Paulo Sant'Ana
Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.
A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade. E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências...
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar.
Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos. Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure. E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem, eu desabo! Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles. E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.
Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer...
Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!
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Recebi hoje o E-mail da Yane, uma amiga minha. Bom eu entendi que ela compartilha dos mesmos sentimentos que o autor do texto tráz, e da mesma forma, o texto me tocou, e explicou os sentimentos que eu compactuo em relação aos meus nobres e distantes amigos, que me fazem sofrer sem saber quando percebo o quanto não sabem da minha grande amizade devotada a eles. Mas de verdade amizade ainda é uma palavra que não consegue definir, é necessário mergulhar profundamente em sentimentos confusos pra entender o que eu sinto por todos os que mantém a estrutura da minha vida. Fato é que estamos entrando em mais um ano, digam que sorte por ser "par", ou qualquer outra superstição barata, eu digo, sorte estarmos vivos, ou não. Mas pra não viver se arrastando durante esse novo ano, conto então com as possibilidades que os amigos proporcionam, com o folêgo que me emitem.
Rodrigo Eduardo dos Santos
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