Milton Santos já nos
alertou para o uso das mídias e da globalização das tecnologias em favor da
articulação das massas marginalizadas no documentário “Globalização MiltonSantos: O mundo global visto do lado de cá”, porém em um sentido voltado para a
disseminação da cultura popular, e da intervenção da mesma na mídia. O que
temos nas mãos é uma arma poderosa, o que nos falta grande parte das vezes é maturidade
para lhe dar com tamanha capacidade de destruição, ou construção de uma nova
realidade social que se baseie em conhecimentos construídos tanto
empiricamente, quanto cientificamente. O estado neoliberal e o novo modelo de
sociedade capitalista em sua essência carregam o mesmo ranço de sociedade
classista e disputa de poderes que se construiu historicamente no
desenvolvimento da sociedade, portanto a luta de classes é um elemento real,
não podendo ser considerado uma condição superada, como alegam os "antipobres" e "antiesquerdas", que em uma condição de acefalia produzem o velho maniqueísmo,
direita versus esquerda em forma de recorte, desprezando todo o processo que
desembocou nesta condição fragmentada de homem e de sociedade. Compreender que
os conceitos dissolvidos sobre sociedade de classes pela classe dominante estão
mais sólidos do que nunca, é essencial. A ideologia de igualdade estabelecida
hegemonicamente configura um estado de inércia, já que corresponde a uma pseudo
igualdade disseminada enquanto verdade, enquanto realidade no mundo, nos países,
nos estados, nos municípios, em Sarandi, por que a ideologia é universal e se
assegura da globalização para construir o baluarte do capitalismo moderno, que
se reconstrói não obstante das ideologias contrarias, absorvendo terminologias
e significados que caracterizam a luta da classe explorada contra seus
exploradores, e confundem, e ridicularizam os movimentos sociais. Assim, diante
destas condições, partidos veem-se obrigados a “emburguesar-se”, a
engravatar-se, a coligar-se, e a aliar-se para atender a demanda social que
cada dia torna-se mais equivocada, imediatista e factual.
O debate precede um confronto de ideias
que convergem e divergem entre si, debates nem sempre precisam ser acalorados,
da mesma forma que a serenidade da fala não garante sua legitimidade. Verdades
e mentiras podem sair aos berros, ou em tom de veludo, isso não é fator
determinante. O debate político de Sarandi não representou um debate de ideias,
e de filosofias definidas e bem estruturadas, apenas refletiu escancaradamente
a configuração da ideologia burguesa em conflito com a classe dominada representada
teoricamente pelo candidato Professor Adauto, o máximo da resistência que temos
entre os candidatos. A gestão de Carlos Alberto
de Paula (PP) consolidou Sarandi como uma cidade de aparências e do progresso
calcado no cimento, atendendo os interesses das loteadoras e construtoras.
Obras grandiosas aos olhos de uma população estigmatizada pela despolitização
marcaram a administração. Junto com o dito progresso, a ausência de políticas
públicas voltadas à qualidade de vida da população, fazendo-nos padecer das
agruras de qualquer cidade grande: violência crescendo em níveis alarmantes,
trânsito caótico, bairros sem equipamentos públicos suficientes, faltam vagas
nas creches e as enormes filas de espera para atendimento especializado de
profissionais da saúde, parecem não ter solução. E foi essa linha de raciocínio
que ele traçou seus argumentos no debate, um verdadeiro obreiro na cidade, com
um senso político visivelmente inexistente, compartilha da filosofia PMDBista e
PSDBista, um pensamento elitista e verminoso que se alia aos grandes
empresários defendendo os interesses da classe dominante, e garantindo o estado
mínimo para a conformação da massa sarandiense, quando o que precisamos é
justamente quem esteja na causa dos trabalhadores que constroem com a força
física, perdendo a dignidade e a qualidade de vida, a subsistência de toda a
sociedade. O candidato Carlos Alberto de Paula é uma força reacionária, é uma
extensão do Serra, do Russomano, do Garotinho, do Marco Feliciano, do Kassab, do
Pupin e pasmem, do próprio Beto Richa, com apoio ou sem apoio, a ideologia é a
mesma, é baseado numa ideia de governo assistencialista, que flexibiliza as
responsabilidades da coisa pública, que favorece a instituição privada, que
precariza a educação, a saúde e a cultura, e cujo único interesse pela
população enxovalhada e humilhada, e culpabilizada pela sua condição de
miséria, é a garantia de mão de obra, de força produtiva no mercado.
O candidato Walter Volpato demonstra o
esvaziamento da consciência política, se enveredando por caminhos sinuosos que
não garantem uma resistência, não passa de um objeto de extensão do governo
estadual, um braço do Beto Richa em Sarandi seria ser conivente com toda a
humilhação histórica com a classe de professores, é inadmissível conceber uma
aliança entre classe oprimida e a classe opressora. Ele usa de argumentos tão
vazios, como o de residir e construir seu patrimônio todo em Sarandi, como se
isso o tornasse acima de qualquer suspeita, como se isso fosse garantia de
honestidade, e de legalidade. Ser um grande empresário particular, administrar
muito bem o próprio patrimônio se tornou entre os eleitores crucial nas
eleições, o que não compreendem é que isso não é o bastante. Nós precisamos
acreditar em partidos como o PSTU e PSOL que seguem a mesma linha na mesma
coligação. É o partido Do Jean Willys, da Amanda Gurgel que calou o senado com
seu discurso sobre a educação, que não é financiado por loteadoras,
empreiteiras, empresários, que não tem a propaganda televisiva com a qualidade
de imagem Full HD, que não esta preocupado com estética, com imagem, com
futilidades e muito menos com os interesses da classe dominante. Que fazem
história nos movimentos sociais, que estão do lado das minorias sufocadas pelos
padrões sociais vigentes, e que preferem que o poder seja tomado por
trabalhadores, por pobres, e não acreditam que só engravatados são capazes de
administrar um governo. E se em Sarandi o máximo da resistência que
temos é o candidato a prefeito Professor Adauto, e o candidato a vereador
Bianco, é nossa obrigação enquanto povo estigmatizado pela violência e pela miséria
permitir que nossos representantes saiam do nosso meio, da nossa essência. Não
podemos cometer o equivoco substancial da valorização da propriedade privada, e
eleger os donos, os pequenos burgueses, a fulana da loja, o fulano da loja de
bicicleta, o ciclano dono de garagem de carro, o ciclano da autoescola, por que
todos esses vermes são covardes, egoístas e traiçoeiros, e não pretendem
representar o povo na prefeitura, e nem na câmara de vereadores, eles vão
representar seus próprios interesses, ou de seus aliados políticos.
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