De tanto esperar, desaprendi a expressar-se com profundidade
De tanto esperar, perdi até mesmo o ritmo do sofrer, do drama
Desaprendi a chorar, de tanto esperar que ouvissem ou vissem as lágrimas.
Me afastei esperando que sentissem minha falta, e não sentiram.
Me aproximei esperando que sentissem minha presença, e não sentiram.
Me envolvi esperando reciprocidade, fiquei sozinho.
Me interessei esperando o desinteresse, encontrei o desinteressante.
Esperar é como serviço terceirizado, é transferir responsabilidades
É responsabilizar o outro, pela sina de sempre esperar.
Esperar na esperança nostálgica dos retratos tirados
como se o ontem fosse a felicidade de amanhã.
Seria isso esperar demais?
Esperei dignidade e afeto, e aprendi que o respeito não é uma constante.
Aprendi que esperar é desesperar-se
É a expectativa gerada na ilusão, no ventre de uma mãe estéril.
De tanto esperar compreensão, me tornei egoísta e hostil
Áspero, seco, frigido, desatento, vazio, inerte.
Suspenso na esperança dependente, viciante,
de acreditar que a solução vem de fora para dentro
como um organismo alienígena. A esperança alienada
que não se aliena.
De tanto esperar a totalidade concreta
idealizei um mundo paralelo
Criei pessoas objetivas e diretas
Preocupadas e interessadas.
Desesperado esperando que a ideia se tornasse matéria.
E de esperar esqueci que é da realidade que se produzem as ideias
as ilusões, os desejos, e não o contrário.
Esperei amor de onde se espreme incompreensão
Esperei atenção de onde se espreme indiferença
Esperei contato de onde se espreme distância
Esperei procura de onde se espreme abandono
Esperei aceitação de onde rasteja a ignorância.
Esperei diálogo com quem não tem nada a dizer
E no entanto nunca pode te ouvir.
Des - esperar.
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