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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

O desinteressar


Definitivamente
Ando desinteressado pelo desinteressante
O aviltante desinteresse que desinteressa
Tornei-me desatento, sonolento.

Definitivamente
Ando despreocupado e nauseante
Com cada papo de muita pressa
Calei-me o intento, ao seu contento.

Definitivamente
Ando descolado e desconcertante
O contagiante constrangimento que se expressa
Interessei-me pelo vento, ao relento.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Vivacidade


Tomei vivacidade
Cada gole uma gota de tristeza
Cada gota uma pitada de falta
Cada pitada um cisco de morte.

Apossei-me da vida
Cada toque um tom de sutileza
Cada tom, tiro pela culatra.
Cada tiro um risco de sorte.

Falseei-me pela verdade
Cada história um conto de mesa
Cada conto uma dose de malta
Cada dose um gado de corte

Vivi, possui, fingi.
Engoli, toquei, contei.
Cortei, joguei e morri.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Comprimido



Comprimido,
Cura algumas dores
Duas cartelas, dois amores

Comprimido,
Dentro do peito
Sopro de ar, elo desfeito

Comprimido,
Explodes as mágoas
Comprime nas celas tudo que fores. 

Comprimido,
Engoles algumas palavras
Verteis lágrimas pelo sujeito

Aos homens direitos, direitos humanos!


Afinal, quem são os homens que devem ter os seus direitos enquanto humanos garantidos? Talvez os homens, homens. Sim, os homens do sexo masculino, do gênero, macho. Talvez, um homem branco, sim, com a pele clara, nada de miscigenação. Talvez, um homem alto, isso mesmo, um homem macho, branco, alto e magro. Talvez seja exagero dizer que o estereótipo de homem direito, perpasse por tantos estigmas, por tantos padrões sociais, e recaiam na ideologia dominante como principal elemento coadunador da ideia burguesa e da prática inversa como base dos direitos humanos. Como se não bastasse todos os fenômenos sociais estarem reféns do modelo social, os direitos humanos, também estão. Estamos vivendo um momento histórico onde as conquistas dos direitos dentro da sociedade estão sendo mais do que invisibilizados, estão sendo contrapostos enquanto um abuso de liberdade, estão sendo banalizados como se ter direitos fosse um exagero. A liberdade esta levando a culpa, o direito esta levando a culpa pelas mazelas que constituem o modelo de organização social capitalista, que tem como base fundamental a desigualdade sócio econômica, e que gera em seu ventre a  eterna contradição, a luta de classes, a violência, a falta de referências. A sociedade em sua maioria embebecida da ideologia dominante reproduz a lógica burguesa de tempo, de produtividade, de consumo, de liberdade, de superação, de ascensão social, de individualização e responsabilização pelos fracassos gerados pelo próprio sistema. O fracasso na educação, o fracasso no trabalho, na cidadania, na dignidade, na saúde, são debelados aos próprios homens, e nessa perspectiva, inculcados dessa lógica, o homem direito acredita que suas conquistas e sua acumulação de bens dependem exclusivamente do teu próprio esforço, do trabalho assalariado, depende de acordar cedo todos os dias, de ser hábil, criativo, disposto, dinâmico, depende de uma doação integral a expropriação efetuada pelos donos do capital. Essa lógica neoliberal corroborada com o entrave das religiões, que conformam a massa, com a suposta condição determinada por forças divinas, torna os homens cada vez mais desarticulados, fragmentados, e reduzidos a sua condição coisificada de objeto de consumo ou consumidor, onde os direitos ganham a mesma conotação, o direito de se vender, o direito de comprar, o direito de possuir, o direito de estabelecer dentro da sociedade relações de poder que distinga uma classe em detrimento de outra. É nessa distinção demoníaca entre as classes, que insurgem os paradigmas a respeito de quem pode ter direitos, e de quem não pode, como se ter direitos fosse uma condição determinada pelas condições sócio econômicas, pelo status dentro da sociedade, pela frequência na missa aos domingos, pelo moralismo disseminado, pelo conservadorismo e tradicionalismo da sociedade hipócrita cristã e evangélica. Quantas vezes ouvi de dementes sociais coisas do tipo “ nasci pobre, passei por várias dificuldades, e sou uma pessoa boa, portanto todos podem ser, basta querer”, e isso, é o que querem que pensemos, que tudo é uma questão de superação, de vontade, de esforço individual, porém sinto lhes informar que não é. Não basta querer, não basta trabalhar a vida toda, não basta fazer orações todas as noites, não basta ser otimista, ou voluntário social, amigo da escola, não basta. Não basta acreditar que os prazeres da vida precisam ser precedidos todos de sacrifícios, é preciso entender que as condições não são determinadas por uma força oculta, pelo contrario, existem forças reais, concretas, palpáveis, que distanciam os homens do pensamento reflexivo sobre sua existência e suas condições de vida sobre a terra. Os direitos humanos são claramente direcionados para todos os humanos, mesmo aqueles que não seguiram os padrões morais estabelecidos e construídos socialmente, os direitos humanos não defendem os direitos de bandidos, defendem os direitos dos humanos, que tem suas dignidades violentadas, e por isso os direitos humanos muito provavelmente não vão atuar defendendo ricos, empresários, políticos, por que estes, pouco provável sofreram essa violação a sua dignidade, na maioria das vezes estes são os violadores da dignidade dos que não podem comprar, possuir, ordenar. Essa compreensão a respeito dos direitos humanos e da liberdade baseada na ideologia burguesa esta equivocada e precisa ser repensada.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

O MUNDO DESENHADO LÁ FORA



Eu sempre pintei as portas abertas, sonhando com a liberdade de ser tudo aquilo que obviamente na minha imaginação, não era mais que merecimento, é complexo analisar a realidade, e perceber que nas pinturas, as portas continuam ali, abertas, mostrando um horizonte, infelizmente idealizado demasiadamente para não ser estático como esta. Refletir hoje sobre a evolução do ser, e ao mesmo tempo a depressão do corpo, é tocar as contradições inevitáveis que cerceiam minha sanidade mental, me encontro numa linha tênue desequilibrado sobre o ódio mortal do sistema que me fez sentir-se tão impotente mesmo diante do desvelamento de suas facetas mais cruéis e diante da realidade que cronologicamente não me permite sofrer, não me permite o isolamento, não me permite a fuga, a resignação para retornar fortalecido. As mãos estão atadas, é estar assim, na mira da cruz e da espada, entre viver a realidade, submetendo-se a ela, ou continuar olhando o desenho na parede, idealizando o mundo. O duro de idealizar, é que volta e meia a realidade bate na porta insistentemente querendo entrar, é assustadoramente convincente voltar. Na ideia, as pessoas do meu mundo, se interessam pelo que tens a dizer, demonstram real preocupação, querem estar contigo de verdade, se interessam pelo que você é, não pelo que você tem, ainda no mundo ideal, elas te levam a sério, discutem coisas importantes para o mundo, tem diálogos, sabem se divertir, mas sabem que existem oscilações de humor. No mundo ideal, as pessoas são objetivas, são diretas, elas dizem o que realmente querem, o que realmente pensam, e elas sabem ouvir isso de você, sem que precise pedir. No mundo ideal eu não preciso ficar trancado com medo das barbaridades que vou encontrar, vou ver, que vou ouvir, existe vida inteligente aos montes, vidas que não precisam se esforçar para aparecer, o brilho de todos, iluminam igualmente. No mundo ideal a capacidade de compreensão das pessoas é fantástica, é poético, não preciso exacerbar-se com explicações desnecessárias. Lá fora, o mundo real, te força a conviver com a indiferença diária, com a solidão, com o desinteresse, com a superficialidade, com a incompreensão. O mundo real é cheio de competitividade, exigem uma habilidade de ser falso, de sorrir em demasia, de ser simpático o tempo todo, de agradar o tempo todo, quanto maior o “Net working” maior a garantia de felicidade, as relações sofrem um esvaziamento continuo, a desconfiança é uma constante. No mundo real, o sistema lança suas garras sobre você, prende seu cérebro, seu corpo, vai te adoecendo, dores musculares, enjoos, lapsos de memória, indisposições frequentes, uma imensa vontade de dormir eternamente, de jogar tudo para o alto, de esquecer tudo aquilo que aprendeu, de ser um idiota completo, esquecer qualquer orgulho, rastejar por atenção, dizer asneiras, cumprir horário, seguir a manada. Na verdade, a vida anda sendo um jogo intenso entre o real e o ideal, e partir da realidade material concreta anda sendo de uma desvantagem inócua pra mim, partir da realidade neste momento incide na destruição da mesma.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Canção pra nunca mais.



Não, vou mais voltar, não, vou mais voltar.
Amanhã a gente conversa, esse papo, já não interessa.
Eu recebo do fruto o bagaço
Eu exclamo com peito de aço
Amanhã a gente se estressa nesse passo, cheio de pressa.
Amanhã, a gente se vê, não quero mais sofrer.
Correndo atrás vertiginosamente
Eu tenho o meu orgulho, mas hoje estou carente.
Estou tão inseguro, e preciso te dizer.

Não, vou mais voltar, não, vou mais voltar.
Não, vou mais voltar, não, vou mais voltar.

Hoje você foi tão duro, tão maduro, e eu em cima do muro.
Hoje você disse tudo, que eu precisava ouvir.
E eu me senti tão pequeno, pensando no nosso futuro.
Você foi um sopro de calma, e eu precisava rir.

Sentar e sair
Seguir e sentir
Voltar e partir
Não dá pra esquecer.

Não, vou mais voltar, não, vou mais voltar.
Não, vou mais voltar, não, vou mais voltar.

Mas amanhã, eu apareço, pedindo aconchego
Quem sabe às vezes me esqueço desse orgulho e peço arrego
Eu digo da boca pra fora, por que eu nunca vou embora.
Mas repito feito um disco, naquilo que eu insisto.

Não, vou mais voltar, não, vou mais voltar.
Não, vou mais voltar, não, vou mais voltar.


segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Canção sem mim.



Cantava na calçada uma canção na tua voz
Criava uma parada, que desata tantos nós
E assim eu ia bem, de mim, vivia sem

Relaxa põe o tênis e sai logo pra cantar
Iluminando os bairros, com seu brilho no olhar
E assim eu ia bem, de mim, vivia sem

Balança nessa dança desconectada sim
Desista desses sonhos e conforme-se com o fim
Lá fora existe dor, existem redentores sim
E assim eu ia bem, de mim, vivia sem

Sem sombra sem saber
Assim a solidão convém
Pare lá em casa tome um chá
Seja refém
Desse papo, desse laço, descompasso arrematou
Desse lado há um sonho tão amargo que ceifou

E assim eu ia bem, de mim, vivia sem
E assim eu ia bem, de mim, vivia sem
Sem ti, sem direção
Sem mim, na contramão
Sem fim, sem ilusão.

O gato.



Cama, gato, fama, rastro
Caducado todo o corpo nu
Línguas e desfiles rasos
Sem imposição
Gatos magros recalcados
Desestimulados encontrados
Nesse chão
Fatos machos bem bolados
Casos raros
Meio em extinção
Ligo o computador e vejo a sua foto
Remoendo o passo, cada passo do teu traço
Gato fique bem, mas preste atenção
Eu sou tão arisco, o risco é iminente
E pode ser que a gente
Se arranhe no portão
Mia como mio, mio como mia
E a gente come o dia e de repente acabou.

Decisão de decidir.



Eu sei que deve ser extremamente complexo para algumas pessoas decodificar a realidade, independente da manta ideológica que cobre intencionalmente os vossos olhares desatentos a respeito da minha decisão de decidir. Entendendo o conceito de liberdade de escolhas proposto diante da histórica disputa de poderes, onde os dominados obviamente viam-se dominados, e submetidos aos conceitos de liberdade dos dominadores, e assim concluo que as minhas escolhas, não necessariamente foram decisões minhas. Entendo as relações de poder, e a determinação das condições materiais de existência, responsáveis pelos caminhos dos quais tive que traçar, e os que ainda vêm pela frente, e visto a decisão de decidir sobre a minha vida, sem o intermédio da relativização, do idealismo e da metafísica, causo uma impressão equivocada em algumas pessoas. Eu confesso que a decisão de decidir, é eminentemente dolorosa, é como largar um vício, é deixar o ópio, e seguir lúcido. A lucidez lhe permite observar todos os horrores nitidamente, e claro, humanamente no processo de transição do ser e da consciência acrítica para critica, as dores são físicas, emergem as doenças psicossomáticas, emergem os questionamentos, a indignação, emerge a necessidade de proposições, emergem as inquietações, no entanto, estou ciente de que a decisão de decidir significa apontar um feixe de luz com uma lanterna pequena no breu total, assusta as possibilidades do que se pode encontrar. O que algumas pessoas, muitas até solidárias as minhas demonstrações públicas de inquietação, precisam compreender, é que definitivamente não esta faltando Deus na minha vida, eu sei que é duro entender isso, contudo a minha decisão de decidir implica justamente em des/responsabilizar qualquer força oculta daquilo que pelo contrario brota da realidade concreta, daquilo que é determinado pelas condições materiais de existência, e que claro, diante dessas condições, não há como se prostrar a realidade todos os dias indiferente, omisso, neutro, e de certa forma isso é atormentador. O que tem que ficar claro, é que apesar de todos os motivos concretos para que doenças psicossomáticas como a depressão fizessem parte da minha vida, como atualmente faz parte da vida de tantas outras pessoas, não se trata do meu caso. Meu caso não é por enquanto de tratamento psicológico, muito menos a necessidade de um reencontro com Deus, e isso não significa necessariamente que eu despreze a subjetividade humana, e a necessidade que outras pessoas ainda sentem de permanecerem afincos ao ópio. É preciso frisar também que não se trata de uma decepção com Deus, não é uma briga, não é um “estou de mal” até que conceda a mim tudo aquilo que eu desejo, na verdade essa concepção parte de quem justamente de modo unilateral despreza qualquer possibilidade da não existência de Deus, e a minha decisão de decidir desabrochou na tomada de ciência da realidade, não foi um processo rápido, afinal tem a ver com aprendizagem e construção de visão de mundo diante dos fatos como eles são, sem partir da ideia de como deveriam ser. E o fato é que assim como a crença para quem crê é inquestionável, o não crer para mim também é. As discussões de liberdade estão tão limitadas, que trazem em seu arcabouço o ranço do dominador, determinando e cerceando como se fosse natural,e quando você se opõe, causa um desarranjo social tão grande, que a grande massa instrumentalizada pelos paradigmas, trata de iniciar uma conversão, uma cura, uma salvação.

sábado, 1 de setembro de 2012

Quando o dia chega.


Hoje é um daqueles dias em que nos lembramos do quanto temos a perder, do quanto o tempo passou e nós não fizemos absolutamente nada para que as coisas de que tanto gostávamos não fossem efêmeras. Eu tenho sentido constantemente a dor da perda, eu confesso, é tão salgado quanto à água do mar trincando de onda em onda as miseras lágrimas cristalizadas no rosto. Hoje é um daqueles dias, onde você como num sonho extremamente esquizofrênico se percebe transitando em meio à realidade, descolado do teu corpo físico, impotente diante dos fatos, sem poder tocar, sem poder gritar, e colérico só faz perder, mais e mais. Escapuliu a tenra idade junto à inocência, junto aos sonhos soberbos. Concedeu-se o dano de todas as chances, o dano da coragem de ter sido, os danos às relações límpidas, concedeu-se que todos os caminhos nos levassem para um único destino, como se não fossemos capazes de decidir. E de fato, não somos. Não é um tratado sobre a morte, mas é a mortificação de todos os laços, de todos os nós, e na falta da dimensão, da totalidade, agimos irresponsavelmente, algumas vezes, indiferentemente, como se não sentíssemos definitivamente nada. E ai, sentimos o vazio gélido na espinha, um frisson às avessas, submetidos ao câncer indelével da perda, e percebemos que o dia chegou.

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