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sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Bebericam sobre as fezes e brindam com Champagne Heidsieck

Rodrigo Eduardo dos Santos

Eis que embevecidos pela possibilidade de uma nova chance, com a proximidade de findar-se mais um ano, erguem-se as taças, e brindam, como se realmente existissem motivos. Como se fosse possível comemorar tudo aquilo que não existe além das próprias mentiras que se contou, para fingir ser aquilo que nunca foi, e nunca será.

Um belo dia você acorda, e percebe que as pessoas continuam a ser aquilo que elas sempre foram, porém adultas, elas conseguem ampliar isso de tal modo, que inacreditavelmente, muitas vezes não conseguimos perceber o quão são egoístas, medíocres, traiçoeiras, interesseiras e covardes. Nesse meandro, é que me dei conta de quantas vidas aparentemente cheias de sentido estão enganando nossos olhos, me dei conta de quantas famílias aparentemente felizes, estão sendo estruturadas sobre bases extremante frágeis, sob a égide da mentira, que vem se enraizando desde muito antes, tendo como adubo a ambição acima de qualquer preço.

Desde muito cedo, aprendi a identificar apenas no olhar, esse certo tipo asqueroso de pessoa que normalmente cai facilmente nas graças de uma considerável maioria, sem despertar suspeitas para seu verdadeiro caráter, sua concepção equivocada sobre o que é ética. Essa distorção sobre a concepção de ética, penso que muitas vezes perversamente oportunista, traveste-se em sua maioria de simpatia, sociabilidade e bom gosto. Este bom gosto é o reflexo quase que imediato dos desejos de qualquer ambicioso que se preze. A ambição perpassa as questões que envolvem o status social, a ascensão social que pode proporcionar ao ambicioso a conquista, e assim, os valores éticos, se fundem com os próprios interesses de ascender socialmente.

Ascender socialmente requer muito mais que a conquista de bens materiais. Além disso, paradoxalmente emerge a necessidade de exposição destas conquistas no habitat social como uma espécie de troféu. A ostentação, demonizada aos domingos na igreja, entretanto praticada invariavelmente no dia a dia, de modo natural e intrínseco ao conceito de ética, já determinado anteriormente é uma característica pungente na construção desse indivíduo.

Nota-se desta forma, que construir um sujeito desse tipo, exige compreender antes de tudo, como ser mascarado, como vestir uma pele que lhe dê passaporte para qualquer canto, com qualquer pessoa, passando por cima de quem quer que seja em prol de interesses escusos, travestidos de família feliz.

O que definitivamente eu quero dizer com isso, é que hoje, quando inocentemente dedilhava as teclas do meu computador, me deparei com algumas atualizações no Facebook que me chamaram a atenção. Trata-se de uma incontrolável vontade de expressar de modo superlativo as conquistas sobre o pódio. Tal como na ficção, abarrotam a vida real um tipo de gente doente, capaz de todos os tipos de atrocidades para subir na vida. É normal alguém envolver a família toda no contrabando, tornando isso uma atividade natural entre os membros, lavando dinheiro em negócios aparentemente legais? Quais são afinal de contas os valores éticos que baseiam as relações dessa família de modo geral?

Sabe quando você começa a estranhar a forma como algumas pessoas chegaram feito cometa numa certa posição social? Sem moralismo algum, o que deve ser compreendido, transcende os meios legais ou ilegais que se conseguiu chegar aonde chegou. O que mais impressiona, é como nesta posição surge uma necessidade de fazer parte dos padrões éticos preestabelecidos pelo grupo social, padrões os quais foram transgredidos antes. Sabe aquela menina pobre, de cidade pequena, que ambiciona um mundo de possibilidades longe daquilo tudo? Aquela capaz de desprezar a própria família, de negar suas origens, de fingir ter nascido de chocadeira só para não apresentar o futuro almejado à pobreza da raiz. Aquela que em pleno século XXI impressionantemente usa de uma metodologia arcaica muito eficiente de conseguir aquilo que quer. Usa e abusa da vulva, da feminilidade, da sensualidade, da fragilidade, e como um canto de sereia vai encantando seu próprio pote de ouro. Estou falando de ambição, não de mulher, que fique claro. Por que ambição não escolhe sexo, não escolhe cor, não escolhe nem classe social. E por isso mesmo, por mais que ambição tenha a ver com acumulo de riqueza, também tem intima relação com a ostentação da mesma. E ostentar esta totalmente atrelado a ideologia hegemônica de que felicidade não pode ser outra coisa que não, uma família católica apostólica romana, com filhos loiros, fofos, de olhos claros, com avós super prestativos e com pais super presentes, mesmo sendo grandes empresários, buscam e levam os filhos na escola, gravam até mesmo o primeiro coco da criança, sorriem para a câmera, e ouvem música boa, por que aprenderam o que é bom gosto pagando muito bem pra isso. O fato, é que essa vidinha de comercial de margarina ignora um passado sombrio na maioria das vezes. Um passado jogado pra de baixo do tapete, onde pessoas foram usadas, desprezadas, humilhadas, tratadas como mero apoio para esse, “alçar voo”. As concepções acerca de ética retornam abruptamente nessa súbita escalada pelo poder, junto à capacidade de fingir ter conseguido isso com o suor do próprio rosto sem prejudicar absolutamente ninguém. Buscando fazer uma analogia, é como varejeiras, a bebericar sobre as fezes e mais tarde brindar com champagne Heidsieck num lual a beira de uma praia badalada, hospedado em um hotel cinco estrelas, com fotos instantâneas na rede social. Surge então a pergunta que não quer calar para por em contradição aquilo que muito poucas pessoas têm conhecimento. Os meios para chegar onde está deixaram quantos feridos para trás? Uma mãe rejeitada talvez? Ou uma família inteira? O mais engraçado disso tudo, é massacrar uma família inteira, com o puro e mero objetivo de formar outra família, que na sua concepção ética, é a superação daquela miséria de onde você veio, e deve ser esquecida da face da terra. Soa-me extremamente contraditório, no entanto, com disse antes, a ambição se atrela ao pensamento da classe dominante, que historicamente determina quais os requisitos para ser feliz e aceito socialmente. E ser aceito socialmente implica em esconder tudo àquilo que é feio, que é vergonhoso, que não vale nada, que o mundo do glamour abomina veementemente, mesmo que essa vergonha seja a pessoa que mais te ama.

Depois de ter me admirado com as seguintes situações, internamente indaguei qual a concepção de ética vem regendo minhas atitudes, e como as coisas não precisam necessariamente parecer bonitas e perfeitas. Basta que sejam o que são. Parecer não vai mudar as coisas como elas são, mesmo que eu me convença disso. O passado é um fato histórico, e em algum momento da vida “feliz” ele pode voltar a feder, e toda a sua concepção de ética pode desmoronar na tua própria cabeça. Já imaginou o que teus filhos vão pensar de você, quando descobrirem que tipo de coisa você esteve disposto fazer para construir essa mentira em que vive?


segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Contradição de Natal

Quando o natal acabou


Cada pedaço de pessoa foi prun’lado

Cada momento disfarçado

De alegria, por tristeza foi trocado.

Quando o ano novo apontou

Cada promessa tão humana virou passado.

E cada alma generosa sem pecado

Regeneradas em uma confissão

Quando janeiro começou

Cada pessoa que beijou, e deu abraços.

Cada recado travestido de sentidos

Cada presente destruído

Virou passado e solidão.

Quando as estrelas já distantes

Em artifícios delirantes

Brilhando feito diamantes

Tão falsos quanto o teu amor

Interrompidos pelos seus conflitos

Que se desmancham feito sons dos sinos.

Reverberando o meu dissabor.

E de tanto ouvir falar que o amor vale um tostão

Fiz-me objeto embrulhado

Em papel de seda em laço

Desejando um passo em falso

Cair em contradição.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Pitangueira

Não me esqueço desse gramado

Desse verde, e da casa vazia.

Por que essas paredes me sufocam tanto?

Eu não sei por onde ando

Já nem sei se estou chegando

Parece muitas vezes que nunca parti.



Desse quintal que vive em mim

Da pitangueira que nunca esqueci.

Das tuas folhas pequenas

Das suas raízes nobres

Daquelas noites serenas

Janelas de sonhos, que nunca abri.



Apita pitangueira maestrina

A vida que se veste de menina

Menino que se despe ao por do sol

Apita pitangueira seu farol

O seu desejo de não ceder a ninguém.

Ser pitangueira, ser guerreira.

Ser de menino e de menina

Sem quem, por que, só bem.



Eu não esqueço o cheiro do fim de tarde

Eu não esqueço a chuva e a terra molhada

A macarronada, o pé de jabuticaba.

Suas partidas, suas chegadas.



Despedidas matinais, todo dia,

Eu não sei ser boa pessoa

E preencher essa parte vazia

Eu não sei sorrir a toa

A pitangueira que me dizia.

Chove a chuva molhada

Banho na enxurrada

Pitangas caídas no chão

Colhem flores, colhem dores.

Há uma pedra na minha mão.



Eu não esqueço que jogava pedrinhas

Das paredes azuis que hoje são pretas

Nem do baú, hoje gavetas.

De pitangueira a folhas secas.

Eu não esqueço a vó “mainha”

Da voz que tinha

Dos seus trejeitos.

Eu não esqueço a mãe que vinha

Da agonia

Dos meus defeitos.



E de tarde, a pitangueira coberta de orvalho.

Refletindo a fita solar

E de noite a pitangueira no armário

Pitangueira solitária

Esparramada no quintal

Trancada no próprio lar.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Os tais senhores.

São apenas senhores

São os tais

São senhores de horrores

Animais

Secos moralistas,

Velhos egoístas, traiçoeiros e covardes.

Animais que sugam de tudo

São os tais

Aprovam as suas cifras, sem alardes.

São pastores, vereadores, são descartes.

Rastros desmanchados, seus crimes, seus critérios.

Ranços em pedaços, cordiais de porta de igreja.

Liberais, de ponta cabeça.

Senhores da casa de lei

Senhores doutores, se vestem de rei.

Senhores aposentados, com prêmios especiais.

Senhores ditadores

São os tais.

Os tais da calada da noite

Que decidem seus próprios destinos

Com aval, desse povo bovino.

Os tais indiferentes da corte

Que se condenam a liberdade

E se banham da impunidade.

São deputados, senadores, padres.

São apenas senhores,

São apenas doutores,

São apenas horrores.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Amor - te leve

A vida vem como um sopro, que de tão leve, não deveria pesar tanto.

Ela vem de pouco em pouco, e de tão breve, demora tanto.

Nela da tempo de criar amor, amor se cria

Nela da tempo de criar a dor, a dor se cria

Só não faça da vida, eterna apatia.

Ela vai desconstruir suas verdades

Suas metades.

A vida vem pra nunca mais voltar, de tudo que passa, só ficará

De tudo que fica só lamentar

Com todas as penas, não voará.

Amor, te leve, que de tão leve se esvaiu.

A morte breve, e de tão breve, nos consumiu.

A morte então acontece, e de tão fria, não deveria queimar tanto.

Ela vem como rabo de foguete, melancolia, percebida em qualquer canto.

Nela da tempo de criar amor, amor se cria

Nela da tempo de criar a dor, a dor se cria

Só não se cria essa melodia

Disfarçada de poesia.

Ela vai desconstruir as duas metades

É capaz de engolir, as suas verdades.

A vida vem pra nunca mais voltar, de tudo que passa, só ficará

De tudo que fica só lamentar

Com todas as penas, não voará.

Amor, te leve, que de tão leve se esvaiu.

A morte breve, e de tão breve, nos consumiu.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

No Verde - Louro desta Flâmula, existe um túnel, e espelhos d’água.



Sob os canteiros coloridos e as árvores robustas da cidade canção, prolifera-se uma planta inóspita. Uma erva daninha arrojada, moderna, de traços retilíneos, de temperatura gélida, erva em forma de concreto, ela cativa pela altura estonteante, derruba com golpe rasteiro a compreensão sobre a beleza. É como uma mulata que pinta os cabelos de loiro, ou a loira que pinta os cabelos de preto, é a perda da identidade e da referência, que passa despercebida aos olhos de quem acredita na falácia do desenvolvimento urbano, por meio da construção acelerada de prédios, centros comerciais, shoppings, luxuosos condomínios residenciais, faculdades privadas, hipermercados, tudo isso sob a égide do consumismo exacerbado, que se reverbera numa concepção destorcida do que uma cidade realmente precisa para ser considerada desenvolvida.

Entendo, desconfiado, os defensores deste desenvolvimento urbano proposto pelo governo pepista, por estarem imersos numa ignorância dos fatos, como eles são em sua raiz, concebendo a beleza a partir das ideias já vendidas pela ideologia dominante, os famosos padrões estéticos, pautados numa beleza duvidosa e pouco inteligente. Via de fato, é claro que todos querem desfrutar da beleza do lar, do conforto, de novas tecnologias, de tudo aquilo que o homem é capaz de produzir. O que deve ser questionado, em primeiro lugar, é se todos podem fazer usufruto destes bens, e em segundo lugar, qual o limite entre produzir o conforto e beleza, e destruir tudo isso, usando do mesmo discurso?

Quando alguns abnegados encaram o protesto contra a reforma da catedral, ou a construção do túnel na UEM, como uma perseguição política, ou como falta do que fazer, o que fica explicito, é a profunda incapacidade de questionar a realidade, além dos códigos explícitos. Há de se interpretar este texto que a realidade nos apresenta, buscando justamente compreender aquilo que não vem estampado, e que de fato, não há intenção em ser visto. Assim, quando questionamos o modo como se conduziu os procedimentos para a reforma da catedral, voltamos os olhos a impulsividade quase doentia de se atravessar um túnel dentro da UEM, e na memória resgatamos uma série de outros eventos, que fazem um delineamento daquilo que vai constituir a continuidade desse método autoritário e aburguesado de governar. Entre estes eventos, a derrubada da antiga rodoviária, com o simples propósito de construir um estacionamento, a cidade sendo planejada para fluidez no transito, e pedestres cada vez mais sem opções de circulação segura, ciclistas então, invisibilizados completamente.

“Por fora bela viola, por dentro, pão bolorento”, definiria as ações políticas investidas pelo governo pepista. O que de fato há, é a construção de uma imagem, produzindo uma ideia de pertencimento na população, assim, atordoados, vestem a camisa, e regam a erva daninha, para suas próprias agruras. Uma bela catedral, rodeada de espelhos d’água fotografada em época natalina, entre fogos de artifício, e as luzes decorativas, criam esta sensação de fazer parte de algo grandioso, de sentir-se orgulhoso de morar nessa cidade, te faz acreditar ter o direito de dizer ao mundo sobre as belezas do lugar em que você vive, mesmo, vendo a catedral de longe, de alguma das periferias, com canteiros nem tão floridos, com arvores nem tão robustas, com ruas nem tão limpas, com pontos de ônibus nem tão sofisticados, com arvores nem tão decoradas, com casas nem tão bonitas. A lógica é essa, centralizar as benfeitorias e criar a sensação de que todos estão sendo beneficiados. O centro da cidade vizinha à cidade canção, coincidentemente, governada por um pepista, segue o mesmo rumo, a avenida central, perdeu qualquer resquício de árvore, para calçadas e postes. Qualquer imbecil que por ali passe, enxerga o progresso, o desenvolvimento urbano. Este imbecil que vos fala, não compreende como este retrocesso pode ter chegado com essa nova roupagem, sem sequer ser notado.

Esse desvio de foco proposital, que nos faz preocupar-se com questões estéticas do município, escamoteia a não preocupação com questões que deveriam ser resolvidas definitivamente, antes ou junto a qualquer embelezamento falseado da cidade, como educação e saúde, sem banalizações. Não estou falando de merenda, nem de uniforme escolar, por que se a preocupação for essa, continuemos cultuando a bela catedral e sua magnitude, ou ainda os megalomaníacos projetos de centro cívico, ou túnel da UEM. Estou falando de se aprofundar nas verdadeiras mazelas, que nos colocam em classes diferentes, e que de fato mudariam a estrutura social, estou falando de dignidade, de liberdade e de igualdade, sem utopia, me refiro a ações concretas, não do concreto espalhado literalmente substituindo a capacidade intelectual da população, mas de ações efetivas, reais, sobre a realidade, que transcendam os espelhos d’água.




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