Socialmente há uma
tendência a se naturalizar o conceito de família. Por naturalizar, estou
querendo dizer que a família é vista como um dado da natureza, como se pelo
fato de existirem dois sexos anatômicos distintos, a formação da família seria
“naturalmente” a união dos mesmos, e que, portanto, fora desse “modelo
fornecido pela natureza”, não existiria família propriamente dita. Essa
afirmação é falsa, pois não revela justamente o que faz existir a família tal
como a conhecemos. A família é um constructo histórico e sociocultural, ou
seja, a família é uma instituição criada pelos humanos, de forma que, a rigor,
só os seres humanos constituem família. Na natureza “selvagem”, os animais se
reúnem em bandos, se encontram, se acasalam, e esse acasalamento não obedece a
padrões morais, pois, na natureza, a consanguinidade inexiste, donde se observa
no mundo animal pais e mães mantendo relações de procriação com seus rebentos.
É exatamente a instauração de um código moral e dos laços de parentesco e
consanguinidade que faz surgir a família, o que o antropólogo estruturalista
francês Claude Lévis-Strauss chamou de “tabu do incesto”. Ao estabelecer esse
tabu, surge a civilização, separando o homem do suposto estado de natureza em
que vivia do estado de sociedade, sujeitando-o então às leis, tanto às
secularizadas quanto às morais. Isto não faz a natureza ser menos boa ou cruel
do que se imagina, pois, lembrando o grande escritor português José Saramago,
bondade e crueldade são qualidades que os homens “emprestam” à natureza. A
natureza é e sempre foi o que tem sido, independente das colorações de virtudes
ou vícios que os humanos utilizam para pintá-la. Por ser uma construção
histórica, social e cultural, a família modificou-se ao longo do tempo, porque
a sociedade e a cultura se modificaram. Do ideal da família nuclear moderna
(pai, mãe, filhos), vemos famílias mononucleares (principalmente constituídas
por mãe e filhos), e tipos outros de construção familiar.
O MITO DA HETEROSSEXUALIDADE COMO CONDIÇÃO NATURAL DA SEXUALIDADE HUMANA
No final dos anos 1950, dois sexólogos estadunidenses, William Masters e Virgínia Johnson realizaram uma pesquisa ampla e inovadora para a época, sobre os comportamentos sexuais dos norteamericanos, que serviu durante vários anos como referência mundial para o estudo da sexualidade humana. O que eles encontraram em suas pesquisas? Além de vários achados, verificaram que a maior parte dos entrevistados tinha tido ao menos uma vez na vida a experiência sexual da homossexualidade. Para se chegar a tal resultado, levaram em conta não somente a relação sexual stricto senso, mas as fantasias, os sonhos que resultaram na experiência de prazer sexual relatada pelos entrevistados. Posteriormente, os estudos foram criticados, não por acaso, pois a sexualidade na nossa sociedade sempre foi e ainda é revestida de interditos. O que esses dados revelaram? Primeiramente e o mais óbvio, que o sexo anatômico de homens e mulheres (pênis e vagina) não determina o padrão heterossexual da conduta sexual, ou seja, a definição da sexualidade não reside simplesmente na morfologia dos órgãos genitais dada pela natureza. Em segundo lugar, que não há indivíduo 100% heterossexual nem 100% homossexual, dentro de uma gradação que vai de 0 a 100. Finalmente, e o que é mais interessante destacar, são as consequências que esta afirmação traz: por não ser natural, a heterossexualidade tem que ser constantemente vigiada e estimulada socialmente, pois, se deixada por conta da natureza, ela não está garantida. Ao contrário, a natureza garantiria o padrão da bissexualidade, já que os achados dos pesquisadores apontavam para a potencial e não menos natural bissexualidade humana. Aliado ao fator religioso que envolve o tema, o famoso “crescei-vos e multiplicai-vos”, o estímulo à heterossexualidade foi também plataforma política, como pode ser verificado na história higienista brasileira do final do século XIX, acentuadamente positivista, quando se atribuía ao bom funcionamento do aparelho reprodutor feminino o progresso e o crescimento da nação, tratava-se então de povoar o Brasil com indivíduos saudáveis.
O MITO DO PODER NATURAL DO MACHO
Os homens não detém igualmente o poder na sociedade. Vários estudos têm demonstrado que para ocupar o poder nas sociedades ocidentais contemporâneas há um candidato exemplar, qual seja, o homem branco, heterossexual, classe média ou superior, com nível universitário. Ou seja, não basta ser homem para ter poder, isto significa que há uma parcela grande da população masculina que dele está excluída. O poder não é desigual, portanto, somente entre homens e mulheres (como denunciado pelas pesquisas feministas iniciais de gênero), mas também e, principalmente, entre os próprios homens, o que o sociólogo francês Daniel Welzer Lang chama de sociedade androheterocentrada, cujo poder máximo está nas mãos dos “grandes homens”, o modelo ideal de masculinidade, relegando uma grande massa aos papéis subordinados, os “pequenos homens”."
O MITO DA HETEROSSEXUALIDADE COMO CONDIÇÃO NATURAL DA SEXUALIDADE HUMANA
No final dos anos 1950, dois sexólogos estadunidenses, William Masters e Virgínia Johnson realizaram uma pesquisa ampla e inovadora para a época, sobre os comportamentos sexuais dos norteamericanos, que serviu durante vários anos como referência mundial para o estudo da sexualidade humana. O que eles encontraram em suas pesquisas? Além de vários achados, verificaram que a maior parte dos entrevistados tinha tido ao menos uma vez na vida a experiência sexual da homossexualidade. Para se chegar a tal resultado, levaram em conta não somente a relação sexual stricto senso, mas as fantasias, os sonhos que resultaram na experiência de prazer sexual relatada pelos entrevistados. Posteriormente, os estudos foram criticados, não por acaso, pois a sexualidade na nossa sociedade sempre foi e ainda é revestida de interditos. O que esses dados revelaram? Primeiramente e o mais óbvio, que o sexo anatômico de homens e mulheres (pênis e vagina) não determina o padrão heterossexual da conduta sexual, ou seja, a definição da sexualidade não reside simplesmente na morfologia dos órgãos genitais dada pela natureza. Em segundo lugar, que não há indivíduo 100% heterossexual nem 100% homossexual, dentro de uma gradação que vai de 0 a 100. Finalmente, e o que é mais interessante destacar, são as consequências que esta afirmação traz: por não ser natural, a heterossexualidade tem que ser constantemente vigiada e estimulada socialmente, pois, se deixada por conta da natureza, ela não está garantida. Ao contrário, a natureza garantiria o padrão da bissexualidade, já que os achados dos pesquisadores apontavam para a potencial e não menos natural bissexualidade humana. Aliado ao fator religioso que envolve o tema, o famoso “crescei-vos e multiplicai-vos”, o estímulo à heterossexualidade foi também plataforma política, como pode ser verificado na história higienista brasileira do final do século XIX, acentuadamente positivista, quando se atribuía ao bom funcionamento do aparelho reprodutor feminino o progresso e o crescimento da nação, tratava-se então de povoar o Brasil com indivíduos saudáveis.
O MITO DO PODER NATURAL DO MACHO
Os homens não detém igualmente o poder na sociedade. Vários estudos têm demonstrado que para ocupar o poder nas sociedades ocidentais contemporâneas há um candidato exemplar, qual seja, o homem branco, heterossexual, classe média ou superior, com nível universitário. Ou seja, não basta ser homem para ter poder, isto significa que há uma parcela grande da população masculina que dele está excluída. O poder não é desigual, portanto, somente entre homens e mulheres (como denunciado pelas pesquisas feministas iniciais de gênero), mas também e, principalmente, entre os próprios homens, o que o sociólogo francês Daniel Welzer Lang chama de sociedade androheterocentrada, cujo poder máximo está nas mãos dos “grandes homens”, o modelo ideal de masculinidade, relegando uma grande massa aos papéis subordinados, os “pequenos homens”."
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