Na
ultima semana Michel Teló em solidariedade a onda de comentários racistas a Maju que apresenta as condições e previsões climáticas
no Jornal Nacional, resolveu pintar metade da cara de preto.
Existe
algum problema nisso?
Para
a maior parte da população que se considerou #TodosMaju não há
problema algum nessa manifestação, por que Michel Teló é um
menino bom, e diante de sua índole, jamais faria algo racista.
A
verdade é que ser racista não é necessariamente um engano, o
racismo esta entranhado no imaginário e nas ações sociais. O
racismo foi construído historicamente e se manifesta muitas vezes em
nosso subconsciente, por tanto a maioria da população entende que
ser racista é algo negativo e condenável na sociedade, e por saber
disso sempre que comete uma ação racista nega veementemente, afinal
de contas, quem quer ser considerado racista?
Assim
como Michel Teló a população massiva não consegue compreender por
que um homem branco pintar a cara de preto para se manifestar contra
o racismo, nada mais é que o próprio racismo externalizado com tudo
o que a de pior. É preciso entender aqui que não se trata de
condenar Michel Teló pela sua atitude, e não se trata de procurar
cabelo em ovo, ser implicante, ou ver racismo em tudo, como a maioria
da população insiste em dizer, aquela velha história dos negros
vitimistas.
A
questão vai muito além da ação particularizada, ela se estende
por exemplo aos comentários que trazem justamente a reportagem sobre
o caso de Michel Teló na Folha, todos considerando um exagero dizer
que a ação reproduz e reforça o racismo, e tratando os negros como
vitimistas e extremistas, como quem diz, “negro vê racismo em
tudo, negro não quer igualdade, negro quer privilégios”. É
preciso dizer que negro não vê racismo em tudo, negro só vê o
racismo que ele mesmo sente, que ele mesmo sabe e conhece desde
quando ele nasceu, por que a cor da pele dele, não é uma tinta que
sai com água, faz parte dele, e essa mesma cor de pele foi motivo de
muito sofrimento diante do racismo, como o que passou a apresentadora
da previsão do tempo Maju, ou já nos esquecemos do racismo que ela
sofreu por conta da cor de pele dela?
A
maioria da população não esta acostumada a problematizar o
racismo, muito pelo contrário, para ela a simplificação e o
reducionismo é a regra. O mesmo que pinta a cara de preto em
manifestação contra o racismo, é o que diz que somos todos humanos
e somos todos iguais, como se a ideia de que somos todos iguais fosse
o suficiente para que efetivamente fossemos todos iguais dentro da
sociedade. São os mesmos que dizem que o racismo acontece muito
isoladamente, ou que para acabar com o racismo a gente precisa parar
de falar dele, ou seja, os negros precisam silenciar-se, como sempre
tiveram que fazer, nas senzalas, e nos quartos de empregados.
A
população vê este caso de modo banalizado por que culturalmente a
história do negro foi banalizada, foi tratada como desimportante. A
escravidão já passou é hora de virar a página, dizem. Nas escolas
muito pouco se estuda sobre a história e o papel dos negros na
história do Brasil, tudo é visto do ponto de vista dos
colonizadores e aristocratas, e deste modo, mesmo a maior parte da
população sendo negra, e pobre ou classe média, vai reproduzir os
discursos da classe dominante, que é o que ela aprendeu na escola.
A
população não sabe o que significa o Blackface e pouco esta
interessada em saber o que é isso, por que como eu disse
anteriormente, para ela o fim do racismo depende justamente de não
falar de racismo, então ela não esta disposta a estudar e a
pesquisar sobre isso, para saber quais as influências disso na
atualidade. O branco classe média esta menos interessado ainda em
problematizar, pois ele não quer complicar, ele esta acostumado com
os privilégios sociais de sua cor, e diante desses privilégios fica
muito fácil reduzir o debate sobre o racismo, ao discurso do somos
todos iguais, ou a pintar o rosto de preto e tentar promover campanha
na internet.
Eu
não vou falar sobre o Blackface e seu significado, quem quer saber
que vá atrás, e quem não quer saber, a gente já sabe o por que.
Além do que, existe uma coisa chamada emponderamento e visibilidade,
quando um branco tenta liderar um movimento contra o racismo, ele
está naturalmente reproduzindo aquilo que ele historicamente sempre
fez, que é estar a frente, que é ter voz na sociedade, que é ter
visibilidade, coisa que os negros nunca tiveram, e mesmo quando se
trata de uma luta dos negros, brancos insistem em tomar a frente,
como se soubessem o que é ser preto neste país. Ser preto neste
país é muito mais que meia cara pintada num dia de sol. Ser preto
neste país é fazer parte da maior população carcerária, é ser
criminalizado, marginalizado, é ser perseguido nas lojas pelos
seguranças, é ver a madame escondendo a bolsa em baixo do braço
quando te vê, é ser abordado de forma violenta pela polícia e
muitas vezes ser executado sem chance de defesa, por ela, ser preto
neste país é ter menores salários, piores empregos, é ter sempre
papel de motoristas e empregados nas novelas, é não ter
representatividade nas grandes profissões, como direito ou medicina.
Michel
Teló não é o culpado, é apenas o produto ou subproduto de uma
sociedade racista, que nega se assumir enquanto tal. Uma sociedade
que se constrói e se baseia na ignorância, na superficialidade, no
reducionismo, na simplificação de tudo aquilo que ela não
considera importante. Não é o negro que vê racismo em tudo, é o
branco que finge não ver racismo em nada, por que o racismo não o
afeta diretamente.
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