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segunda-feira, 25 de maio de 2015

Para além da violência.

É possível não se chocar ou ficar indiferente a brutalidade dos crimes cometidos por adolescentes no Rio de Janeiro e no resto do país? É possível ser indiferente a qualquer que seja a brutalidade ou violência? Será mesmo pertinente este questionamento? Talvez seja mesmo, afinal de contas, tudo indica que vimos ao longo dos anos naturalizando, e aceitando a violência em nosso cotidiano, como se fizesse parte da natureza humana. Aliás, é possível que toda essa violência brutal se origine dos genes humanos? Seriam todos os criminosos e assassinos impiedosos já predeterminados biologicamente a serem o que são?
Mas quem são os criminosos? Quem são os assassinos? Quem está envolvido com o crime e com a violência? Quem está ocupando as vagas das penitenciarias do Brasil? E por que o terceiro pais em população carcerária, não é o terceiro pais mais seguro do mundo?
Quem ou o que gesta e dá a luz a essa violência parida diariamente no país? Ser violento ou criminoso é ou pode ser considerado uma escolha? Existem ou existiram caminhos diversos para quem se enveredou pelo caminho do crime e da violência? É possível esperar de quem nasce no seio do crime e da violência, vive e respira diariamente o crime e a violência, algo que não seja crime e violência? O dever do Estado é proporcionar caminhos diferentes do crime e da violência? O modelo de sociedade capitalista que se regozija da desigualdade, do acumulo de riquezas, e da exploração de uma classe sobre a outra é determinante na fertilização da violência? A história de desigualdades sociais e raciais influenciam na importância que damos ao crime e a violência? Se o crime é na favela, se o morto é preto e pobre, é violência, ou acerto de contas entre gangues e traficantes? Se o crime é na lagoa Rodrigo de Freitas, o morto é branco e médico é violência brutal, é inadmissível que pessoas boas paguem pela violência generalizada? O preto da favela, matando médico branco na Lagoa Rodrigo de Freitas não seria uma espécie de acerto de contas? Esse acerto de contas como herança é justificável?
A história é implacável, a forma como a sociedade brasileira se organiza desde o império, desde os 300 anos de escravidão, desde a formação das favelas, desde os herdeiros das terras, das grandes propriedades, dos grandes negócios e empresas, descendentes dos donos de escravos que se beneficiam hereditariamente de atrocidades de outrora. Tudo vai tomando uma forma muito lógica, muito exata, mas também muito complexa e subjetiva, pois no “ring” encontram-se diversificadas formas de ver, analisar, contar, reproduzir a história e as ideologias, e no modelo de sociedade que estamos, a ideologia que prevalece, é a dominante, quem conta a história são os colonizadores, os donos de escravos, os exploradores.
Muitas vezes, quando não na maioria das vezes, a violência brutal e incompreensível, é a resistência, é o troco, é a resposta.

Enquanto o Estado defender apenas os interesses das classes dominantes, enquanto a ações do Estado forem a reprodução do escravagismo, não haverá possibilidade de paz, e a resistência vai ser chocante, brutal e descolada do contexto, vai ser difícil entender. Enquanto a resposta for mais preto nas senzalas, e cada vez mais jovens, não há de se ter paz.

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