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sábado, 26 de setembro de 2009

Uma pelada com Máuri de Carvalho

Dia desses uma amiga de sala estudando em um horário livre de seu trabalho, com os livros sobre sua mesa, foi surpreendida, com a surpresa de um amigo de trabalho também acadêmico, em relação a literatura que ela enquanto acadêmica do curso de Educação Física desfrutava bravamente. "Saviani?!", esta foi a indagação do amigo, que se identificou com o tema, mas não conseguiu associar Educação Física com E-D-U-C-A-Ç-Ã-O. Não somente esta minha amiga, mas outros companheiros de profissão relatam legitímas repressões, banalizações, pouco caso, desmerecimento, tendo como "agressores des-cerebrados" não somente os tais de senso comum, como também dos "de cultura erudita e senso crítico" acadêmicos da mesma instituição. Pois bem, eis que eu vitimado e especulado quanto a real complexidade e validade do meu curso, também já me deparei com tais comentários infelizes, como: "quantas voltas na quadra tiveram que dar hoje?" ou, "Vocês são responsáveis pela educação do corpo". Ainda relatos de acadêmicos que dizem ser repreendidos por outros quando entram na biblioteca, com frases do tipo "caiu alguma bola aqui dentro?" Ora, faça-me o favor, pseudo intelectuais só por que manejam tubos de ensaio, ou por que são obrigados a ficar trancafiados em uma sala de aula, não consenguem entender nem ao menos como qualquer atividade seja ela fisíca ou mental são capazes de conduzir conexões neurais, aumentando a capacidade cognitiva. O que se espera dentro de uma Universidade é exatamente caminhar para a emancipação dos pensamentos, abrindo caminhos para atingir conhecimentos até então inesistentes. O que se vê é a reprodução de uma sociedade desigual, dividida em classes, que supervaloriza postos inocupáveis, pelos que não possuem uma boa herança genética, ou economica, os filhos dos operários, dos trabalhadores. Os que por toda vida conseguiram tudo a base de muito mais persistência e enfrentamentos, e quando se enxergam dentro de uma Universidade pública, nela também visualizam as diferenças em todos os seus âmbitos. É comum encontrar dentro da universidade pessoas chegando de onibus ou a pé, mas também é comum, pick up, Jeep, carros importados, que para alguns fica difcíl até pronunciar o nome. Realidades distintas. Sim! Essas realidades percorrem por toda a vida, desde o ensino infantil e fundamental, até o ensino médio e superior. Não atoa eu sou completamente a favor da cota social e racial, que tanto alguns pseudo intelectuais tentam introjetar na cabeça dos "de senso comum" ser um reforço do preconceito com as classes. Pois bem, eis que que até o momento as classes sofreram todos os tipos de preconceito que realmente os prejudicaram, e na única vez que esse preconceito vem a favor dos mesmos, agora desprivilegiando os detentores da propriedade privada, um incomodo arrebatador põe em discussão a possibilidade de tornar a escola pública pouco a pouco o local onde todos deveriam estudar. Se os filhos dos médicos, advogados e governantes estudassem em escola pública, concerteza o ensino não estaria esse "bréjo duvidoso", e para que estes sigam para as escolas públicas uma boa solução seria esta, permitir que somente alunos de escolas públicas tenham o direto de frequentar universidades públicas. Pagar por um ensino melhor vai contra a constituição que prevê o ensino igual para todos. Esta é a universidade que queremos? Bem, lendo um trecho do livro de Máuri de carvalho, me deparei com algo interessante sobre o que gira em torno da educação física, voltando assim para o assunto inicial, que mais especificamente me diz respeito.


"Como se manifesta na Educação Física, mormente, nos Desportos a ausência da consciência filosófica da totalidade?

Vejam, é por demais comum vermos e ouvirmos desportistas (inclusive professores "doutores" Em educação física?) dizerem: "desporto é desporto; política é política, essas coisas não se misturam; em minhas aulas eu jamais faço política!". Ora, eu diria que o desporto, a politica e a ideologia são atividades fenomênicas distintas, autonômas, mas são superestruturais, isto é, crescem sobre a mesma base economica, a mesma infra estrutura e, como tal, refletem as contradições imanentes às relações sociais de produção que lhes dão origem. Por ai, é possivel perceber com uma certa facilidade, que há uma relação inequívoca entre desporto, política e ideologia. E mais: "como será possível construir estádios e piscinas, se os orçamentos de guerra ( no Brasil, o serviço da divida externa orçados em 20 bilhões de doláres/ano - gm) devoram as verbas necessárias ao esporte?" (Corbister, 1991, p, 284).
Logo, desprende-se o fato que aponta a subordinação dos desportos ( da saúde, da educação, do saneamento básico, etc.) a determinadas condições que o professor carente de uma consciência filosófica(embora saiba, pressupostamente, toda a sociologia do mundo) ignora, e não sabe que esta é uma  caracteristica do ausente filosófico, não haverá desportos para todos, a tão propalada massificação ou democratização dos desportos (como da educação, da saúde, do saneamento, etc.), sem verbas públicas, e sem uma política drástica de saturamento das "vias abertas" do Brasil.
O desporto é portanto inseparável da política eonomica, Há uma tese, a qual incorporei de há muito, que diz: o desportista que desconheçe esta ligação não somete deixa de servir a causa dos desportos, como se afasta dos meios de defendê-la. E sabem por quê? Por que não possuindo uma consciência filosófica da totalidade, consciência radical, não compreende que tudo se interrelaciona, e por que não sabe do interrelacionamento das coisas e dos homens, não lutará contra as políticas subservientes dos presidentes deste país frente ao filantropismo do FMI e do Banco Mundial.
Daí dizer-se que aos oprimidos cabe, sob os marcos do capitalismo, apenas a resignação à medida em que desejandopraticar desportos - paraquedismo, vôo, vela, polo, etc. - mas sem efetivar as condições das quais eles dependem ( elevação salarial, redução dos preços, investimentos governamentais massivos, suspensão do pagamento da divida, calote, sim! -, enfim, socialização dos meios de produção), não terão eles desportos nenhum (ou pelo menos nenhum daqueles mais sofisticados e retrocitados). Por tanto é pertinete cometar que a filosofia marxista, por levar a crítica às últimas consequencias, pode, por isso, ser definida como consciência critica da totalidade. Destarte, a consciência a-critica, a inconsciência, laborando em cima do abstrato e ensimesmada na especulação não consegue dar conta que é escrava do sistema capitalista. Pensa que é livre e o preço dessa sua "liberdade" é a heteronimia introjetada. Tal consciência, por não conhecer a realidade em suas minímas singularidades, não pode proferir a verdade, e por não poder evidenciar a verdade, não é livre. E por não ser livre, não é cidadã. E por não ser uma cidadã, por não ser livre, não dirá jamais a verdade.

Não compreender que a liberdade e a democracia têm sido, até o dia de hoje, liberdade e democracia para os possuidores e só migalhas do festim para os despossuídos (é) se alocar do lado das classes possuidoras e enganar o povo (O.C.t 38, 1984, p. 375)"


CARVALHO,  Máuri, de. Ilusões e devaneios: contribuição à crítica da Educação Física. - Vitória: UFES Centro de Educação Física e Desportos, 1995 279 p.

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