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terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Salto na imensidão


Fechei os olhos, abri os braços e me atirei na imensidão. Cai deitado, despedaçado, virei pedaços, era o abismo da solidão. De peito aberto, futuro incerto, o que esperar de um salto tão alto? Quando o fundo distante fica cada vez mais perto, e o incerto é mais que certo, é fato. O que importa se eles não te ouvem mais? O que importa se eles não te olham mais? Se não te procuram mais? Quem é que quis assim? Não chamar a atenção, sempre chorar no fim, e ainda pedir perdão. Ainda ontem estava tudo bem, mas não se ouvia ninguém. Não é de ontem que não estava bem, há muito tempo que o escuro o detem, buscou refúgio num submundo, desesperado, amordaçado, talvez sozinho, talvez calado, não faça mal a ninguém. Isso é inútil, é absurdo, ficar trancado no próprio quarto como na jaula dos leões. Olhar para os lados e não ver ninguém, mesmo entre as multidões, cruzar os braços, juntar pedações e cair na imensidão.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Meus secretos Amigos


Paulo Sant'Ana

Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.

 

A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade. E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências...

 

A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar.

Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos. Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure. E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.


Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem, eu desabo! Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles. E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.

Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer...


Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!
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Recebi hoje o E-mail da Yane, uma amiga minha. Bom eu entendi que ela compartilha dos mesmos sentimentos que o autor do texto tráz, e da mesma forma, o texto me tocou, e explicou os sentimentos que eu compactuo em relação aos meus nobres e distantes amigos, que me fazem sofrer sem saber quando percebo o quanto não sabem da minha grande amizade devotada a eles. Mas de verdade amizade ainda é uma palavra que não consegue definir, é necessário mergulhar profundamente em sentimentos confusos pra entender o que eu sinto por todos os que mantém a estrutura da minha vida. Fato é que estamos entrando em mais um ano, digam que sorte por ser "par", ou qualquer outra superstição barata, eu digo, sorte estarmos vivos, ou não. Mas pra não viver se arrastando durante esse novo ano, conto então com as possibilidades que os amigos proporcionam, com o folêgo que me emitem.



Rodrigo Eduardo dos Santos


quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Cores que perderam o tom.


‘Já faz tempo, eu vi você na rua, cabelo ao vento, gente jovem reunida’, já faz tempo, não há nada de bonito, não há nada válido, são somente os frutos de uma juventude desgovernada e superficial. Não são mais os jovens boêmios, criativos e fugazes, não são mais os jovens de caras pintadas, de tom incisivo e brilho nos olhos, são apenas jovens, que levam consigo, uma herança morta, tendo o assassino, uma sociedade cada vez mais passiva, cada vez mais submissa, que se direciona para o último fio da revolução, que se alastra por meio da crise. Econômica? Não. É uma crise que vem de dentro, que deprime que oprime que causa a miséria dos pensamentos, que causa o egoísmo, a ganância e por fim as atrocidades da sociedade moderna, da qual já faz tempo viemos banalizando, e acomodando ao nosso cotidiano patético. ‘Eu quero rodo cotidiano’, pois é ao que todos estão submetidos, aos percalços da divisão de classes e das crises econômicas, diante da adoração platônica de estilos e marcas, de roupas e sapatos. São jovens cada vez mais estáticos, que se deixam levar pela maré do ‘entretenimento’, da vida de prazer, que em síntese, são prazeres construídos externamente, são os prazeres e desejos de comprar, de consumir e possuir. É uma geração que se arrasta, e cria uma ‘carcaça’, imbuídos de mecanismos de defesa, que primam pela agressividade e pela indiferença, isso definitivamente não tem mais graça, não dá mais pra conviver na geração do ‘funk romântico’, do ‘pancadão’, e do faça ‘sexo seguro’ em casa, pois seus pais acham que na relva em que estamos inseridos, dos males o menor. Creio que a tal liberdade de expressão da qual se lutava não era bem essa, que o “namoro de portão” foi enterrado prematuramente, e que se confunde juventude com ‘faça o que quiser’, desde que sob os olhos desatentos de uma família doente, desconcertada pelo trabalho assalariado, padronizada nos termos de pura mercadorização, ‘tenha a família que quiser’ desde que consuma. Diante da crise econômica, no ano passado o presidente Lula, em rede nacional nos disse para consumir, só assim estaríamos salvos da crise, ontem a noite, novamente veio à tona com mais um conselho, ‘invistam brasileiros’, foi isso que ele disse. É isso mesmo, invista toda sua saúde física e mental a troco de um salário MINÍMO, e dêem por felizes por terem o que comer e se utilizem bem dos amortecedores sociais que te prendem a esta consciência limitada, de uma juventude que já não é mais a mesma, mas que passa uma ligeira impressão de estar mudando o mundo, pena que às avessas.




Por isso, discorro pela lástima saudosista de tempos que não voltam mais, de pessoas que não voltam mais, de um mundo que se perdeu em desejos estranhos, em prazeres insanos. Eu que nunca quis ser engolido por essa ‘abominável fera’ me submeto mesmo que involuntariamente, e temo o câncer humano que vem dizimando toda e qualquer possibilidade.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Do meu infortúnio


E por mais de um momento é possível perceber o quão estamos mergulhados no modo de reprodução e expropriação, desabonados com os infortúnios de um viver sobreviver a base de projeções, e desejos inalcançáveis calcados numa sociedade dúbia, inescrupulosa, impiedosa e carrasca. Como pode todas as coisas boas ou ruins de modo que o olhar determina isto, sugarem toda a minha altivez, toda minha alteridade, felicidade, toda minha luz? É de prache culpabilizar o tempo, ou a falta dele, neste âmbito, eu me coloco como dentro dos desencontros propositais proporcionados pelo modo de reprodução social, a fim de desarticular, de desmembrar qualquer possibilidade de intervenção coletiva na realidade concreta. Mas como isso se restrigiria só ao tempo, ou a falta, ou a perda dele? Pois bem, vai muito mais além, transcende, quando eu noto minha vontade constante de chorar, por não poder desfrutar dos momentos mais simples que me constroem como ser, e não como coisa, produto, máquina. Desta forma, o furto se consolida quando não me vejo capaz de fazer os que me rodeiam sentir-se bem, pois como fazer isso se as condições reais, materiais não me permitem? Não dá pra viver de projeções, isso é fato. Não é possível a convivência com os pelêgos assumidos e não assumidos que resistem e persistem na idéia de que são as únicas vitimas, mas definitivamente são as peças mais defeituosas desse jogo de intrigas, dessas relações humanas que reforçam a idéia de que "a corda sempre arrebenta para o lado dos mais fracos", pois eis que os mais fracos unidos contra os mais "fortes" desarticulados seria de grande diferença. Caso isso não aconteça, tomo partido eu, que sei que devo interferir mesmo que seja para o meu próprio mal, prostituindo meu conhecimento e minha integridade mental, me submetendo a todos os tipos de doenças psicossomaticas, e a intermináveis doses de falsidade, hipocresia, crueldade. É dentro deste âmbito que eu trabalho, que eu estudo, que eu como, que eu respiro, e diante disso tudo, quando a imagem se apresenta em forma obscura, subjetiva, evito projeções, e tento superar minhas limitações a fim de intervir na realidade concreta, no meu espaço, e se mesmo assim estou consumido e suprimido pelo sistema homicida, pelo sistema hierárquico, patrão e empregado, de uma forma ou de outra eu ei de resistir, eu ei de fazer de mim dono do meu tempo, independente dos regentes hegêmonicos que capitalizam todo e qualquer resquício de humanidade.

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