Afinal, quem são os homens
que devem ter os seus direitos enquanto humanos garantidos? Talvez os homens,
homens. Sim, os homens do sexo masculino, do gênero, macho. Talvez, um homem
branco, sim, com a pele clara, nada de miscigenação. Talvez, um homem alto,
isso mesmo, um homem macho, branco, alto e magro. Talvez seja exagero dizer que
o estereótipo de homem direito, perpasse por tantos estigmas, por tantos padrões
sociais, e recaiam na ideologia dominante como principal elemento coadunador da
ideia burguesa e da prática inversa como base dos direitos humanos. Como se não
bastasse todos os fenômenos sociais estarem reféns do modelo social, os
direitos humanos, também estão. Estamos vivendo um momento histórico onde as
conquistas dos direitos dentro da sociedade estão sendo mais do que
invisibilizados, estão sendo contrapostos enquanto um abuso de liberdade, estão
sendo banalizados como se ter direitos fosse um exagero. A liberdade esta
levando a culpa, o direito esta levando a culpa pelas mazelas que constituem o
modelo de organização social capitalista, que tem como base fundamental a
desigualdade sócio econômica, e que gera em seu ventre a eterna contradição, a luta de classes, a
violência, a falta de referências. A sociedade em sua maioria embebecida da
ideologia dominante reproduz a lógica burguesa de tempo, de produtividade, de
consumo, de liberdade, de superação, de ascensão social, de individualização e
responsabilização pelos fracassos gerados pelo próprio sistema. O fracasso na
educação, o fracasso no trabalho, na cidadania, na dignidade, na saúde, são
debelados aos próprios homens, e nessa perspectiva, inculcados dessa lógica, o
homem direito acredita que suas conquistas e sua acumulação de bens dependem
exclusivamente do teu próprio esforço, do trabalho assalariado, depende de
acordar cedo todos os dias, de ser hábil, criativo, disposto, dinâmico, depende
de uma doação integral a expropriação efetuada pelos donos do capital. Essa
lógica neoliberal corroborada com o entrave das religiões, que conformam a
massa, com a suposta condição determinada por forças divinas, torna os homens
cada vez mais desarticulados, fragmentados, e reduzidos a sua condição
coisificada de objeto de consumo ou consumidor, onde os direitos ganham a mesma
conotação, o direito de se vender, o direito de comprar, o direito de possuir,
o direito de estabelecer dentro da sociedade relações de poder que distinga uma
classe em detrimento de outra. É nessa distinção demoníaca entre as classes,
que insurgem os paradigmas a respeito de quem pode ter direitos, e de quem não
pode, como se ter direitos fosse uma condição determinada pelas condições sócio
econômicas, pelo status dentro da sociedade, pela frequência na missa aos
domingos, pelo moralismo disseminado, pelo conservadorismo e tradicionalismo da
sociedade hipócrita cristã e evangélica. Quantas vezes ouvi de dementes sociais
coisas do tipo “ nasci pobre, passei por várias dificuldades, e sou uma pessoa
boa, portanto todos podem ser, basta querer”, e isso, é o que querem que
pensemos, que tudo é uma questão de superação, de vontade, de esforço
individual, porém sinto lhes informar que não é. Não basta querer, não basta
trabalhar a vida toda, não basta fazer orações todas as noites, não basta ser
otimista, ou voluntário social, amigo da escola, não basta. Não basta acreditar
que os prazeres da vida precisam ser precedidos todos de sacrifícios, é preciso
entender que as condições não são determinadas por uma força oculta, pelo
contrario, existem forças reais, concretas, palpáveis, que distanciam os homens
do pensamento reflexivo sobre sua existência e suas condições de vida sobre a
terra. Os direitos humanos são claramente direcionados para todos os humanos,
mesmo aqueles que não seguiram os padrões morais estabelecidos e construídos
socialmente, os direitos humanos não defendem os direitos de bandidos, defendem
os direitos dos humanos, que tem suas dignidades violentadas, e por isso os
direitos humanos muito provavelmente não vão atuar defendendo ricos,
empresários, políticos, por que estes, pouco provável sofreram essa violação a
sua dignidade, na maioria das vezes estes são os violadores da dignidade dos
que não podem comprar, possuir, ordenar. Essa compreensão a respeito dos
direitos humanos e da liberdade baseada na ideologia burguesa esta equivocada e
precisa ser repensada.
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