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sábado, 19 de janeiro de 2013



Visita ao Dr. Ryan, à cachoeira e a igreja.
2° capitulo

 
A chuva havia sido muito forte a noite passada, o dia amanheceu nublado. O radio relógio gritou as 07h00min horas, virou-se para o lado sem conseguir abrir os olhos, mas o berro do despertador soou violentamente por dentro de seus ouvidos, os olhos saltaram quase que instantaneamente, levantou ainda tonto, e caminhou até o banheiro, pelo corredor ainda desfigurado, topou com sua mãe.

- Meu garotão, se apresse!

- Ah, pode deixar, nunca chego atrasado ao colégio.

Após lavar o rosto e escovar os dentes, desceu para tomar café, sentou-se e preparou seu cereal, comeu rápido, juntou a mochila nas costas e foi saindo enquanto sua mãe dizia - Volte direto para casa, tem consulta com o Dr. Ryan - sem responder continuou andando.

Caminhando pela floresta, o atalho se esconde numa manhã nublada, mesmo assim ele segue, as folhas secas e úmidas pelo chão, o orvalho corre pelas folhas verdes, ele aperta o passo, a floresta nunca esteve tão misteriosa e sombria. Avista Richard esperando no portão, entram juntos, e a primeira pergunta é sobre o time de futebol, Edward tenta se desviar do assunto, e diz não lembrar do assunto, acha melhor esquecer. Mesmo assim, seu amigo insiste na possibilidade de se incluírem, de parecerem legais. Quando entram na sala de aula ainda discutindo o assunto, são surpreendidos por Presley que ouve a conversa, e ironicamente da um recado aos dois – Então as duas mocinhas querem entrar pra o time? Pois fiquem sabendo, o time não é pra idiotas! – Os dois se entreolharam, e acharam melhor não aceitar provocações. Presley não deixa por menos, caminha até Edward, e dando tapinhas amistosos nas costas dele e diz – Ora irmão, entre no time, mostre que você pode ser fracassado em mais alguma coisa na tua vida- e volta sorrindo pro lugar.

No fim da aula, os dois saem apressados, e o assunto gira insistentemente por parte de Richard sobre o futebol, e na tentativa de convencê-lo diz- esta será nossa única chance de provarmos que somos melhor que aquele boçal do Presley- Edward parou, pensou e disse - Ele faria de tudo pra que não conseguíssemos entrar pro time- Saindo pelo portão da escola já se despedindo seguiu dizendo- Depois falamos disso, tenho que ir.

Na cabeça dele o problema maior a resolver era o temido médico que sua mãe insistia em levá-lo. Chegando em casa, a ideia era fingir que havia esquecido, disse um “oi” maroto pra mãe e foi subindo pro quarto, não colou, logo sua mão o lembrou da consulta, ele sequer olhou pra trás, apertou os passos e continuou, visivelmente irritado. Ele não sabia exatamente o que acontecia com ele, imaginava claro que algo não estava bem, ou pelo menos, algo estava fora do normal, e mesmo consciente disso, internamente parecia gostar disso.

Já dentro do carro a caminho do médico, emudecido, observando o céu correndo sobre ele, ficou a pensar – Quando somos crianças nossos maiores sonhos vão dos super poderes, voar, visão de raio – x, invisibilidade, teletransporte, lançar raios pelas mãos. Qual criança nunca sonhou em ser um super-herói? Salvar o mundo de super vilões. Engraçado isso do mundo se dividir numa história entre o bem e o mal, entre herói e vilão, por que por todos os lados que olho só vejo potenciais vilões, não sei se consigo identificá-los com certeza. Na minha vida, por exemplo, afinal de contas, quem são os vilões? Eles existem? O que eu sou nisso tudo de bem e mal?

Chegaram, entrou no consultório recioso, olhou ao seu redor, observou detalhadamente cada peça de revestimento da parede, toda aquela branquidão de hospital, observou os cartazes de crianças desaparecidas na parede, impaciente, sem saber onde por as mãos, inquieto, um ar gélido entre os lábios, nervosismo desde criança causando estas sensações. Olhando para o teto, ainda nervoso, ao descer a cabeça, pronto, lá estava ele, todo de branco, Dr. Ryan. Quando chamado assim, tão seriamente, remete a um senhor, mas não passa de um jovem, veio da cidade grande em busca de paz e sossego. Único psicólogo na cidade demonstrou segurança apesar da idade, fez com que Edward o visse de maneira mais amena, e mesmo assim, convidado a entrar em sua sala, resistiu. Sua mãe o empurrou. O Doutor sentou-se, e pediu que sentassem também, e antes mesmo que perguntasse algo, Edward esbravejou - odeio interrogatórios! – Calmamente o doutor disse - É só uma conversa, e perguntas vão haver meu caro, algumas podem não ter respostas neste momento, mas isso não importa agora – E prosseguiu – Por que não gosta de perguntas? – No que Edward respondeu – Não gosto de responder coisas sobre mim, e sempre que respondo, logo surge outra invariável pergunta. Sua mãe claro já nem sabia onde enfiar a cara, e já foi logo se desculpando por seu filho. O doutor então seguiu dizendo- Não há problemas, queremos exatamente isso acessar seus sentimentos- Edward arregalou os olhos – Meus sentimentos? – Levantou-se e saiu porta a fora deixando sua mãe sem jeito. O doutor só disse então que trouxesse-o de volta outro dia para conhecê-lo melhor.

Quando chegou no carro lá estava ele sentado, já de cinto posto, observou ele ainda de longe, se olharam, ele baixou a cabeça, e ela deu a volta pra entrar, os dois permaneceram calados por todo o trajeto de volta, sequer sabem se expressar.

Ao chegar a casa ligou pro Richard, o chamou pra ir à cachoeira, os dois se encontraram no inicio da trilha, ao chegar nas margens já correram tirando as roupas, de cueca pularam na água, e nadaram, se divertiram muito, por um longo tempo. Distraídos não notaram a presença de Presley e sua turma aos arredores. Depois de nadar os dois subiram numa das pedras grandes, Edward deitou-se e o assunto persistente do futebol começou – Por que não? Eu sei que você gosta. As vezes parece ter tano medo do Presley que não consegue fazer mais nada. – Não é medo, só não quero ser humilhado como de costume. Não entendo por que precisa de mim pra entrar no time, entre sozinho! No meio da discussão quando saíram perceberam que suas roupas não estavam mais lá, procuraram desesperadamente, mas não adiantou, concluíram que teriam que voltar de cueca, já era tarde, em pouco tempo anoiteceria. Mesmo assim não tinham ideia do que fazer pra que não fossem vistos daquele jeito. Sem saber o que havia acontecido seguiram pela floresta, e um vento anunciava uma tempestade, pensaram que por um lado seria bom, com chuva, não teria ninguém na rua para os verem. Os pingos de chuva eram grossos e frios, os dois corriam se contorcendo na chuva, atravessaram entre arvores, , folhas, troncos velhos e escorregaram muito na lama. Já na rua de casa, escondendo atrás das lixeiras, e das arvores, com a lama escorrendo pelo corpo. Chegaram à casa de Richard, entraram devagar pensando que os pais de Richard estivessem em casa, mas estava vazia. Os dois de cueca ensopados molharam todo o chão, subiram até o quarto, pegaram toalhas, e seguiram até o banheiro tomar banho rápido, ainda tinham que limpar a sujeira que fizeram na casa. Um na banheira, outro no Box, ensaboados comentavam sobre o sumiço das roupas, levantou-se a possibilidade de ser o Presley, mas sem certeza alguma. Apressaram-se, saíram do banho e logo limparam a bagunça, com uma peça de roupa de Richard Edward foi saindo, tinha que chegar em casa logo, antes que sua mãe ficasse preocupada. Saindo Richard lembrou que ia pensar no futebol, no que Edward respondeu – Nem pensar!

Mesmo de guarda chuva chegou em casa molhado, sua mãe perguntou onde estava e que roupa era aquela, disse que era de Richard e subiu sem muitas explicações. Após o jantar foi direto para o quarto, estava cansado, querendo dormir. Antes de deitar, sentou na ponta da cama e rezou em silencio, as pernas adormeceram, os olhos se fechando, era o sono. Sem notar, seu corpo foi adormecendo lentamente, primeiro a visão, depois o olfato, em seguida o tato. No fundo negro de seus olhos uma chuva ainda lenta, no fim, o orvalho brilhando nas folhas, e um dia muito escuro, ele andava como se tivesse um lugar pra chegar, andava com pressa, notou que passava em frente uma igreja cerca de grades pretas, próximo d o portão, foi abordado por um senhor, batina, botas pretas, cabelos brancos, rugas, unhas grossas, não disse nada, o senhor elevou sua mão fechada, como quem vai dar algo, Edward estendeu os braços para receber. Caiu na palma de sua mão um rosário de madeira, a visão ficou turva de repente, e ele acordou assustado, sentou-se na cama suado, ofegante ainda. A luz da lua forte iluminava a madrugada em seu quarto.

As sete da manhã, sem problemas para acordar, levanta, de pijama lava o rosto, bota o uniforme da escola e desce para o café, calado o tempo todo, ouve-se sua voz, quando diz “tchau”. Ainda em frente de casa, na escada, indeciso de qual caminho seguir pra escola, segue então por dentro da cidade, o que não é de costume, as folhas secas cobrem o chão, ele anda apressado, passa por casas, arvores, jardins, e de repente, grades pretas, as mesmas do sonho da ultima noite, levanta o olhar, vê uma igreja, caminha lentamente até o portão, aberto resolve entrar, segue até a porta, no altar da igreja um caixão, alguns padres rezam nos bancos da igreja, ele resolve seguir então, curioso para sabem quem esta morto, passo a passo aproxima-se lentamente da borda do caixão, um susto enorme o faz arregalar os olhos, parece não acreditar no que esta vendo. O senhor do sonho, com o rosário enlaçado entre as mãos.





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