Já parou pra pensar quantos
lugares que nos dizem livres, que nunca fomos e nunca sequer sentiremos o aroma,
não saberemos das suas curvas, das suas depressões, das suas cores, das suas
histórias?
Quantas histórias não vividas
sonhadas caíram na imensidão frustrante da falta de tempo, da falta de chances,
da falta de tato?
Quantos filmes tristes foram
motivos de choro, de um soluçar constrangedor por não entender como um filme
pode lhe emocionar mais do que sua própria vida?
Já pensou em toda imensidão de
coisas e pessoas que jamais conhecerá e que jamais tocará, as quais com imensa
reciprocidade nunca saberão da tua existência?
Hoje eu pensei em toda essa mágoa
contida, que extravasa no vazio de uma historia que não é a minha, contada num
outro lugar, onde daqui, enquanto expectador, de olhos lacrimejados, insisto no
sonho de protagonizar o meu próprio enredo.
Há tempos a inquietude acompanha
meus passos, distorce minhas certezas, contradiz meus argumentos, e me faz ter
vontade de expressar-se. Há pouco tempo que uma força estranha e desanimadora
tem bloqueado até mesmo que a inquietude em mim, seja combustível para
continuar, na única certeza que eu achava que tinha.
Deste modo, o mundo em que vivo,
e que já se desconstruiu inúmeras vezes diante dos meus olhos, agora me parece
inerte, e não corresponde ao meu pulsar, o meu pulsar não corresponde ao meu
querer.
O mundo, dentre todas as
possibilidades de fragmentação, me causa a sensação de permanecer em um estado
de deslocamento, ou ainda de descolamento, entre o real, o concreto, e as
ideias. E por permanecer neste conflito é que me pergunto, o quanto deixei de
crescer por não tomar da mesma dose e do mesmo remédio que tomam os normais,
que se sentem livres todos os dias.
Aqui, nesta prisão, eu nunca
entendi de fato como é ser livre. O conceito de liberdade se apresenta
desfocado, quase esmaecendo diante da minha compreensão vazia e tardia.
Não é poesia, é falta dela. Não é
lamentação, é não ter pelo que lamentar. É a tentativa em vão de sair de si e
das suas angustias, num voo ampliado em busca de entender o mundo e sua
totalidade, e não entender coisa alguma, voltar-se mais uma vez para si, e sentir
pena. Uma pena que não plana.
Assim vai se construindo uma reticência
cíclica, uma historia confusa e estática. Muitas vezes uma historia que parece
ter movimento, e que no entanto permanece sempre no mesmo lugar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Pedras na janela