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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Radiohead - All I Need (Official MTV Video)

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

CREF’s, CONFEF’s E OUTROS ÉFES


Por Rodrigo Eduardo dos Santos - Graduado em Educação Física pela Universidade Estadual de Maringá - UEM.
No país das leis, resoluções e diretrizes, onde nosso condado fechado se constitui de núcleos dinásticos, onde reis não andam de carruagem, usam seus carros importados, onde não se usam coroas, mas andam cravejados de diamantes até os dentes, onde não se tem mais vassalos, mas exploram a força de trabalho dos acéfalos, desprovidos de piedade divina, onde não se vêem mais feudos, mas grandes propriedades privadas, vigoram por si só as regras já estabelecidas antes mesmo que eu aprendesse a falar, e seguem adiante com os paradigmas ou paradogmas, que nos ensinam inconscientemente qual o nosso papel dentro desse esquema fechado de contatos, indicações, subornos, e auto beneficiações, que permeiam a classe mais abastada, mais esperta, mais sorrateira, capaz de criar uma estrutura, que para alguns não passa de uma paranóia comunista. Sem conjecturas sobre uma possível teoria da conspiração, me apego a fatos que confluíram de modo a parecer natural a olhos nus, no que tange nos permitir seguir as normas enquanto indivíduos ordeiros e submissos, aos bons olhos de nosso querido positivista Auguste Comte, numa concepção de sociedade orgânica, funcionando como um corpo humano, com organismos que se encarregam por si só de darem um rumo perfeito ao destino já traçado. Em síntese, cada peça desse tabuleiro chamado de sociedade, esta ocupando o seu devido lugar para o funcionamento harmonioso, ou seja, é necessária a existência dos pobres, e dos ricos, e das diferenças de classe, é necessária a existência de profissionais analfabetos e ignorantes que se submetam a serviços degradantes que ricos esclarecidos não estão dispostos a fazer, e é necessária também a existência de uma classe média torpe e soberba para tornar ainda mais fragmentada a classe que se submete aos desígnios da “sociedade perfeita”.
Nesses meandros, desse condado lastimável em que traçamos esse destino sem glamour, e sem a magia das histórias épicas que permeiam o mercado cinematográfico, como se nossas vidas fossem filmes com roteiro e direção, surgem em meio à organização social, microcosmos que se espelham na organização maior. A organização do trabalho, por exemplo, segue de forma bem fundamentada nessa divisão pedante das funções sociais dos indivíduos, perante aos paradigmas da sociedade que se construíram baseados nos interesses pelo poder, que consiste em posse de terras e suas riquezas naturais, e, por conseguinte, posse dos instrumentos de trabalho e das tecnologias criadas com a própria força de trabalho.
O proletariado é a única classe da sociedade capitalista que produz o “conteúdo material da riqueza”, que “produz” o “capital”, pois é ela a única classe que exerce a função social de converter a natureza em meios de produção e de subsistência. Ela é, na sociedade capitalista, a única classe cujo “trabalho produtivo” “produz” não apenas mais-valia, mas também “capital”, que produz originalmente toda a riqueza social, o “capital social total”. (LESSA, 2007.P.179)

            Diante das funções sociais supracitadas, chegamos a mais um impasse, no que diz respeito à outra fragmentação que se ramifica em um tipo de trabalho distinto deste, que pressupõe a produção direta das mercadorias, e da mais-valia. Este outro ramo se constitui de indivíduos com funções sociais que não produzem diretamente as mercadorias, porém vivem das riquezas produzidas originalmente da classe proletariada. Tem-se como exemplo, os professores que se enquadram terminologicamente na classe dos assalariados, estes, por sua vez, não produzem em grande parte mercadorias de forma direta, são responsáveis por certos tipos de serviços prestados, e sobrevivem indiretamente da riqueza material produzida pelos proletários.
Os setores assalariados não-proletários, por terem na riqueza que a burguesia expropria dos proletários a fonte da sua propriedade privada e dos seus salários, possuem também uma forte ligação com a manutenção do capitalismo. Essa ligação com a ordem do capital, se expressa não apenas em sua posição social mais elevada, não apenas na vida de “privilégios” da vida de explorados não-proletários se comparada com o cotidiano proletário, mas também em seu apego à propriedade privada sempre que esta foi ameaçada pela luta de classe. Em linhas gerais, são personificações da oposição “como inimigos” do trabalho manual e do trabalho intelectual e expressam, enquanto mediações da produção e da realização da mais-valia, as próprias exigências da reprodução ampliada do capital. Os assalariados não-proletários possuem, portanto, identidades e contradições tanto com a burguesia como com o proletariado. Tais identidades e contradições dos setores assalariados não-proletários decorrem na sua inserção na estrutura produtiva. Sua função social, de um modo geral, é auxiliar na reprodução das relações sociais burguesas e, neste preciso sentido, tais setores atuam predominantemente como força auxiliar na produção de capital. Contudo, a ampliação a ampliação das relações capitalistas a todos os poros da sociedade faz com que, de forma crescente, as profissões ditas liberais sejam convertidas em fonte de lucro – sejam incorporadas a valorização do capital, transformando advogados, médicos, professores de educação física, etc. em trabalhadores assalariados. Esta tendência marcante do desenvolvimento capitalista contemporâneo faz com que aumentem as contradições reais, materiais, destes profissionais para com a burguesia. Contradições estas qualitativamente distintas das do proletariado, mas nem por isso pouco importantes para o processo histórico. (LESSA, 2007.P.181)

Não obstante as funções sociais que regularizam o mundo do trabalho, que espero estejam claras, se dicotomizam em reflexo as divisões sociais do mesmo, e nesses meandros que surgem à meia luz, os estúpidos e aclamados conselhos para as mais diversas áreas de conhecimento, ou profissões. OAB- Ordem dos Advogados do Brasil, CRC- Conselho Regional de Contabilidade, CRQ- Conselho Regional de Química, CREA- Conselho Regional de Engenharia, entre outros, e por hora o fajuto e conveniente CREF – Conselho Regional de Educação Física, do qual por motivos óbvios vem sendo motivo de muita discussão dentro do âmbito acadêmico, dividindo opiniões, e como sempre fragmentando ou ramificando uma profissão única, em duas graduações, dois grupos distintos que duelam a olhos vistos as vagas do mercado de trabalho, que como eu já disse no misterioso condado da Família Barros, Richa, e outros Reis conservadores, são vagas ocupadas não por mérito, nem por competência, pelo contrário, em sua grande maioria faz parte de um patético ritual de passagem de coroa, ou de trono, seja como preferiram. E é justamente neste aspecto hostil de divisões desiguais de oportunidades que os jovens, futuros professores de Educação Física estão entrando de gaiato, se perdendo num mar de informações contraditórias. A divisão curricular, não dividiu um curso em duas habilitações somente, dividiu pessoas, dividiu o Departamento de Educação Física da UEM, dividiram os professores, precarizaram o trabalho dos mesmos, e precarizaram a formação dos estudantes que em grande parte se encontram alheios ao que é verdade ou mentira nas leis, resoluções e diretrizes que regularizam vergonhosamente a nossa profissão, que por sinal, faz jus, a professores, e caso eu não esteja errado, professores já tem seu próprio conselho (APP- Sindicato dos Professores do Paraná), e não precisam se render aos mandos e desmandos de uma organização desorganizada, dinherista e totalmente indiferente as causas dos professores de Educação Física. Vejamos então como exemplo algumas resoluções que se encontram na página virtual do CREF9/PR:

Resolução CFE nº 03/1987 e anteriores:
Licenciatura em Educação Física – área de atuação Plena
Bacharelado em Educação Física – área de atuação Bacharelado
Licenciatura/Bacharelado em Educação Física – área de atuação Licenciatura/Bacharelado – plena.
Resolução CNE/CP nº 01/2002 e nº 02/2002 - Licenciatura em Educação Física – área de atuação educação Básica.
Resolução CNE/CES nº 07/2004 e nº 04/2009 - Bacharelado em Educação Física – área de atuação Bacharelado.
Resolução CNE/CES nº 01/2002 e 07/2004 - Licenciatura/Bacharelado – área de atuação plena.

            Nota-se que as modificações nas resoluções tiveram num primeiro momento uma estagnação de 15 anos desde a resolução que tratava a licenciatura como plena, incluindo em seu arcabouço os conhecimentos de bacharelado e licenciado, até que então em 2002 fosse desconsiderada a eficiência deste modelo curricular como estava até o momento, mas claro, sutilmente sem desqualificar aqueles que tiveram dentro da lei, tal habilitação anterior, e propondo um novo modelo, que garantisse efetivamente que o Conselho de Educação Física tivesse uma parcela fixa de contribuintes, no caso, com a fragmentação do curso em bacharelado e licenciatura, os bacharéis que atuam nos ambientes não formais, como clubes, academias, centros de treinamento e outros espaços que não sejam de forma alguma uma escola, tem obrigatoriamente que pagar a taxa para ter a carteirinha do CREF, enquanto que os licenciados agora, já não mais tem competência para ministrar uma aula de academia, nem de recreação, ou tem, porém só podem fazer isso no espaço restrito da escola. E ao que me parece, o Departamento de Educação Física, estava totalmente despreparado para se adequar as novas resoluções. O conhecimento cientifico, não passava de diz que me disse, sem objetivos concretos, e decisões acertadas, e nesse sentido a divisão curricular se constituiu de uma construção fajuta de duas habilitações distintas, com disciplinas idênticas, porém com um nome diferente, e uma mania de dizer que com focos diferentes, uma para atuar em cada lugar. Oras, mas qual o sentido de cursar a mesma disciplina, com o mesmo professor e duas graduações diferentes, e ouvir a balela que são focos diferentes? Será que um estudo mais a fundo não seria capaz de enxugar a disciplinas e manter a carga horária mínima exigida pelo excelentíssimo conselho? Eles adorariam essa idéia. Porém o ideal mesmo, já que enquanto professores de educação física, temos que ser capazes de ministrar, planejar, dirigir, assessorar entre outros requisitos, seria unificar a habilitação, e em cinco anos com eficiência e vontade contemplar as várias áreas de conhecimento da Educação Física, formando professores, e não profissionais voltados à guerra desleal do mercado de trabalho do nosso condado tão conservador. Entretanto, unificar o curso, seria perder em um primeiro momento os contribuintes fixos, pagantes fiéis da carteirinha (Art. 16 - A todo Profissional de Educação Física devidamente registrado neste CREF9/PR será fornecida uma Cédula de Identidade Profissional numerada e assinada pelo Presidente do CREF9/PR), outro momento seria no plano mais geral do sistema tornar possível a articulação de uma classe profissional em prol dos seus próprios interesses enquanto professores, unidos a toda a classe de professores de todas as áreas. Isso não é de interesse. Segundo a Resolução CREF9/PR 055/2010 Art. 1º CONSIDERANDO, a deliberação tomada em reunião do Plenário realizada em 11 de Setembro de 2010; RESOLVE:- Fixar o valor da anuidade nos valores máximos discriminados: I – Pessoa Física - R$ 397,88 (trezentos e noventa e sete reais e oitenta e oito centavos); II – Pessoa Jurídica – R$ 983,27 (novecentos e oitenta e três  reais e vinte e sete centavos). Contando a quantidade de profissionais que adentram o mercado de trabalho, talvez, seja no mínimo lucrativo. Além do que como a indústria da multa de transito, o Conselho segue caminho semelhante no que tange o formato de fiscalização impiedoso e agressivo. Um arrastão de autuações e notificações por todo Estado reflete a ira do Conselho numa tentativa de coação dos profissionais e futuros profissionais da área.
            Os casos polêmicos envolvendo o Conselho Regional de Educação Física perpassam desde a tentativa de coação dos professores de Educação Física que atuam na rede pública de ensino, até as academias de pequeno porte espalhadas pelo Estado. Há casos de professores que atuam na escola, terem sido autuados por levarem seus alunos aos jogos escolares. Pasmem. Professores devem ter sua profissão regularizada por outro órgão como já disse mais atrás. Academias menores, segundo uma professora formada numa instituição privada de Maringá relatou para mim um caso inacreditável da fúria do conselho, que mais parece um grupo de capangas das grandes academias, e dos grandes nomes do esporte mercadológico do Estado. Esta professora atua com um sócio não formado, porém estudante da profissão, e segundo ela foi denunciada para o CREF9/PR de que a academia estava ficando por um período determinado sem professor formado, pagante fiel do CREF9/PR. Segundo ela, realmente durante 15 minutos, entre a saída de um professor e outro, no caso ela, este sócio ficava responsável pela academia, neste tempo os leões famintos, e sedentos de lucros surgiram como num passe de mágica, e fizeram uma notificação. Meses depois, chegou uma intimação para ela depor na delegacia. Pasmem novamente. Sim, ela sofreu um processo criminal por ter mantido a academia em situação irregular de trabalho. Em tempo de luta pela descriminalização das drogas, e pela criminalização da homofobia, nos deparamos com este episódio que se não trágico, cômico, trata da criminalização de um professor de Educação Física, o pondo no patamar de um criminoso até mesmo autor de furtos ou homicídios. Algo soa estranho nessa forma de atuação deste conselho, que a principio deveria ter a função de notificar, e orientar os profissionais a fim de melhorar a situação dos mesmos, e não dispô-los a esta situação humilhante como a professora aqui citada passou, ou esta passando.
            É claro que não compactuo com qualquer tipo de situação irregular, desde que essa esteja relacionada não com as diretrizes e resoluções deste conselho, no sentido de submeter-se as suas mazelas maquiadas com cursos e congressos vazios, mas sim com as condições de trabalho irregular, ou seja, usar do trabalho do estagiário em academias substituindo profissionais formados é uma forma de precarização do trabalho, e realmente deve ser fiscalizado, entre tantos outros equívocos que permeiam o âmbito desta profissão, ainda carente de caminhos bem definidos, assim sendo quem deve fiscalizar é a questão, e como estão fiscalizando é outra questão.
            Ser contra o CREF/CONFEF não é mero capricho, é tomar um partido enquanto profissional que busca dignidade real em sua profissão, afinal, quantos acadêmicos saem das universidades e são obrigados a se filiar a um conselho e fazer uma carteirinha, e nem ao menos sabem como isso vai mudar suas vidas, se é que vai mudar mesmo. Ser CONTRA, é analisar os fatos, é conhecer os casos, é ser estudante observador das contradições que o CREF deixa transparecer em suas leis e resoluções, que se ramificam nas universidades com o despreparo dos professores e por conseqüência dos acadêmicos, e nos ambientes de atuação dos bacharéis. Enfim, uma série de desacordos, de transtornos, de equívocos, ronda a atuação do conselho perante os profissionais da área que na maioria das vezes se vêem de mãos atadas quanto ao tema. Por isso ser CONTRA, não trata de negar as dores de cabeça que ser CONTRA podem trazer, afinal de contas, o conselho esta se firmando a cada dia, e sendo presente com sua fiscalização e autuações muitas vezes arbitrárias, como se estivessem acima dos nossos diplomas, dos nossos anos de estudos, como se estivessem sob a linha do bem e do mal. E nesse sentido, todo cuidado é pouco, é preciso ter medo sim, mas o medo não pode ser desculpa para a ignorância e submissão passiva.
           
           



quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Os indiferentes me incomodam

*por Antonio Gramsci
(Texto enviado pelo Prof. Bertô – Forum da Diversidade Etnico Racial)


Odeio os indiferentes. Como Friederich Hebbel acredito que “viver significa tomar partido”. Não podem existir os apenas homens, estranhos à cidade. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão, e partidário. Indiferença é abulia, parasitismo, covardia, não é vida. Por isso odeio os indiferentes.
A indiferença é o peso morto da história. É a bala de chumbo para o inovador, é a matéria inerte em que se afogam freqüentemente os entusiasmos mais esplendorosos, é o fosso que circunda a velha cidade e a defende melhor do que as mais sólidas muralhas, melhor do que o peito dos seus guerreiros, porque engole nos seus sorvedouros de lama os assaltantes, os dizima e desencoraja e às vezes, os leva a desistir de gesta heróica.
A indiferença atua poderosamente na história. Atua passivamente, mas atua. É a fatalidade; e aquilo com que não se pode contar; é aquilo que confunde os programas, que destrói os planos mesmo os mais bem construídos; é a matéria bruta que se revolta contra a inteligência e a sufoca. O que acontece, o mal que se abate sobre todos, o possível bem que um ato heróico (de valor universal) pode gerar, não se fica a dever tanto à iniciativa dos poucos que atuam quanto à indiferença, ao absentismo dos outros que são muitos. O que acontece, não acontece tanto porque alguns querem que aconteça quanto porque a massa dos homens abdica da sua vontade, deixa fazer, deixa enrolar os nós que, depois, só a espada pode desfazer, deixa promulgar leis que depois só a revolta fará anular, deixa subir ao poder homens que, depois, só uma sublevação poderá derrubar. A fatalidade, que parece dominar a história, não é mais do que a aparência ilusória desta indiferença, deste absentismo. Há fatos que amadurecem na sombra, porque poucas mãos, sem qualquer controle a vigiá-las, tecem a teia da vida coletiva, e a massa não sabe, porque não se preocupa com isso. Os destinos de uma época são manipulados de acordo com visões limitadas e com fins imediatos, de acordo com ambições e paixões pessoais de pequenos grupos ativos, e a massa dos homens não se preocupa com isso. Mas os fatos que amadureceram vêm à superfície; o tecido feito na sombra chega ao seu fim, e então parece ser a fatalidade a arrastar tudo e todos, parece que a história não é mais do que um gigantesco fenômeno natural, uma erupção, um terremoto, de que são todos vítimas, o que quis e o que não quis, quem sabia e quem não sabia, quem se mostrou ativo e quem foi indiferente. Estes então zangam-se, queriam eximir-se às conseqüências, quereriam que se visse que não deram o seu aval, que não são responsáveis. Alguns choramingam piedosamente, outros blasfemam obscenamente, mas nenhum ou poucos põem esta questão: se eu tivesse também cumprido o meu dever, se tivesse procurado fazer valer a minha vontade, o meu parecer, teria sucedido o que sucedeu? Mas nenhum ou poucos atribuem à sua indiferença, ao seu cepticismo, ao fato de não ter dado o seu braço e a sua atividade àqueles grupos de cidadãos que, precisamente para evitarem esse mal combatiam (com o propósito) de procurar o tal bem (que) pretendiam.
A maior parte deles, porém, perante fatos consumados prefere falar de insucessos ideais, de programas definitivamente desmoronados e de outras brincadeiras semelhantes. Recomeçam assim a falta de qualquer responsabilidade. E não por não verem claramente as coisas, e, por vezes, não serem capazes de perspectivar excelentes soluções para os problemas mais urgentes, ou para aqueles que, embora requerendo uma ampla preparação e tempo, são todavia igualmente urgentes. Mas essas soluções são belissimamente infecundas; mas esse contributo para a vida coletiva não é animado por qualquer luz moral; é produto da curiosidade intelectual, não do pungente sentido de uma responsabilidade histórica que quer que todos sejam ativos na vida, que não admite agnosticismos e indiferenças de nenhum gênero.
Odeio os indiferentes também, porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos inocentes. Peço contas a todos eles pela maneira como cumpriram a tarefa que a vida lhes impôs e impõe quotidianamente, do que fizeram e sobretudo do que não fizeram. E sinto que posso ser inexorável, que não devo desperdiçar a minha compaixão, que não posso repartir com eles as minhas lágrimas. Sou militante, estou vivo, sinto nas consciências viris dos que estão comigo pulsar a atividade da cidade futura que estamos a construir. Nessa cidade, a cadeia social não pesará sobre um número reduzido, qualquer coisa que aconteça nela não será devido ao acaso, à fatalidade, mas sim à inteligência dos cidadãos. Ninguém estará à janela a olhar enquanto um pequeno grupo se sacrifica, se imola no sacrifício. E não haverá quem esteja à janela emboscado, e que pretenda usufruir do pouco bem que a atividade de um pequeno grupo tenta realizar e afogue a sua desilusão vituperando o sacrificado, porque não conseguiu o seu intento.
Vivo, sou militante. Por isso odeio quem não toma partido, odeio os indiferentes.
* Antonio Gramsci foi uma das referências essenciais do pensamento de esquerda no século 20. Suas noções de pedagogia crítica e instrução popular foram teorizadas e praticadas décadas mais tarde por Paulo Freire no Brasil. Gramsci desacreditava de uma tomada do poder que não fosse precedida por mudanças de mentalidade. Para ele, os agentes principais dessas mudanças seriam os intelectuais e um dos seus instrumentos mais importantes, para a conquista da cidadania, seria a escola.

Domingo Polifásico




- Esta é uma postagem retroativa, devido a demora em ter acesso as fotos do evento. Porém acredito que vale a pena postar.

Mix. Sim, é um Mix de satisfação, com tristeza, de alegria intensa, com decepção, de êxtase, com inconformismo. Muita gente já deve ter notado que eu escrevo pelo puro deleite de expor idéias, desejos, pontos de vistas. É errado querer ter um espaço onde se sente acolhido, onde se sente ouvido? Neste Mix, agora, neste exato momento eu escreveria de trás para frente, e começaria pela parte que mais me tocou no dia de hoje, uma cena de barbárie, um momento bastante comovente, e que talvez retrate todo o contexto deste dia tão modesto, e ao mesmo tempo tão especial. Se pudessem me observar agora, entenderiam o quão sufocado com este nó na garganta estou. Eu acho que narrar um fato, um acontecimento, um evento, é muito mais que narrar os fatos como eles são aos nossos olhos físicos, aos globos oculares, tem a ver com tudo aquilo que faz parte do que te construiu, de uma história, de uma consciência formada pelo plano material, e talvez, muita gente não entenda isso, e de modo equivocado me julgue, me compare, ou simplesmente ignore. E hoje foi um dia de notar de quantas "ignorâncias" um homem é feito, contudo, poderia até entender este Mix supracitado, entre ignorância, e doença, como se os dois se confundissem, e justificassem o meu estado de "abestalhado".  Então eu lhes digo que escrever para mim, é guardar em forma de registro, momentos, sensações, sentimentos, que talvez nunca se repitam, mas que merecem fazer parte da história, da minha história, mas quem disse que elas não se repetem? Eu? Contradigo-me, e lhes digo que as sinto toda vez que releio, e reviro meus arquivos pessoais. 

Neste domingo de fases, de momentos, de contradições, e de intensidades desmedidas, que se resumem como qualquer domingo para muita gente, sabendo que até eu que não defendo o "relativismo", me contradigo novamente, e defendo que cada qual, vê o mundo, ou como lhe convém, ou como aprendeu a enxergar o mundo, filtrado, peneirado, fragmentado, dicotomizado, ou seja, lá como for. Vamos às fases.

1°) Cotidiano: Bom, cotidiano acaba sendo tudo aquilo que se repete ao longo dos dias, e que se tornam meros acontecimentos que reproduzem uma realidade alienada, ou seja, que produzimos, mas que não nos pertence na maioria das vezes, produzimos, e não podemos tomar posse. Um exemplo é o trabalho nos moldes de sociedade a qual estamos inseridos. Um trabalho abstrato, que nos permite apenas produzir muitas das vezes, aquilo que não nos pertence, e por isso o temos como alheio, ou seja, alienado, produzimos, mas não possuímos. É o operário que produz milhares de tênis, não tem consciência da totalidade da produção daquela mercadoria, e depois do produto feito, este operário, com base na venda da sua força de trabalho, se vê obrigado a comprar, o que ele mesmo produziu. Ou seja, não lhe pertence, o tênis que ele produziu, não lhe da o direito de tomar posse do produto, assim o produto torna-se alienado ao homem, bem como o trabalho, que tem seu caráter voltado apenas para a subsistência, para suprir as necessidades de primeira ordem, como comer e dormir. Mas era domingo, e como dizem que Deus disse que alguém disse que a bíblia disse, “E depois de criar todas as coisas do mundo, no sétimo dia, ele descansou", e assim, nos reproduzimos, no direito de folgar, e se revigorar, para dar continuidade à lógica de produção capitalista. Eis, que no almoço de domingo, na minha humilde casa, compareceram nada menos, que minha Avó por parte de mãe, minhas tias, e meus dois primos, o Flávio e a Ju, e comungamos então de um almoço farto, regado de conversas, reflexões e risos. Nada diferente do normal, a não ser a noticia que no Dia Nacional da Juventude, contaríamos com a presença, nada menos que, a do Gabriel O pensador. Já não era tão cotidiano assim, e em rápidas e intensas decisões, num flerte de querer sair da rotina já banalizada, confiamos em desafiar o marasmo nostálgico do domingo, e fomos.

2°) A religião: De muitas crenças é feito o homem, e tem gente que crê, que crença, não existe. Eu de tanto crer, enfurecido questionei, tornei conflituoso dentro de mim aquilo que abrange a fé, os costumes, os dogmas, e claro, tenho uma opinião formada e consciente sobre isso, mas claro, não é imutável, afinal, estou em processo permanente de construção do meu ser, e infelizmente ainda não tenho o potencial de conceber o mundo a partir de sua totalidade. Não é de ritual, de vestimentas, de costumes, de dogmas que é feita a verdadeira religião, isso se dá por meio de atitudes, que transcendem toda e qualquer ideologia já impregnada, vai além do plano espiritual e metafísico, é dotada de realidade, de concretude, e de concepção de mundo como ser emancipado. Consiste em reflexão, em meditação, em sensibilidade, em sobriedade. Algumas pessoas buscam isso no templo budista, outros nas igrejas evangélicas, outros nas católicas, e eu, bem, eu freqüento a igreja católica, mas acredito numa comunhão entre corpo, alma, natureza. Assim, me permito observar que os dogmas da igreja muitas vezes se confundem com os dogmas da sociedade burguesa, mas não afirmo isso com tanta significância, apenas reflito, e compreendo que a religião e suas variantes confluem para um conflito, e não para o que todos desejam o consenso. Assim, participamos da missa do Dia nacional da Juventude com o Dom Anuar Battisti , e outros padres, que aconteceu na Praça da Paróquia São José Operário, Vila Operária, ao ar livre. Seguindo em caminhada para o encerramento no antigo aeroporto de Maringá.


3°) Acústico: Engraçado como este estilo de cantores, estilo barzinho, normalmente tocam as musicas que eu mais gosto. Max, um cantor de Curitiba, a lá Lenny Kravitz fez uma bela abertura ainda a luz do sol, e com uma simpatia cativou a galera que participava do evento com músicas como: Oh chuva, Lua cheia, Além do horizonte, pais e filhos, e muitas outras. Daí, aquela sensação de mistos de sentimentos. Estava muito bom curtir aquele espaço, aquele som, mas compartilhar isso com certas pessoas, aquelas doentes, ou ignorantes já mencionadas, os tais "família Restart" com muito amor a alguém desconhecido e talentoso no palco, conseguem transmitir o sentimento vazio da adoração a ídolos, sem medida, sem amor próprio, sem elegância. A maioria das pessoas não consegue conviver num espaço publico, sem acharem que tudo precisa ser dado, oferecido, cedido, elas pedem, imploram, gritam, e isso me causa vergonha alheia, pode parecer bobeira, mas acho que em um show, com um cantor, agente canta, ou no mínimo ouve sua música, e no máximo dança. Difícil para uma parte que precisa de uma lavagem cerebral às avessas.




4°) A surpresa: Quem poderia imaginar, que além de tudo aquilo que já estava muito bom, uma das bandas que animaria o evento, era justamente Tropa de Elite (banda cara), mas não vamos entra no mérito dos orçamentos, e de quanto deve ter sido gasto em todo esse movimento agradável que participei. Então, vamos à banda Tropa de Elite, que por sinal, é realmente de tirar o chapéu. A banda conta com integrantes jovens, intensos, loucos, e talentosos, digo, incrivelmente talentosos. Entre eles, Roni – voz e contra- baixo com cara de assustado, uma pitada hard de felicidade naquilo que faz, demonstraram um talento e a essência do sucesso, nada mais que sentir amor pelo que faz, e isso ficar registrado nos olhos, nas expressões, nas caras e bocas, Eder - Baterista, que por coincidência maravilhosa é amigo de adolescência, jogou vôlei na rua de casa, fez parte do grupo de amigos próximo, mesmo hoje não sendo mais um contato próximo, foi bacana ter visto o talento reconhecido e bem expressado em suas intensas batidas naqueles pratos, Junior Bariviera - Voz e guitarra, excelente, simpático, e com um fôlego considerável, mandou muito no vocal, e levantou a galera, mas quem realmente me impressionou foi a Sibele Tel - voz, que mais que presença de palco tem presença de espírito, tem personalidade, emana carisma, e vontade de viver, isso é surreal, e realmente me cativou, virei fã dela, e da banda Tropa de elite. Foram diversos os contra tempos com as pessoas, pois sabem que pessoas me irritam, aquelas garotinhas de 15 anos loucas tentando passar na nossa frente, isso por que estávamos bem ali, na frente do palco, mas elas foram bem mal recebidas por mim e pela minha prima, não deixamos as intempestivas sem noção entrarem na nossa frente, fomos grossos e autoritários, por que gente burra tem que ter tratamento especial. Fizeram a Sibele Tel autografar até tênis acreditam? Isso enquanto ela estava cantando. Senso, e noção são qualidades que faltam no país, como consciência política, e cultura. Eu digo e repito, um show é feito para curtir, para ouvir, não para ter atitudes histéricas por causa dos artistas. Tem horário certo para pedir autógrafo, vamos ser mais inteligentes, que tal? 




5°) O pensador, e os não pensantes: Momento esperado, momento de expectativa, de boçais perdidos por todos os lados, sem compreender o grau de cultura, de consciência, e de comprometimento que estava por vir. Não era um show de rap, era uma palestra show, e quem estava ali na praça do antigo aeroporto de Maringá deveria saber disso, saber que Gabriel, O pensador não estava ali para cantar meia dúzia de músicas, contudo, mais que isso, veio nos levantar o véu, abrir os olhos, plantar uma semente, e, diga-se de passagem, trabalho árduo este quando diante dos despolitizados, dos ignorantes, dos doentes de espírito em que se esbarrou. Em poucos momentos a juventude teria a oportunidade de manter um diálogo com um escritor, compositor, cantor, pensador, como o Gabriel, assim, talvez se tivesse havido menos pessoas gritando histericamente por um livro do Gabriel de graça, e estes mesmos cansados de ouvir as poesias e poemas que ele recitava no palco, pediam insistentemente por musicas, e eu me pergunto, para que diabos eles iam querer um livro, se nem ouvir a leitura do mesmo estava sendo suportável para eles? Por ser uma conversa, não ter aquele som estrondoso, qualquer coisa que fosse dita era ouvida, e as pessoas diziam coisas absurdas, como “canta logo ai!”, “Joga esse livro logo!”, entre outras barbaridades, e por mais que me julguem intolerante com as pessoas, eu lhes digo, vai, além disso, eu tenho a sensação e a necessidade que as pessoas se esforcem o mínimo que seja para respeitarem um momento, com alteridade, se pondo no lugar do artista que tem um objetivo maior, no caso do Gabriel, não era simplesmente cantar, era conversar, expor a realidade, e incentivar a cultura, a tolerância, e a inteligência, mas me parece que grande parte das pessoas não se interessa por esse tipo de beneficio, preferem não ter que pensar, e basta pular e repetir algumas letras, que é o suficiente. Em alguns momentos o Gabriel percebeu esta atitude desmotivante do pessoal, tanto que em determinado momento quando ia ler uma passagem do seu livro, disse, “Eu só vou ler se vocês quiserem...”, ou seja, percebeu que as pessoas não queriam, ou pelo menos boa parte delas. Gabriel incentivou muito a escrita e a leitura em suas falas, em seus poemas, que retratam sensações e emoções que ele teve como o poema que fala de sua avó e sua tia, o poema escrito numa igreja de vidro na Califórnia, entre outros, relatou momentos em que se engajou na luta contra o preconceito, e cantou, como todos queriam, cantou “cachimbo da paz”, “Pátria que me pariu”, entre outras canções, e este não foi um dia como qualquer outro, foi muito bem aproveitado. Pena, não poder dizer isso de todos que estavam presentes, os não pensantes, os que votam em José Serra, os que votam em Tiririca, os que jogam papel no chão, os despreocupados e egoístas cidadãos alienados.







Pátria Que Me Pariu
 Gabriel O Pensador
Uma prostituta chamada Brasil se esqueceu de tomar a pílula, e a barriga cresceu
Um bebê não estava nos planos dessa pobre meretriz de dezessete anos
Um aborto era uma fortuna e ela sem dinheiro 
Teve que tentar fazer um aborto caseiro
Tomou remédio, tomou cachaça, tomou purgante 
Mas a gravidez era cada vez mais flagrante
Aquele filho era pior que uma lombriga
E ela pediu prum mendigo esmurrar sua barriga
E a cada chute que levava o moleque revidava lá de dentro
Aprendeu a ser um feto violento 
Um feto forte escapou da morte 
Não se sabe se foi muito azar ou muita sorte
Mais nove meses depois foi encontrado, com fome e com frio,
Abandonado num terreno baldio 
Pátria que me pariu! Quem foi a pátria que me pariu!?
A criança é a cara dos pais mas não tem pai nem mãe
Então qual é a cara da criança?
A cara do perdão ou da vingança?
Será a cara do desespero ou da esperança?
Num futuro melhor, um emprego, um lar
Sinal vermelho, não da tempo prá sonhar
Vendendo bala, chiclete...
Num fecha o vidro que eu num sou pivete
Eu não vou virar ladrão se você me der um leite, um pão, um vídeo game e uma televisão
Uma chuteira e uma camisa do mengão 
Pra eu jogar na seleção, que nem o Ronaldinho 
Vou pra copa vou pra Europa...
Coitadinho! Acorda moleque! Cê num tem futuro!
Seu time não tem nada a perder
E o jogo é duro! Você não tem defesa, então ataca!
Pra não sair de maca 
Chega de bancar o babaca!
Eu não aguento mais dar murro em ponta de faca
E tudo o que eu tenho é uma faca na mão
Agora eu quero o queijo. Cade?
To cansado de apanhar. Tá na hora de bater!
Pátria que me pariu!
Quem foi a pátria que me pariu!?
Mostra tua cara, moleque! Devia tá na escola 
Mas tá cheirando cola, fumando um beck
Vendendo brizola e crack 
Nunca joga bola mais tá sempre no ataque
Pistola na mão, moleque sangue bom
E melhor correr que lá vem o camburão
É matar ou morrer! São quatro contra um!
Eu me rendo! Bum! Clá! Clá! Bum! Bum! Bum!
Boi, boi, boi da cara preta pega essa criança com um tiro de escopeta
Calibre doze na cara do Brasil 
Idade catorze estado civil morto
Demorou, mais a sua pátria mãe gentil conseguiu realizar o aborto.



6°) Do começo ao fim: Lembrados que eu poderia ter começado do fim? Pois bem, decidi que escreveria na ordem cronológica dos acontecimentos, mesmo este último, sendo o mais recente, e o mais perturbador. O mundo está tão doente, tão confuso, as vidas estão tão banais, sem valor, sem sentido, e eu digo está, por que há algum tempo atrás, eu vivi momentos bem diferentes dos dias atuais, apesar de não fazer tanto tempo assim, e hoje eu não consigo me acostumar com o caos constante. Depois deste dia imperdível cheguei em casa com os pés doendo, pescoço doendo, mas revigorado, como tinha que ser, comi alguma coisa, deitei no sofá e fui ver um pouco do Fantástico, só para deitar mesmo, e a noticia, era do cotidiano, era do dia a dia, era banal, e eu não sei se mais alguém no mundo se comoveu como eu com aquilo que anda acontecendo todos os dias no mundo. A noticia era sobre um jovem numa livraria de um shopping Center, extremamente despreocupado com qualquer coisa, afinal, não havia mesmo com o que se preocupar, pelo menos era o que ele imaginava, sem saber que ali naquele mesmo lugar, um doente, um ignorante, um fruto deste tipo de sociedade que estamos formando, estava prestes a escolhê-lo aleatoriamente para ser agredido gratuitamente por um taco de beisebol na cabeça. Deus do céu! Quanto ainda temos que nos chocar para uma revolução? O menino, que nunca fez nada há ninguém e só queria viver sua vida, seguir com seus sonhos, foi abatido como um animal qualquer, Henrique morreu esta semana depois de ficar por dez meses na UTI do Hospital das Clínicas de São Paulo. Como explicar tal acontecimento? Existem vários tipos de pessoas, e eu custo a acreditar que qualquer pessoa sã, seria capaz de interromper a juventude criativa de alguém assim tão brutalmente, mas vejo que a ignorância e a doença definitivamente andam de mãos dadas, e isso é apavorante, não saber o que pode lhe acontecer, essa insegurança, essa injustiça, e o pior, a falta de movimento, o inexpressivo balbucio das pessoas diante deste tipo de noticia me amedronta.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A procura da felicidade: quanto vale ou é por quilo?


Um dia passando pelas ruas de Maringá notei um individuo vestido de palhaço dando bom dia e sorrindo, notei também que não era um trabalho, as roupas não eram novas, digamos que era um palhaço mal vestido, mas ainda sim, sorria e desejava bom dia aos mal humorados que seguiam cedo para o trabalho. Por um instante passou pela minha cabeça o quão idiota aquele homem era por estar se submetendo aquela situação, logo adiante na mesma linha de raciocínio refleti de modo diferente. Aquele velho homem não tinha absolutamente nada, mesmo assim, ele sorria alegre e dizia bom dia a todos, e eu só conseguia sentir ódio de estar acordado tão cedo. Por um instante eu me perguntei onde se encontra a tal felicidade, e qualquer pessoa otimista demais, e pouco realista vai dizer sem sombra de dúvidas que a felicidade se encontra nas pequenas coisas da vida, nos momentos bons ao lado das pessoas que se ama, nas pequenas conquistas. Eu pergunto então, e aquele homem velho vestido de palhaço, é realmente feliz? Confesso que não parei para perguntar a ele, mas fiquei tentado a entender o que o motivava as demonstrações amigáveis de carinho e atenção com quem cruzava seu caminho naquela manhã. Então me perguntei o que faz as pessoas felizes realmente. O que deixa um ser humano com esta sensação de bem estar, de felicidade são sim momentos de vivência satisfatórios, que dêem sentido a sua vida. Para ter uma vida com sentido, é necessário fazer antes de mais nada parte de um grupo familiar, ou um grupo de amigos, é preciso sentir-se querido por outras pessoas, e é preciso sentir-se parte do ambiente em que se vive. Ser feliz, é seguir com conquistas frente aos desafios que a vida lhe proporciona, é conhecer e agir no meio em que vive, mostrando sua importância para o andamento das coisas que lhe dizem respeito, é ter independência e autonomia para decidir os caminho que deve seguir. Porém, ser feliz, tem relação com as oportunidades e com a personalidade que se construiu dentro de cada um, pois cada um sabe das suas necessidades, e ser feliz então é diferente de um para outro. Mas a realidade, é que ser feliz, tem a ver com conseguir pagar as contas do mês sem medo de ficar sem ter onde morar, pra onde ir. Ser feliz é ter os mesmos direitos que os merecedores da felicidade tem do conforto, do teto, do salário, da formação, da familia, da estrutura, do meio em que se vive, por tanto, ser feliz em grande parte, é ter sorte, a sorte de nascer em uma boa familia, com casa própria, com dignidade, com direito a educação de qualidade, com direito a saúde de qualidade, sem depender das esmolas do Estado. Ser feliz é não ter que ouvir que se está na rua pedindo e mendigando por escolha própria, e sim por falta de oportunidades, por falta de igualdade. É fácil ser feliz quando se nasce em berço banhado a ouro, difícil é sorrir todo dia de manhã vestido de palhaço dizendo bom dia a troco de absolutamente nada, a não ser talvez, pela possibilidade de fugir da realidade, esta que de feliz não tem nada. Alguns vão dizer que felicidade não tem nada a ver com isso, que tem a ver com o abraço carinhoso da mãe, o eu te amo do pai, a fidelidade dos amigos, e eu vos digo, sim isso é felicidade, para quem não tem um pai bêbado, ou uma mãe prostituta, oras, mas ainda dirão que isso não importa se há o amor, e eu vos digo, com fome e com medo, ser feliz e amar deve ser tarefa difícil para qualquer um. Então, ser feliz não se trata de comparar sua felicidade a de ninguém, muito menos sorrir e dizer bom dia vestido de palhaço, fingir ser feliz não significa ser feliz, ver pessoas infelizes não nos torna mais felizes, ver pessoas felizes, nos fazem pensar, o que as fazem felizes. Ser feliz não depende de classe social eu sei, mas oras, não sejamos hipócritas, felicidade é coisa para quem pode comprar, os demais fingem, e imaginam como seria se tivessem o direito de serem felizes.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Como é que se diz eu te amo?

Vai uma vida toda para na maioria das vezes nunca se desvendar quais foram os verdadeiros "eu te amo" que se disse, ou que se ouviu. Houve um tempo que dizer "eu te amo" estava cercado de significados que davam a credibilidade a tais palavras tão simples. Quando eram ditas com firmeza, confiança, fidelidade e sabedoria, respeitando a amplitude do "eu te amo", que em sua essência diz respeito a sentimentos nutridos nas relações entre indivíduos de polegares opositores e racionais. "Eu te amo" faz parte de uma série de símbolos que regem as relações humanas, e que são decodificados a fim de dar sentido as nossas vidas. Amar muitas vezes é não ter que responder a questões apoteóticas como, "de onde eu vim? Pra onde eu vou?", pois já traz consigo a satisfação necessária enquanto individuo vivo que depende do outro. Porém, amar, e dizer que ama cada dia mais se tornam duas coisas mais distintas, mais distantes. O "eu te amo" vem perdendo seu significado desde o momento em que a frieza com que os homens se relacionam tendenciosamente vem aumentando, quando as pessoas se tornam objetivas demais, até que se sentem modernas demais para entender o amor com os mesmos significados que um dia ele já teve. Eu entendo que amar tem um só significado, seja lá qual for a época que esteja inserido, o que muda é o entendimento e a apropriação do termo no sentido em que este se banalize. Particularmente eu tenho sérias dificuldades em pronunciar estas palavras, não por que eu não ame ninguém, mas por que eu insisto em manter o significado primeiro, aquele que torna amar uma responsabilidade, algo de extrema importância. Amar então é tomar para si uma responsabilidade, é se por no lugar do outro. Amor não se sente hoje, para amanhã não mais sentir, amor perdura por todo o sempre, só mudam as formas de amar. Hoje em dia dizer eu te amo ficou atrelado aos tipos de relações vazias, insossas, e passageiras, por tanto, dizer "eu te amo" para a maior parte das pessoas é como trocar de roupa, ama-se do dia para a noite, e desama-se da noite para o dia, como se amar fosse feito apenas de desejo e de prazer. Ama-se com interesses, ama-se por vingança, mas é um amar de quem só sabe dizer "eu te amo", e não saber ser o "eu te amo". Amam as coisas mais que os próprios semelhantes, por isso ficou ainda mais fácil dizer, é como fisgar um peixe estúpido, é como roubar doce de criança, e assim vamos endurecendo frente a qualquer "eu te amo" que se ouve, por que por experiência própria, eles vem tão rápido quanto vão, é só deixam a sensação de traição, de infidelidade, de falsidade, de demonstrações explícitas de um amor que passa de um para o outro sem nenhum pudor, sem nenhuma responsabilidade com o outro. Então quando se diz "eu te amo" tem que se pensar no outro e no que ele representa realmente, e caso nunca tenha a certeza, nunca diga, é menos doloroso. Por que ver o mesmo "eu te amo" que estava aqui, estar logo ali do outro lado, é perceber que o amor na verdade nunca existiu, existiu somente a necessidade de suprir os próprios interesses, de sugar somente aquilo que lhe convém, e os "eu te amo" ditos irresponsavelmente foram apenas uma estratégia de se conseguir com mais facilidade o que se queria. "Eu te amo" não se diz, se faz. 

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Eu não sabia. E você?

 Ivone, a mulher do apito, das manias e do cafezinho
A deficiência mental e as manias não impedem que ela seja querida por pessoas que conquista nas ruas de Maringá


Bem antes do dia clarear, Ivone Pires já anda pela casa, conversando alto com o resto da família que ainda dorme, às 6 horas já está pronta para sair e, no máximo, até 6h30 já vai para a rua. Chova ou faça sol, essa é a rotina de segunda-feira a sábado e toda a vizinhança saberá que ela já está na rua quando ouvir o trinado de seu apito. Nas seis ou sete horas seguintes, seu apito será ouvido (e reconhecido) em diferentes pontos da cidade e por volta das 14 horas chega de seu volta ao bairro de onde saiu, o Jardim Aeroporto. À tarde assiste tevê e por volta das 20 horas já está dormindo para repetir tudo na manhã seguinte.
Sempre sorrindo, apitando e cumprimentando pessoas nas ruas, entrando em estabelecimentos para iniciar conversas que ela nunca termina, Ivone Pires, de 33 anos, é a mulher do apito, uma das figuras mais conhecidas das ruas de Maringá. Da mesma forma que a cidade a reconhece, ela também conhece muita gente, principalmente se a pessoa trabalhar em algum estabelecimento que serve cafezinho. Se ela não sabe o nome da pessoa, logo inventa um apelido ou chama de 'Véio'.

“Ela é pontual, chega na hora em que estou abrindo o bar, fala, fala, fala, toma um café e segue em frente”, conta a comerciante Vanda Pires, proprietária de um bar na esquina da Avenida Brasil com a Rua Henrique Dias. Cerca de 100 metros adiante, Ivone entra em uma padaria, chama todas as atendentes pelo nome, conversa com fregueses (geralmente com dois ou três de uma vez), toma mais um café, ganha um salgado e sai sem terminar as conversas.
De bar em bar, padaria em padaria, café em café às 9 horas ela já está apitando no quarteirão mais antigo do Maringá Velho, aquele onde nasceu a cidade e ela parece conhecer todo mundo – e todo mundo a conhece. “A gente até brinca dividindo a manhã em antes ou depois da passagem da mulher do apito”, diz o farmacêutico Luiz Carlos Pires, que recebe infalivelmente sua visita todos as as manhãs. “Ela tem liberdade para colocar apelido nas pessoas”, continua Pires, lembrando que um proprietário de oficina na divisa do Maringá Velho com o Fim da Picada é chamado por ela de vagabundo “e ele ri, nunca reclamou”.
“Todo mundo gosta dela”, explica Carlos Machado, que trabalha em uma loja de artigos country. “Ela chega, brinca com as pessoas e vai embora sem ofender ninguém, ela é carismática”.
A mulher do apito tem algumas manias incompreensíveis. Sai de casa sempre usando uma blusa de lã escura com capuz, que ela cobre a cabeça, de modo que sua figura pode ser reconhecida à distância – mesmo que ela não apite. Também carrega sempre um saco com livros e cadernos, pesando aproximadamente 10 quilos. A blusa, segundo ela, a protege do sol e da chuva. Os livros e cadernos ela usa para “ler” e “escrever” quando para nos pontos de ônibus para descansar.
A mulher do apito sobe para o Maringá Velho sempre pela calçada da direita, volta pela da esquerda, vira na Avenida Pedro Taques e vai até o Jardim Alvorada, percorre várias ruas e volta para casa. Quando está a fim de andar um pouco mais, vai apitando até o Posto G10, na saída para Astorga.
Ivone, filha do casal de pioneiros Julia e Derbi Pires, ele caminhoneiro aposentado, vive com os pais e três irmãos em uma casa do Jardim Aeroporto, a mesma casa em que nasceu. Ainda pequena os pais perceberam a deficiência mental, mas ela chegou a frequentar escola, aprendeu a ler um pouco, frequentou a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), mas foi nas ruas que aprendeu a se virar. O apito famoso é ensinamento das professoras da Apae e serve para alertar motoristas sobre sua presença. Embora caminhe entre 20 e 30 quilômetros a cada dia, cruzando o trecho mais movimentado da cidade, ela só foi atropelada uma única vez e nem foi em Maringá. Ela tinha ido a pé a Sarandi comprar um apito novo e acabou atropelada no centro da cidade.

Suas saídas de casa não preocupam mais dona Julia e seu Derbi, primeiro porque reconhecem que Ivone sabe se defender, segundo porque a saída é uma necessidade tão forte para a moça quanto comer ou beber cafezinho. “Se ela não sai, fica nervosa, começa a apitar dentro de casa, a gente sente que ela sofre como se estivesse numa prisão”, comenta o irmão Dário.
A mulher do apito diz que gosta de caminhar, ver pessoas, assistir tevê à tarde e ouvir músicas de Zezé de Camargo e Luciano. “E aí, Véio. Eu vou sair no jornal? Vai sair minha foto? E o meu apito? Por que eu vou sair no jornal? O que eu fiz? O que você perguntou pro meu irmão?”, perguntou ela de enfiada, virou as costas, apitou e seguiu em frente sem esperar nenhuma resposta.

Fonte: 


quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Revisão político - despolitizada desses arredores.

No fim de 2008 na turbulência das eleições para um governante municipal na cidade de Sarandi fomos presenteados com a vitória da ignorância, dos mal informados, daqueles que acreditavam estar fazendo a melhor escolha de todos os tempos. Antes de se deliciarem com os podres poderes, critiquei veementemente a postura da sociedade organizada ao se submeter estupidamente a um governo que todos com um mínimo de cérebro já sabiam das mazelas, e dos absurdos familiares e políticos envolvendo o hoje afastado do Poder Milton Martini. Fiz minha critica de forma sutil e agressiva numa comunidade do Orkut (http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs?cmm=659306&tid=5254134850146917111&start=1) que tratava de assuntos sobre o município, e me deparei com uma série de imbecis, soldados idiotizados do até então candidato que a seguir viria a tomar a vitória apertada na concorrência da prefeitura. Mas eram soldados por conta própria, e idiotas de nascimento talvez, pois a estupidez tomava conta de cada palavra ofensiva aos meus comentários, aquilo foi uma enxurrada de besteiras, de asneiras, e eu disse isso a eles, mas eles se acharam bons demais a ponto de não lerem uma vírgula do que eu dizia, liam uma coisa e entendiam outra, eu buscava utilizar bons argumentos, manter algo de nível, porém no fórum só respostas intolerântes a inteligência, pareciam abominar as verdades que eu postava sobre o Milton Martini, e o comportamento da maioria da população. As agressões verbais foram tomando uma proporção imensa, desta forma resolvi apagar meus comentários, não valiam de nada se opondo a grosserias estúpidas e sem fundamento algum de uma gente pobre  de ser, pobre de identidade, pobre de sagacidade, pobre de argumentos, pobre de alma. o que é pior que qualquer desfavorecimento material. Mais de dois anos depois, retornei a comunidade e percebi que aquilo sem meus comentários que eram tão mal recebidos não tinha a mesma movimentação, claro, com um tipo de gente sem argumentos, sem ter o que falar, só restava mesmo responder meus comentários com grosserias. Mas o melhor ou pior de tudo, é voltar lá feito Tieta do Agreste, e ver que suas palavras foram proféticas, apesar de não estarem mais lá, hoje cada ser idiotizado que postou suas bizarríces incomuns a favor do Milton Martini, com ênfase em me agredir está engolindo a seco e engolirão por muito tempo ainda, tendo que se orgulharem de terem elegido um homem que poucos dias depois de sua eleição deu uma banana para a população, um tapa na cara dos seus próprios soldados idiotizados. Nos deixando o presente de grego Carlos de Paula como substituto, por sinal um publicitário nato, De Paula, demonstra uma sabedoria incrível no quesito propaganda é a alma do negócio, se faz presente em todas as obras da cidade, sejam obras dele, ou não, o que importa é que em tudo o seu "rostinho"apareça, deixando sua marca, para uma próxima eleição, entrar com o aval da população, que como sempre em sua grande parte deixou o discernimento e a capacidade de raciocínio político cair em algum dos buracos nas ruas da cidade e são bem capazes de o tornarem então, prefeito consagrado do município. É o que eu falava antes de pobreza sabe, são pessoas incapazes de discernir e opinar sobre assuntos políticos, mas mesmo assim elas opinam, e pior, votam, determinam "democraticamente" quem vai "fuder" com tudo. A maioria das pessoas de senso comum, e de cérebro incomum, votam por aparência, por status, vejamos os tantos casos dos deputados eleitos na ultima eleição, Cida Borguethi continua no poder, por que pobre gosta de gente chique no poder, gosta de gente loira e de olhos azuis no poder, pobre não acha que pobre tem condições de ocupar um cargo político, isso é tão óbvio no que tange minhas observações sobre este âmbito caótico que são as eleições na conservadora Maringá, e na obediente subalterna Sarandi. Na linha de exemplos, temos o próprio prefeito de Maringá, o excelentíssimo Silvio Barros, que mexe com os corações sonhadores da população que adora filmes de época e acham mais "bonitinho" manter uma dinastia no poder, passar coroa de pai para filho, é coisa tão High Society , e nesse clima, volta Osmar Dias que foi tão longe politicamente, e como um cão sem dono volta para a sua amada e conservadora cidade de babacas soberbos que moram em bairros marginalizados, vêem o centro e os bairros nobres cada vez mais luxuosos, e se sentem parte desse progresso quando vão gastar seus míseros vinténs no comércio suntuoso que a ACIM faz por onde manter na ordem consumista do capital, sem maiores pudores. E o prefeito investe em propaganda, ele quer ver os IPTU's todos bem pagos, e na TV a todo momento vemos aqueles moradores de comercial de margarina felizes com as tantas obras realizadas, que só o IPTU pode pagar, e em Sarandi não é diferente, tem-se muito em comum, muito se fala, pouco se faz, mas na política do pão e circo, é isso mesmo que conta para essa inteligente população de meia pataca. 

Futuro do pretérito


O menino arredio, bicho do mato, inseguro, não apresentava-se como deveria, por que em meio aos perfeitos e os normais, o menino sonharia com aquilo tudo que poderia, mas que não conseguiria. O menino genial, era um ser do passado, um ser que passou, que sumiu, que ficou, e que no presente amargo, diz que diria, diz que faria, que sonharia, como se o futuro fosse certo, de uma consciência ininterrupta da totalidade, que transcenda começo, meio e fim. O menino não é, e não foi, mas seria, seria se pudesse, só não sabe ainda o por que do futuro ser tão intocável, esmigalhando no vento como fumaça no ar. O menino se sente preso, encarcerado ao que seria, poderia, faria, conseguiria, sempre dependendo de um passado, imperfeito, e não se apeguem a tempos verbais, eu falo de vida e não de palavras. Ele era tudo aquilo que poderia ser, mas dentro de si mesmo, e nada mais. Ele era seus sonhos, de tudo o que alcançaria, mas que por motivos concretos, virou futuro do pretérito. Cansou-se das possibilidades, dos otimistas, dos falsos amigos, das falácias engenhosas para que a traição e a infidelidade pareça mais branda, mais suave, cansou de nunca tornar presente o futuro, e amedrontou-se ao ver o futuro tão próximo e tão sombrio. O menino que um dia chegou a acreditar em si próprio e nos outros, pensando que seria,  que amaria, que viveria, que sorriria, que valeria a pena, chega ao futuro todos os dias, mas come o passado com sabor azedo de fruto proibido, e o pretérito vem como expulsão do paraíso. É um presente de grego esse destino inoportuno, esse descaso verbal com os tempos incertos, com seus beijos não dados, com os riscos corridos, que também correria o menino punido, que de tanto querer virou comida de sereia, história de pescador, conto da carochinha, se perdeu no presente e nunca encontrou o tal do futuro, o futuro do pretérito.    

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