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sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Adrenalina

Eu sou a adrenalina
O próprio batimento acelerado
A insegurança e a instabilidade
O medo e a ansiedade
Eu sou a sensação da cocaína
Da vodka e do baseado
O prêmio nunca alcançado
Eu sou o ápice do gozo
A queda e a ascensão
Eu sou um risco, um animal arisco
Eu sou oito a oitenta
Fogo na venta
A própria pimenta
Eu sou a água gelada que banha teu corpo
E causa arrepio
Eu sou o rato acuado, o gato escaldado
Primata arredio
Eu sou o gume da faca
O alto da torre e o desequilíbrio
Eu sou o frio na barriga
Coração na boca e o nó na garganta
Sou eu o ranger de dentes
E o roer de unhas
E as pernas inquietas
Eu sou o olhar vazio, mas cheio de lágrimas
O segredo sombrio e a bala das armas
Eu sou correnteza no rio
Susto e calafrio
Sou a queda da água
Eu sou a descida súbita
Troféu de chegada
Amor de balada
Eu sou o vento que passa
A respiração ofegante
A taça de vidro
Suor torturante
Perigo constante
A própria adrenalina na pele de menina.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Nego atoa





Era a estrela que chamava

Só um lugar pra descansar
Mas era dia, era dia, noite e dia,
Todo dia era noite que acabava
To na rua, to atoa, to atoa
To na rua, to atoa, to atoa
Eu não me lembrava que eu tava de madrugada lá em casa
Mas nem casa eu tenho, tenho casa, casa tenho
Lenho tabua, tabua lenho
Leio livro de baixo calão
Eu me informo, sei o que acontece
Em baixo o frio arde
Em cima o frio desce
Quem é que não conhece?
Lá em baixo alguém, alguém lá em baixo
Subo, engraxo o sapato, sapato engraxo é engraçado
E todo dia tem quem não conhece quem
E nem ao menos sabe se conhece alguém
Ando sem rumo, entro no túnel
To em casa, to atoa, to atoa
To em casa, to atoa, to atoa
Eu não vou trabalhar
Não tenho emprego e nem sossego
Não mereço mais respeito
Inda ouço um grito nego vai trabalhar
Mas ninguém me da emprego
Sou mendigo lá do gueto
Quem vai se incomodar?
Não sou do Rio de Janeiro
Sou Paulista estrangeiro
E não quero é trabalhar
Se for preto é preconceito
Se for pobre é meu defeito
Sou amigo do prefeito quando ele quer ganhar
E todo dia a dia, noite e dia eu tava lá
O dia amanhecia antes eu dormia
Eu tava lá
Agora já não sei
Se estou no caminho certo
Eu to na rua, to atoa, to atoa
To na rua, agora to na rua
O tempo passa o tempo voa
To atoa, to atoa
Quem é que não me vê?
Eu to aqui em baixo
Indiferente é ver que tudo isso
É muito lindo é o paraíso
Isso não é TV, é a realidade
Só maldade, é verdade, é verdade
Não feche os olhos não
Eu to aqui em baixo
Isso é um escracho, tudo na contra mão
Lá em cima ta a ponte
Aqui em baixo ta um cidadão
Que ta atoa, ta atoa
O som ecoa, o som ecoa
Quem ta na boa?
Não somos nós
Quem somos nós?
Quem somos nós?

Verdadeira ilha




















Quem sabe se as horas passassem devagar

Talvez se o tempo voltasse atrás
Ou até mesmo se as coisas fossem como eram
Eu não voltei para ficar,
Mas estas são as flores que regam
Que carregam e levam
Distantes do teu seio clava forte
Homem sem sorte esperança de morte
Não desanime agora
Todo tempo, toda hora é hora.
O que você me diz é o que eu sempre quis
Mas não há mais o que mudar
Você não volta nem quer voltar

Sigo em frente, eu perco o rumo, eu quase sumo
Sem saber o que fazer, sem saber o que fazer
To num beco sem saída, peço ajuda, perco a vida,
Que vida? Que vida?

E o que satisfaz é a relação amor e paz
Que você tem com os seus filhos
Que são verdadeiras ilhas
Que seguem as trilhas dos jardins
Que tem as flores que nos levam
Sempre as dores não têm amores

Momentos felizes, rápidos, invisíveis
São momentos em que você se lembra como foi
Momentos que param e marcam, horríveis!
Você já sabe como é.

É o acaso do acaso, o descaso do descaso
Um abraço, mais um passo no espaço
E você é quem? Você é quem?
Mas ta tudo bem, com você também
Mas você é quem? Quem?
Eu sou uma ilha cercada de nada
Você é quem?
Eu sou uma ilha rodeada de água
E você é quem?
Eu sou uma ilha vazia e gelada
E você é quem?
Eu sou uma ilha pequena, isolada
E você é quem?
Ilha verdadeira e abandonada
Por você também.

Reflexo




Ao passo que sou eu Disfarço-me de mim mesmo, Às vezes sendo eu, Nem eu me reconheço. Me parto em dois Um só não é o suficiente, É preciso um para cada um, Um bonito, um simpático, um sorridente Um atrevido, um sarcástico e inconsequente Ainda sim, sou eu E o reflexo é meu. Para que ninguém conheça bem Faço-me uma imagem difusa Que crie confusão Com uma conversão De pensamentos absurdos Em pensamentos bons Sobre o meu ser, o que eu tenho E o que eu posso ter. Não adiantaria, pensar que um dia Eu seria eu mesmo Escondo-me atrás de mim De repente alguém parece ver-me Dá-me medo. Se vou estar como deveria estar Como querem que eu esteja Posso até me contradizer Eu sou eu mesmo. O que estou dizendo? Às vezes me sinto um estranho Perdido entre a perfeição Daqueles que são perfeitos, Pois são eles mesmos E não cometem erros. Eu sou assim do jeito que você vê Assim do jeito que você quer Mas não me conhece além Do que quer conhecer Eu sou assim, desse jeito assim Triste, alegre, enfim Quem não é?

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