Toda tarde de domingo lembrava dos planos, poucos planos, simples planos que nunca imaginaria desfazer. Eram planos de garoto bobo, menino criado na rua, que já brincou de pique esconde e subiu na goiabeira. Não eram planos audaciosos, eram humildes planos. E no domingo a tarde, lembrava de como seria, se estivessem juntos, os frutos dos planos, e seus planejantes sonhadores. Eles se conheciam desde criança, mal se notava distinções, até que os planos de um, mudaram os planos do outro. Ele queria fazer cinema, ganhar o mundo e ser feliz. Do outro, o plano era ficar ali, sentado debaixo da velha goiabeira, e no balanço suave das folhas deixar o tempo passar. Mas desde sempre foram um só, como seria seguir sem rumo, sem uma parte de si? E no domingo de tarde a memória sem escrúpulos revivia a velha goiabeira que nos aproximou, me vinha o colo seguro, a cabeça no ombro e o sorriso mais lindo, que sempre fizeram parte dos planos. Foi da nossa pureza da infância que brotou toda essa independência, e esse jeito teimoso da vida, de nos dar outros rumos. Tinha o boné para trás, a bermuda vermelha largada e a camisa não combinava, só quando o sol brilhava, e a brincadeira tornava, o laço mais forte entre os dois. O plano desfeito no vento, fincado no pé de goiaba, da morte uma velha facada. Se hoje houvessem remédios, que curassem destinos contrários e juntassem os velhos sentidos, eu tomaria o passado, e de quebra o teu comprimido. Hoje o menino é grande, tem traços e barba na cara e chora sobre as raízes da goiabeira, donde o amor enterrado, sem flores, nem beijo de despedida, se faz na unica presença dos planos que nunca seguiram juntos. Ecoá aos ouvidos timidamente, após o sorriso sem graça, na memória somente, o "Eu te amo".
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Ótimo texto. Me fez refletir e voar alto! parabéns
ResponderExcluirJhony Jhony!! Obrigado meu querido!
ResponderExcluirA intenção é essa!
=D
Eu sei quem queria fazer cinema, ahá =D =*
ResponderExcluirachei lindo, ro!
ResponderExcluirvisitarei mais vezes aqui...
Rafa (rafinha)