Hoje, com olhos de gente grande, faço rugas na testa tentando puxar pela memória quais eram as minhas atitudes de aluno, quais eram as atitudes dos meus professores e como era a escola a qual pertenci por uma década inteira. Muito tempo não acham? Do pré ao fim do ensino médio foram longos 12 anos, 11 na mesma escola. Posso dizer que acompanhei por um longo período o processo de desenvolvimento estrutural, desde as salas novas, aos muros de concreto que substituíram os alambrados de ferro. Foram várias pessoas, indo e vindo, vários professores indo e vindo, alguns estiveram desde o inicio e permaneceram, alguns amigos carrego até hoje como grandes companheiros.
O que eu quero me perguntar mesmo, é como é que andava a minha educação, e a educação na minha escola nesses tempos. Quero saber da minha vontade de estudar, de ler, das minhas facilidades em aprender, em prestar atenção, em buscar conhecimento, em escrever, em criar, em respeitar. Eu fui um bom aluno? Eu tive bons professores? Eles sofreram comigo e com a situação a qual eram sujeitados? Por que eu realmente nunca pensei que pudesse estar desse lado, o do professor. Sim, além dos 12 anos, foram mais 5 anos estudando no ensino superior, aprendendo coisas que em 12 não fizeram nem cócegas no meu cérebro. Hoje, eu vejo que aprendi muita coisa, contudo, o desafio maior, é justamente transmitir todo esse conhecimento que me abriu a mente, às mentes fechadas, caminhando contra todo um sistema de ensino que aprendeu que não precisa ensinar muita coisa, o sistema cooptado e inserido no modelo capitalista não vislumbra grandes cérebros, e contenta-se com seres alfabetizados, capazes de tornarem-se massa de manobra no máximo, sem grandes possibilidades de articulação e transgressão do modelo social vigente.
Aos que sonham ser professores e compartilhar de um ambiente de cultura e intelectualidade, acreditem, eu fiquei bestificado com a ignorância, a falta de companheirismo, a grosseria, a falta de comprometimento, e vejam só, a falta de EDUCAÇÃO por parte dos mesmos. Um ambiente hostil, um ambiente calcado na covardia de homens traiçoeiros construídos pelo sistema. Uma decepção. Como lidar com a falta de compaixão, com a falta de solidariedade daqueles que deveriam ser os primeiros a te acolher? Ronda um preconceito obscuro por todos os lados meio aos educadores, meio ao ambiente já hostilizado. Preconceito com quem esta iniciando, preconceito com professores do PSS- Processo de Seleção Simplificada, e o preconceito com o professor de Educação Física, o que não é novidade para ninguém. E eu me pergunto, com tantos desafios, ainda somos obrigados a enfrentar esse tipo de situação?
E me pergunto, pais, vocês se preocupam com a educação de vossos filhos? Será que ninguém consegue perceber onde chegamos? Ou será que fingimos? Não sei o que sabem sobre as escolas, mas o que vejo, é um lugar tomado por dinossauros e fosseis de uma educação que já não dá mais conta de ensinar nos moldes tradicionais, e faz desse angu, o prato principal. Já esta muito claro que a preocupação do Estado e da secretaria de educação, é com os números, as estatistias, quanto mais alunos aprovados, maior o índice de alfabetizados, de corpo na escola, menos evasão. Ora, se está tão fácil assim ser aprovado, por que desistir? Não que eu deseje alunos desistindo, mas isso é tão estratégico. O pré histórico livro de chamadas ainda é o meio de controlar professores e alunos, misturando-se aos conselhos de classe, que são medonhos. Um tal de aluno que não pode reprovar daqui, e não pode reprovar dali. Professor fazendo das tripas coração para passar aluno, fazer livro de chamada, avaliar, dar aula, cumprir horários, planejar aula, e ele ainda tem que se atualizar. O caos. assim eu caracterizo a educação. Os alunos, em grande parte estão se transformando em mão de obra, seres não pensantes, não críticos, emburrecidos, ignorantes, e semi analfabetos. Os professores mais velhos estão cansados, e espalham um discurso derrotista e conformado, diante de uma educação desestimulante. Te pedem inovação e criatividade, e não lhe oferecem ao menos uma cartolina, a falta de material, de condições estruturais, de quadras, de materiais esportivos, somam a todos os problemas deste ambiente e montam um quadro desesperador.
Dia desses tentei trabalhar um texto em sala de aula, e desisti quando percebi que os alunos não tinham capacidade de interpretação suficiente para entender e debater o assunto, eles eram do ensino médio. Me senti frustrado, não necessariamente derrotado, mas refleti sobre os discursos fúnebres sobre a educação que veio dos outros professores. As mãos parecem atadas vez ou outra, por que se briga com aluno que não quer aprender, se briga com professor que não te respeita, se briga com funcionários que não querem trabalhar, por que se você começar a movimentar a estrutura, consequentemente os outros tem que se mover, e é tamanha a estagnação, que as reações são as mais adversas, desde caras feias, a caras mais feias ainda. O fato é que o ambiente escolar me parece mudado, as salas de aula me parecem causar um certo desconforto, uma vontade de fugir, a sala dos professores me parecem frias e emburrecidas, e todos caem nessa teia do Estado, que nos faz insetos enredados, sem ter pra onde fugir.
Eu concordo inteiramente com o seu texto.
ResponderExcluirAcho que o principal culpado (sim, CULPADO) pelas falhas da educação é o governo - que vai sediar uma copa com um dinheiro que até então ninguém sabia como conseguir - mas que sempre faltou pra infraestrutura do país.
O segundo responsável pelo caos, são os alunos e suas famílias com mentalidade de jegue (é o que penso). O aluno já chega na sala de aula com os genes da corrupção e do desrespeito vindos de casa.
Daí tem os professores, desmotivados e mal preparados e sem criatividade - incapazes, no fundo.
Claro que estou sendo generalista e preconceituoso porque supostamente eu sou alguém que teve oportunidade de uma boa educação. Tive mesmo, mas não atribuo a minha educação ao nosso sistema de ensino básico/médio.
Quem me alfabetizou e me ensinou a fazer conta foi a minha mãe, quem me "profissionalizou" foi a universidade, vaga que eu consegui por mérito exclusivamente meu e da minha família, que teve dinheiro e paciência pra me financiar.
Mas não guardo mágoa não. E acho que tem muita escola boa por aí e ótimos professores. Mas eu não tive essa sorte.
E sei que você sabe que eu estou falando isso na humildade, porque você me conhece. E sabe que acredito em você.
Abraços.