É possível não se chocar ou ficar
indiferente a brutalidade dos crimes cometidos por adolescentes no Rio de
Janeiro e no resto do país? É possível ser indiferente a qualquer que seja a
brutalidade ou violência? Será mesmo pertinente este questionamento? Talvez
seja mesmo, afinal de contas, tudo indica que vimos ao longo dos anos
naturalizando, e aceitando a violência em nosso cotidiano, como se fizesse
parte da natureza humana. Aliás, é possível que toda essa violência brutal se
origine dos genes humanos? Seriam todos os criminosos e assassinos impiedosos
já predeterminados biologicamente a serem o que são?
Mas quem são os criminosos? Quem
são os assassinos? Quem está envolvido com o crime e com a violência? Quem está
ocupando as vagas das penitenciarias do Brasil? E por que o terceiro pais em
população carcerária, não é o terceiro pais mais seguro do mundo?
Quem ou o que gesta e dá a luz a
essa violência parida diariamente no país? Ser violento ou criminoso é ou pode
ser considerado uma escolha? Existem ou existiram caminhos diversos para quem
se enveredou pelo caminho do crime e da violência? É possível esperar de quem
nasce no seio do crime e da violência, vive e respira diariamente o crime e a
violência, algo que não seja crime e violência? O dever do Estado é
proporcionar caminhos diferentes do crime e da violência? O modelo de sociedade
capitalista que se regozija da desigualdade, do acumulo de riquezas, e da
exploração de uma classe sobre a outra é determinante na fertilização da
violência? A história de desigualdades sociais e raciais influenciam na importância
que damos ao crime e a violência? Se o crime é na favela, se o morto é preto e
pobre, é violência, ou acerto de contas entre gangues e traficantes? Se o crime
é na lagoa Rodrigo de Freitas, o morto é branco e médico é violência brutal, é inadmissível
que pessoas boas paguem pela violência generalizada? O preto da favela, matando
médico branco na Lagoa Rodrigo de Freitas não seria uma espécie de acerto de
contas? Esse acerto de contas como herança é justificável?
A história é implacável, a forma
como a sociedade brasileira se organiza desde o império, desde os 300 anos de
escravidão, desde a formação das favelas, desde os herdeiros das terras, das
grandes propriedades, dos grandes negócios e empresas, descendentes dos donos
de escravos que se beneficiam hereditariamente de atrocidades de outrora. Tudo
vai tomando uma forma muito lógica, muito exata, mas também muito complexa e
subjetiva, pois no “ring” encontram-se diversificadas formas de ver, analisar,
contar, reproduzir a história e as ideologias, e no modelo de sociedade que
estamos, a ideologia que prevalece, é a dominante, quem conta a história são os
colonizadores, os donos de escravos, os exploradores.
Muitas vezes, quando não na
maioria das vezes, a violência brutal e incompreensível, é a resistência, é o
troco, é a resposta.
Enquanto o Estado defender apenas
os interesses das classes dominantes, enquanto a ações do Estado forem a
reprodução do escravagismo, não haverá possibilidade de paz, e a resistência
vai ser chocante, brutal e descolada do contexto, vai ser difícil entender.
Enquanto a resposta for mais preto nas senzalas, e cada vez mais jovens, não há
de se ter paz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Pedras na janela