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segunda-feira, 18 de maio de 2015

SARANDI, UMA CIDADE SEM GÊNERO.



Em segunda discussão na câmara municipal de Sarandi, foi aprovado uma emenda que altera no Plano Municipal de Educação, o termo gênero, para sexo.




Essa mesma discussão se deu no âmbito nacional, quando houve uma tentativa de um grupo político de eliminar o termo gênero do Plano Nacional de Educação. Quais são de fato, os objetivos destes grupos ao propor essa mudança?
Para responder esta pergunta, precisamos antes entender a diferença entre gênero e sexo. O sexo refere-se ao aspecto biológico (macho e fêmea). Já o conceito de gênero (feminino e masculino) é uma construção social. Nessa construção, as sociedades definem o que consideram ser um comportamento adequado às mulheres, ou seja, ao feminino, e o comportamento adequado aos homens, ou seja, ao masculino. Gênero serve, dessa forma, para determinar tudo que é social, cultural e historicamente definido e não é sinônimo de sexo. É mutável, pois está em constante processo de ressignificação devido às interações concretas entre indivíduos do sexo feminino e masculino.
O que acontece é que sexo diz respeito somente ao aspecto biológico, e ignora a construção da identidade social e de gênero. Alguns homens e algumas mulheres não se identificam com suas determinações biológicas de sexo, ou seja, o corpo apresenta um sexo que não condiz com sua identidade de gênero. Estes homens e mulheres são transexuais e transgêneros, e socialmente são marginalizados, principalmente no âmbito da religião.
Considerando as reflexões sobre gênero e sexo, podemos então iniciar uma tentativa de responder à pergunta feita anteriormente: quais são de fato, os objetivos destes grupos ao propor essa mudança?
Existe hoje no Brasil um avanço do fundamentalismo religioso que busca infiltrar-se em todos os níveis políticos, sejam federais, estaduais ou municipais. No congresso nacional atualmente temos uma bancada evangélica que vem ganhando cada vez mais poder, e junta forças com a bancada da bala, e do “boi” (os ruralistas), estes têm uma pauta ultraconservadora para o país, e nesta pauta entra negar veementemente todo e qualquer direito pleiteado pelas minorias, pelos lgbts, pelos sem teto, sem terra, etc. Considerando uma onda de ataques as lutas dessas minorias por direitos que vem acontecendo nos últimos tempos, sempre baseados e fundamentados em argumentos religiosos e valores conservadores, não fica difícil compreender quais os reais motivos para tais mudanças nos textos que buscam garantir direitos e igualdade a todos, caminhando na contramão da igualdade concreta.
O que vivenciamos em Sarandi, a partir de agora uma cidade sem gênero foi nada mais, que a reprodução de uma onda conservadora que vem crescendo assustadoramente, e angariando uma juventude completamente desconexa com as mudanças sociais que ocorrem no mundo.
É preciso destacar que os procedimentos para essa mudança de termos no Plano Municipal de Educação, deu-se de forma no mínimo suspeita. Existem perguntas óbvias, que não nos fazemos, como por exemplo: Em que momento os vereadores de Sarandi sentiram a necessidade de propor essa emenda alterando o termo gênero para sexo? Baseado em que e por qual motivos? Os vereadores sabem verdadeiramente a diferença entre sexo e gênero? Como essa modificação beneficia a sociedade? Existe nessa alteração alguma relação com as crenças religiosas dos vereadores? Os vereadores sabem o que é um Estado Laico? Por que ao saber que no dia 18 de maio, dia em que seria votada a alteração em segunda discussão, a câmara municipal estava lotada de pastores, religiosos, e seguidores religiosos? Qual interesse deles nisso? Por que eles chamaram um biólogo para justificar a alteração do termo gênero para sexo? Seria uma tentativa de “biologizar” argumentos a fim de validá-los, já que argumentos religiosos seriam facilmente refutados, visto a laicidade do Estado?
Infelizmente não tivemos tempo de fazer estas perguntas, a alteração mesmo em discussão, que de discussão não tem absolutamente nada, já seria aprovada por unanimidade pelos vereadores de Sarandi. Fato é que não há nenhuma espécie de diálogo entre a câmara de vereadores e a população, aprova-se e desaprova-se sem qualquer dificuldade, pois não há também pontos de vistas conflitantes entre os próprios vereadores, que comungam de uma linha de pensamento muito parecida. Vamos saber quem são, e quais partidos representam:
BELMIRO DA SILVA FARIAS
Eleito Vereador pelo PDT, com 1.156 votos
EUNILDO ZANCHIM
Reeleito Vereador Pelo PPS, com 1.017 votos
JOSE´ROBERTO GRAVA
Reeleito Vereador pelo PSC, com 1.022 votos. 

ADILSON MARQUES DA SILVA
Eleito Vereador, pelo PP,  com 756 votos.

AILTON RIBEIRO MACHADO
Eleito Vereador, pelo PDT com 1.284 votos

JOSÉ APARECIDO DA SILVA "NITO"
Reeleito Vereador, pelo PSD, com 1.133 votos
ERASMO CARDOSO PEREIRA
Eleito Vereador, pelo PCdo B, com  2.443 Votos.

NELSON DE JESUS LIMA
Eleito Vereador, pelo PCdo B, com  919 votos.



CILAS SOUZA MORAIS
Eleito Veredor pelo PSB, com 1.098 votos.

RAFAEL PSZYBYLSKI
Reeleito Veredor pelo PP, com 1.030 Votos

Partidos, PDT (Partido Democrático Trabalhista), PPS (Partido Popular Socialista), PSC (Partido Social Cristão), PSD (Partido Social Democrático), PSB (Partido Socialista Brasileiro), PP (Partido Progressista) E PCdoB (Partido Comunista do Brasil). Considerando os partidos, poderíamos dizer algumas coisas, primeiro que de alguém que faz parte do PSC, mesmo partido do Marco Feliciano, eu não poderia esperar outra coisa a não ser a perseguição contra as minorias, sobre quem está no PSB e no PCdoB, eu fico pensando se não seria interessante avisar os dirigentes nacionais dos partidos sobre os tipos de posicionamentos que seus membros andam disseminando Brasil a fora, por que não condiz com as ideias do partido. A verdade, é que em Sarandi, a cidade sem gênero, ideias e partidos não querem dizer nada, vereadores tem opiniões individuais, e somente essas opiniões são levadas em consideração, nada é coletivizado e estudado com profundidade, e tudo perpassa por proselitismo religioso. Se no congresso temos a bancada BBB, da bíblia, da bala e do boi, aqui na câmara de Sarandi, estes interesses e pensamentos são unanimidade.
Não há no poder, oposição a estes posicionamentos obscurantistas, e não há um forte movimento popular, que dificulte a vida dos políticos sarandienses. Eu diria que em Sarandi não há gays, não há transexuais e nem transgêneros, afinal de contas, na câmara de vereadores quando a proposta estava em discussão, eles não estavam lá. Quem lotava a casa, eram os principais interessados em aniquilar direitos dos LGBTS, fundamentalistas religiosos, pastores e seguidores. Eles ovacionaram um discurso biologicista, a alteração foi aprovada, e agora? A última chance de reverter esta situação é pressionar para que o Prefeito Carlos Alberto de Paula do PDT, vete essa alteração, entretanto, o gênero de Sarandi vai ter que sair do armário, e se mobilizar com veemência, é chegada a hora da construção de um grupo que milite pela diversidade em Sarandi, e que entre para a política, por que os religiosos, estão fazendo justamente isso. É preciso que todos aqueles que militem pelos direitos das minorias, e pela diversidade se posicionem e se juntem nessa luta, Sarandi precisa do Movimento Gay de Maringá, dos estudiosos da diversidade e de gênero da Universidade Estadual de Maringá, não de textos e pesquisas, não neste momento, agora é na rua.

Parte deste texto foi publicado no Jornal O Diário de Maringá no dia 22 de maio de 2015. segue o link http://digital.odiario.com/opiniao/noticia/1404462/cidade-sem-genero/

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