O par. A metade. A ilusão. Não tenho medo de esfregar isso na minha própria cara, pois sei bem, nem todos viverão uma grande história e nem todas as grandes histórias são tão grandes assim, digo isso, não com grande conhecimento de causa, mesmo por que, quem sou eu para entender de grandes histórias, se nem ao menos vivo uma. Não por falta de vontade, talvez até tenha tido oportunidades, contudo, vale lembrar, que grandes histórias, só acontecem de verdade, quando ouvimos tempos depois, e desconsideramos a bela porcaria que a tal história foi.
Eu já pensei em ser bonito, tentar ser mais simpático, sociável talvez, tudo por uma história, e tudo que consigo escrever, não passam de algumas linhas desconexas, desarticuladas, desprovidas de realidade, letras que fincam raízes em meras ilusões.
Nenhuma grande história começa como a minha, ou como várias a fora, que se fazem sem protagonistas, história bonita tem gente de atitude, tem gente que fala bonito a todo o momento, sempre com um ótimo conselho. Grandes histórias, ou tem gente muito bonita, ou muito feia, ou tem gente imensamente feliz, ou tão no fundo do poço, que o compadecimento do leitor, aquele que lê e re-lê aumenta o ibope. Ser normal, é um sacrilégio para grandes histórias, não faz nenhum sentido ser normal, e talvez essa tenha sido a pedra no sapato, ser comum demais. Soma-se esse ar comum, com essa cara de nada, e temos como resultado um mero figurante da vida dos outros. Claro que os protagonistas, generosos e impecáveis como só eles são, dirão: “Faça sua própria história, todos somos capazes”, imensamente fácil vomitar otimismo com todos os holofotes voltados para si mesmos. Alguns confundem as minhas reivindicações, me depreciam como se o meu querer, fosse justamente o contrário de toda a humanidade, como se eu com meu coração amargurado quisesse o fim de todas as grandes histórias, o que me lembra aos “achismos” sobre o comunismo e socialismo serem um conjunto de pessoas querendo dividir a pobreza. Acordem meus caros, o que querem os socialistas é a divisão das riquezas, e o que eu quero, é a divisão da felicidade. Posso eu viver grandes histórias também? Claro, não depende de vontade, tem a ver com ousar ser, e eu definitivamente não fui, até agora, eu não fui. E ser, eu sei, é tão fundamental. Entretanto ser, é desconstruir tudo aquilo que eu sou, e nada mais que isso.
Particularmente, viver uma grande história sempre esteve nos meus planos, até que a cada ilusão de que isso seria possível, tive que me deparar com a realidade, do eu, dos outros, dos fatos. Toda laranja tem a sua metade, e eu no meu estado de loucura vejo isso por todos os lados, nas ruas, nos parques, nos shoppings, no trabalho, os pares tomam conta, e no alto da minha insanidade, me percebo podre, isso mesmo, uma metadinha pequenina, e podre, sem par. Não entendam mal, é uma laranja podre, às vezes saboreada, por motivos diversos. O fato é que não tem par para fruta podre, tenta um encaixe daqui, um encaixe dali, topa com umas frutas proibidas, mas são só frutas, se chupam, se espremem, viram bagaço, e continua podre e sem a metade, aquela que até as laranjas mais solitárias, tem.
Não é nada fácil perceber que sempre falta alguma coisa, é a partida que nunca sai da estação, o destino que nunca chega, é como a areia que corre entre os dedos, cada um com seu mundo, com seu jeito de ser, laranjas lindas por assim dizer, outras tão agradáveis de falar, outras parecem que nasceram para você, e quando você se abre, laranja podre, desencaixam, desiludem, e uma outra tampa sã, te toma o lugar num piscar de olhos, e você nem sabe ao certo como isso aconteceu.
É como um fruto que não sabe de que pé caiu, sem origem, vê-se sem rumo, perdido entre as folhas secas, acaba virando adubo para que novos frutos, mais doces, mais viçosos, e já com tampas, amadureçam, cresçam, e se divirtam pomar a fora. Irônico, nunca ser colhido, estando ali tão próximo da sanidade das outras laranjas, aquelas que se aproximam como quem não quer nada, e querem tantas coisas. Tanto que às vezes de fruto, me transformo em árvores, que é para deixar que subam, escalem, façam a ponte, me sinto sinceramente usurpado, como já fui outras ocasiões. Não sei se me acostumo, se mesmo podre resisto, se finjo ser uma laranja podre feliz. É o que todos querem, não é mesmo? Claro, sou eu meu próprio algoz. Estúpido, infértil, sem história alguma pra contar. Laranja podre querendo ser salada de frutas, não é natural, não é normal, só comum. E ser comum, não faz uma grande história.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Pedras na janela