piadas de gordos, e loiras fazendo piadas de loiras? Estranho não é? Não seria estranho, se pensarmos que a melhor forma de fugir do preconceito, é transformá-lo numa grande piada. E nesse tom amistoso e simpático, transformar o cruel preconceito, em práticas veladas e invizibilizadas, de forma que estatisticamente falando, ele não exista. Alguns insistem em acreditar, que o preconceito foi enterrado sem chances de ressuscitar. Fazer parte de uma minoria é claramente à condição menos vantajosa que qualquer pessoa pode viver, mas ser minoria sob a ditadura da maioria ainda pode ser considerado a pior de todas as condições que uma pessoa pode ser submetida. Padrões de normalidade, convenções e paradigmas são as justificativas mais usadas para manter o poder de decisão nas mãos da maioria. Mas eis que a maioria, ainda não conseguiu entender, que só é maioria, por que não passam de uma massa acéfala e manobrada pelos muito bem politizados defensores, de uma família que não existe mais, de uma moral que não existe mais, de uma ideologia dominante, sob toda uma classe. Quando dentro de uma mesma classe vitima de preconceito existe uma manipulação de poder, e diferenças naturais entre si, a organização se torna um eterno e infrutífero debate, que nunca chega à fase de execução. Os negros tiveram uma vantagem nessa luta, negros não se escondem em armários, e pintar-se de branco, ia dar bandeira, então, por não ter onde se esconder, o jeito foi encarar a briga de frente. Enquanto o gueto for gueto, enquanto o gueto não tomar sua posição, não tiver opinião, e estiver mais preocupado com o mega hair e os cílios postiços, o ultimo álbum da Lady Gaga, ou como vai se produzir para a balada do final de semana, o gueto permanecerá gueto. Enquanto estiverem confortáveis em seus armários sórdidos, fazendo piadas de si mesmo, tendo medo de si mesmo, e dando desculpa a leveza e o humor da vida, que não pode se perder, uma minoria ainda menor sem sua ajuda, luta pelos seus direitos de ser livre. Enquanto te dizem que esta fora dos padrões de normalidade, você cria um preconceito de si mesmo, corre de si mesmo, e prefere acreditar que é tão normal quanto os outros da “maioria”, mas você não sabe, que normalidade, ou normas, são imposições extrínsecas, da própria maioria, na intenção de igualdade, inibe as diferentes individualidades. Normalidade e naturalidade são duas coisas distintas, isso deveria ser dito e compreendido, todos nós podemos seguir normas, basta querer, você pode ser normal, mesmo desejando internamente ser justamente o contrário. Mas por que ser algoz de si mesmo? Ser negro, por exemplo, é natural, se alguém diz que não é normal, ou que as normas impostas não permitem a negritude, o que há de se fazer? Tudo vai depender das normas criadas pelos homens da maioria, por que normas são leis, tem pena, tem julgamento, e isso é um modo como a sociedade encontrou para se organizar. Se nós não compreendermos os interesses que movem a sociedade, se não tomarmos consciência de nossa classe, se não tomarmos partido, se não sairmos de cima do muro, ou de dentro do armário, se não freqüentarmos a escola, as rodas de debate, se não lermos sobre o assunto, se ficarmos na inércia, esperando que os outros façam por nós, ou achando que votar, é fazer a sua parte, o resto fica a cargo de quem você votou, enquanto suas preocupações forem o teu umbigo, o que não tem nada a ver com política, enquanto política for algo que você odeia, os meus direitos vão correr um sério risco, de serem engolidos pela falsa maioria, e seus padrões de normalidade, suas tradições e convenções, seus paradigmas, e o preconceito invisível que nos cerca, tão dentro do armário quanto os cérebros de cebola que nos representam. É preciso ASSUMIR para si a responsabilidade e a seriedade necessária, antes que as normas invisíveis nos condenem ao silêncio eterno, e nos transformem em piadas, estereótipos, e personagens fictícios de novela de horário nobre.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

O EMPIRISMO DA AMIZADE


Sobre qual a maior forma de entender a importância e o tamanho do conhecimento adquirido, é identificá-lo, de acordo com todas as experiências vividas, experimentadas, postas em prática, seja no âmbito da objetividade, ou da mera subjetividade, já que alguns a desprezam, com tanto ardor, neste mundo gerido a provas cientificas numa extremidade, e sandices religiosas em torno de uma fé maniqueísta noutra. Eu, que não sou pesquisador da amizade, menos ainda das relações interpessoais, reconheço que seria ousado dizer alguns pensamentos meus sobre esta dúbia temática, mas ousado, sei que sou, e no campo do empirismo, e das práticas, qualquer um, pode vomitar seus conhecimentos hermenêuticos, publicáveis ou não, nas redes sociais virtuais, ou mesmo reais, sendo ambas as redes tão entrelaçadas como são.
Não sei bem ao certo por que escrevo sobre amizade, sinto que tem relação com uma mistura de saber empírico, com uma não compreensão das entrelinhas. E talvez por não compreender a fundo como se dão estas relações na sua radicalidade, me pergunto e me surpreendo com as várias interpretações que acometem minhas próprias relações. Com as experiências vividas constatei dois tipos de amizades significativas no que tange os conflitos e as contradições imanentes as relações fraternais, a amizade coletiva, e a amizade individual compartilhada.
Amizade coletiva, em suma, diz respeito a relações que se mantém de modo interdependente entre mais de duas pessoas, três, quatro, ou até um grupo maior de amigos, que trazem em comum justamente as ligações criadas em função do grupo, e que não possuem independência ou individualidade, ou seja, neste caso, a amizade esta consolidada em uma convivência também coletiva, não permite continuidade para além de situações que se prendam nos assuntos comungados entres os integrantes deste modelo de amizade. Normalmente, neste caso, você liga para fulano e sicrano, que só sai contigo se beltrano também for. O grupo de amizade coletiva se mantém de modo situacional sem todos os integrantes, mas não de modo permanente. Conflitos gerados isoladamente podem refletir na continuidade dos laços, visto que a interdependência sujeita-se a todas as situações advindas deste modelo de amizade. Não se pode considerar este modelo de amizade, superficial, ou falsa, mas pode-se caracterizá-la enquanto frágil, por depender de muitos fatores externos, e vários temperamentos atuando sob uma mesma relação. A amizade coletiva, também pode ser vitimada pela própria amizade individual, que é responsável direta pela dicotomização de amizades coletivas.
A amizade individual se refere a outro tipo de relação, que se baseia em pilares um tanto mais profundos e estáveis. Porém não menos intensa nos conflitos, cheia de cobranças, ciúmes e possessividade. A amizade individual normalmente é mais duradoura, não depende da interferência nem da presença de terceiros. É movida pelo mais alto grau de sinceridade e cautela, tem base no companheirismo, tanto nos momentos de alegria, quanto nos de tristeza, diferente das amizades coletivas, que na maioria das vezes lhe causa uma sensação de vazio, e dá a impressão de solidão meio a multidão. Uma amizade individual só existe por que ambas as partes compartilham de preferências semelhantes, ideologias, visão de mundo, e características que se encaixam, são pessoas que podem ficar dias conversando, sobre um mundo de coisas sem o tédio, sem a obrigação, sem medo de o assunto acabar. Ou mesmo, são capazes de permanecerem no silêncio por varias horas, quando olhares falam por si sós. Amizade individual tem a vantagem de ser única, e representar um laço mais difícil de ser desatado. Mas não significa eternidade, também sofre seus desgastes, com menos interferências externas, e mais internas, produzidas da própria relação.
As amizades coletivas e individuais interferem uma na outra, por uma amizade coletiva, caracterizada pelos momentos divertidos e leves, pode ocorrer um distanciamento egoísta das amizades individuais, uma fuga da estabilidade, e também a amizade individual pode te deixar dividido entre os mundos distintos que se criam, e a impossibilidade destes caminharem juntos.
No fim das contas, entendemos tão pouco de tudo isso que rodeia as amizades, no fim, de empírico mesmo, só a solidão, por opção ou não, tão mais palpável que qualquer expectativa em outrem. Não é discurso derrotista, nem de vitima, são apenas constatações das vivencias e dos experimentos. E tudo isso só revela, que a amizade é um mal necessário, seja lá qual for o modelo, ninguém vive sem, mesmo que para isso, tenha que imaginá-la, ou inventá-la.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

A "Brogodó" não é ficção.

Como lidar com uma sociedade civil decrépita e imersa em seus dogmatismos mais nojentos, quando esta se baseia na velha escola, no coronelismo dos sertões, mas sem os heróis do cangaço? Como dormir e acordar todos os dias sendo individuo humano do polegar opositor, com raciocínio lógico diferente dos animais irracionais no país do fundamentalismo religioso, das piadas congressistas, da política do “uma mão lava a outra”, e das chantagens absurdas que ninguém mais faz questão de esconder? Como lutar contra o aval a intolerância e corrupção de uma sociedade sem escrúpulos, egoísta, traiçoeira e covarde, que não admite seus preconceitos, e é capaz de matar em nome de um Deus, e nem se quer levam a sério os dez mandamentos sagrados de sua religião? Como não se decepcionar diariamente com uma sociedade tão vazia de sensatez, de tato, de dignidade, de humanidade, de igualdade?
Essa gente prefere as crianças mortas, acuadas, vilipendiadas, apontadas e condenadas nas escolas, nas ruas, e em suas próprias casas, em nome de um Deus sem educação, sem amor, sem compaixão, sem verdade. Estamos à mercê do Deus do cinismo, da covardia, da violência, da miséria humana. É o Deus às avessas. Que Deus é esse que eu nunca conheci? Mas ouvi falar, que em seu nome, muito sangue foi derramado em vão, muitos inocentes morreram, por mero capricho do coronelismo, da burguesia, do erudito, da alta sociedade, das diferenças.
Hoje eu estou insuportavelmente indignado, de dividir o mesmo espaço que os deputados que votaram a favor da nova emenda do código florestal, e de dividir o mesmo espaço que uma penca de deputados que fazem manha como se fossem bebês, com chantagens absurdamente inaceitáveis para um ambiente pautado na ética e no respeito a população. Mas oras, isso seria pedir demais não é mesmo? Ética de deputados? Não seria não! Isso é o mínimo que deveríamos exigir, mas onde nós temos voz nesse país de araque? No twitter disputando espaço com a sociedade civil despolitizada, encalacrada em suas verdades imutáveis, em seus paradigmas insossos e nauseantes? Deixa-me perplexo que nesse amontoado de trogloditas que habitam este país que mais parece com a cidadezinha fictícia da novela das seis chamada “Brogodó”, não tenha um rei do cangaço, que faça com as próprias mãos a justiça verdadeira, se assim não for, morrem somente os inocentes, vitimados pela violência fruto dos nossos algozes suplantados no governo, com o aval da própria sociedade que sofre as dores do parto da CNBB, do Jair Bolsonaro, do Palocci, do Sarney, Aldo Rebelo, e uma lista enorme de descerebrados que representam outros tantos, “Brogodó” a fora, digo, Brasil a fora. CHEGA! COMCLAMO O CAPITÃO HERCULANO PARA DAR FIM A ESSE CONGRESSO DE MERDA!

quarta-feira, 18 de maio de 2011

AS REDES SOCIAIS VIRTUAIS E AS TÁTICAS NEOLIBERAIS: HASHTAGS, UM NOVO MOVIMENTO ORGANIZADO.




Por Rodrigo Eduardo 

Entenda-se por redes sociais virtuais todas as redes que preconizam relações interpessoais que se dinamizam num plano fundido pela realidade e pela subjetividade, que ora representam a realidade, ora representam uma idéia de realidade a qual fazemos em detrimento de abstrações acerca do ser humano, enquanto ser individual, e ser coletivo. Dentre as necessidades de inter relação, entre os homens, bem como as relações entre todos os seres vivos nos atentamos as relações que buscam um reconhecimento e uma identificação dentro de uma cultura, e um seguimento social, recorrendo por tanto, as contradições imanentes ao modelo de sociedade a qual as redes sociais virtuais estão inseridas, a sociedade capitalista.
Neste sentido, considerar as relações destas redes sociais virtuais com o modelo de sociedade capitalista, e seus sentidos de livre comércio, exploração da natureza, desenvolvimento de tecnologias, fragmentação das relações, valorização dos sentidos de competição, e produção de mais valia, nos indica um patamar de desarmonia eloqüente, que se interpela sob os aspectos disseminados pela ideologia neoliberal, e pela comoção da burguesia frente a todo e qualquer tipo de instrumento advindo da construção histórica do homem e do seu modo de produção. Nestes meandros, sabendo que este instrumento de lazer da sociedade moderna, ainda que não seja uma exclusividade para a atuação do profissional de Educação Física, trata da ocupação do tempo livre do homem, e, por conseguinte da classe trabalhadora, no sentido da formação em construção, desde a infância, juventude e fase adulta.
Assim, pode-se levar em consideração também o desenvolvimento das forças produtivas, e os avanços tecnológicos, bem como a influência dos meios de comunicação no processo de relações humanas, que indiretamente fazem menção aos meios de comunicação de caráter virtual, como Facebook, Orkut, Twitter, Web Mensenger, entre outros. E neste sentido algumas inquietações emergiram a respeito da temática, como por exemplo: Como esses meios virtuais de relações humanas podem se transformar em instrumentos a favor da manutenção da ordem social capitalista? Esse novo modelo de relações interpessoais pode ser considerado instrumento desarticulador da classe trabalhadora? Existem possibilidades educacionais para esses instrumentos enquanto forma de resistência a ideologia dominante?
Essas inquietações se dão no âmbito de uma sociedade marcada pela inclusão digital, pelo acesso livre aos meios de comunicação, inclusive da classe menos abastada, no que sugere uma forma de ocupação do tempo livre destes, bem como, as atividades de recreação, lazer, que são consumidas de modo a retratar as condições materiais, reproduzindo a divisão de classes e do trabalho, aspecto inerente ao modo de produção capitalista. Assim, estes instrumentos de comunicação são capazes de proporcionar a falsa sensação de liberdade, e a falsa sensação de inserção social, de modo que na maioria das vezes sugere uma fuga da realidade solitária do individuo que se sujeita a jornadas de trabalho ainda intensas, ou mesmo a indivíduos com dificuldades de se relacionar socialmente. Desta forma uma espécie de perfil virtual é criado, representando ou não um determinado sujeito social, que se abstém em grande parte de momentos de contato fora do meio virtual, assim podendo se distanciar dos movimentos de sua própria classe.
Há muito tempo os movimentos sociais tiveram seu auge com a juventude revolucionária ocupando as ruas, movimentando-se em prol de seus ideais. Coerentes ou não, existia o tal movimento histórico capaz de mudar a realidade concreta, o fora Collor é um exemplo clássico destes movimentos.
Com o passar dos anos, e essência destes movimentos estudantis se enfraqueceu de modo geral. A juventude perdeu a capacidade de discutir assuntos relevantes para a sociedade, e perderam o ímpeto revolucionário, sucumbindo-se ao derradeiro jeito conformista de ser, despreocupado com as questões políticas e sociais, e quando preocupados, incapazes de se organizar coletivamente.

Esta situação vem se modificando nos últimos tempos, isso me remete ao modo como Milton Santos no filme “Encontro com Milton Santos ou O Mundo Global Visto do Lado de Cá” tratava e explicava as fases da globalização, e o uso dos recursos midiáticos e das tecnologias mais acessíveis em prol dos grupos marginalizados, favelados, ou grupos minoritários, como os negros, os gays, entre outros.
É claro que esse movimento parte de uma sociedade pseudo  democrática, que permite opiniões e movimentos contrários, levando o cinismo do preconceito ignorante, e os próprios detentores do poder repressivo, podem movimentar-se neste embate. No Twitter as mais famosas hashtags ficam visíveis para todos os internautas, e representam os assuntos mais comentados, independente de serem comentários contra ou a favor. Uma minoria que vem ocupando veementemente este espaço, são da classe GLBTT, e pondo hashtags como #ForaBolsonaro que remete ao Deputado homofóbico que vai contra as leis que favorecem os homossexuais, utilizando-se de argumentos religiosos, e pautado no modelo de família cristã, e em recortes da bíblia sagrada, bem como em sua ignorância em relação aos assuntos que permeiam os reais motivos de alguém ser homossexual. Outra hashtags que perdurou por um bom tempo entre os primeiros, segue o mesmo tema, e trata da #uniãohomoafetiva, e foi muito discutido no dia em que o STF – Supremo Tribunal Federal levou para votação a legalização da união estável entre pessoas do mesmo sexo, sem distinções, com os casais heterossexuais. Na seqüência tivemos o #diacontrahomofobia e a #marchacontrahomofobia , o que mostra que o assunto esta realmente em pauta, independente das opiniões geradas a respeito do tema. Assim sendo, nota-se ao ler os comentários que em grande parte há uma avalanche de pessoas compactuando com este movimento que mais do que valorizar uma minoria especifica, tem a ver com a valorização e o respeito entre os seres humanos de modo geral, respeitando toda e qualquer diferença, seja física, social, política ou a sexual, que é a que esta em questão. Daí que partem os comentários muitas vezes contra este tipo de movimento, por alegarem ter no país uma série de outros problemas que seriam muito mais relevantes e mereceriam muito mais atenção por parte da sociedade civil, como a educação, a corrupção e a violência, mas o que é a #marchacontrahomofobia se não um movimento organizado justamente contra os políticos que não valorizam o respeito às classes minoritárias, e que usam de cargos públicos para se beneficiarem? O que é a #marchacontrahomofobia se não um momento de tornar a sociedade menos ignorante e mais educada em relação a um assunto que mesmo que indiretamente lhe diz respeito, vide os programas contra homofobia nas escolas? O que é a #marchacontrahomofobia se não um ato em repudio a violência contra as minorias, todas elas, não só os gays, mas os negros, as mulheres, as crianças, aos marginalizados socialmente? Enfim, este microcosmo chamado rede virtual social, ganhou tais características, que lhe fazem transcender para o macro social, ou melhor ainda, incita as discussões que antes estavam mortificadas em universidades, entre pessoas de senso comum, que por mais leigas que sejam, vão ter a oportunidade de não estarem somente a mercê dos dogmas pastoreiros das igrejas ungidas em cristo, e da mídia manipuladora, abrindo-se um espaço gigantesco para pagar os efeitos da globalização com a mesma moeda.

As redes sociais virtuais tornaram-se hoje um meio de organização social que permite reinvidicar mesmo que simbolicamente os direitos destas minorias, ou ainda divulgar indignação contra qualquer tipo de injustiça gerada no meio social. Tudo isso pode acontecer por meio de postagens de vídeos, textos em Blogs, frases no Twitter, ou até chamadas ao protesto real, ao vivo por intermédio do Facebook. Virou noticia nos jornais de televisão a organização dos internautas contra o aumento abusivo do combustível em alguns pontos do país. Os internautas por meio de uma ferramenta do Facebook agendaram um evento em forma de manifestação de modo bem organizado e pré - estabelecido.  A idéia era marcar um encontro em algum posto especifico e abastecer a 50 centavos, pedir nota fiscal, e pagar ou com uma nota de 50 reais ou no cartão, o que dificultaria muito a vida dos funcionários e dos donos dos estabelecimentos. Isso tudo quer dizer que o movimento social partiu de um primeiro movimento social virtual.



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