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domingo, 29 de janeiro de 2012

O inferno e a submissão aos paradigmas religiosos na sociedade do capital.


Existe em comum entre as religiões justamente a busca por salvação, uma busca aparentemente pouco interessada em tornar os sacrifícios terrestres em moeda de troca para uma eternidade no paraíso. O homem coisa morre todos os dias por dentro e por fora, e vive uma vida vazia de viver, recheada de uma esperança no fim, no além, no que há depois das dores terrenas. O homem coisa acredita que o voto de pobreza, que o nome limpo, e a dignidade são as únicas coisas que lhe restam, e amedrontados pelos dogmas religiosos de um inferno concreto, com demônios, e larvas ferventes, deixam-se usurpar suas vidas, com o verdadeiro sentido de viver.
Quem nunca foi repreendido por estar se divertindo enquanto outros estavam ajoelhados aos pés de algum santo rezando e clamando a Deus em troca de créditos para o céu? Oras, valerá mais a pena viver uma vida de sacrifícios na terra, para não enfrentar a fúria de Deus, que impiedoso mandará sem passagem de volta, seus filhos rebeldes para o fundo do inferno.
É cruel essa cultura do inferno, de pessoas inseguras, amedrontadas, que se privam por não acreditarem nelas mesmas. No entanto, crêem em tantos absurdos, que se esquecendo de acreditar em si mesmas, vêem-se como meros pecadores, esperando a redenção. Não há de se por em discussão as crenças, crer é algo tão peculiar, tão intimo, não diz respeito à opinião alheia, a não ser quando essa crença faz parte de uma série de crenças construídas socialmente com objetivos pouco amistosos de manipulação da consciência social. Crer em si mesmo, seria no sentido da meritocracia, agradecer a si mesmo pelas graças diárias, que não são destinos, são conseqüências de atitudes concretas que fazem parte da realidade e independem de qualquer crença em algum ser superior. Digamos que alguém exposto culturalmente a existência de um ser onipotente, tomado como verdade absoluta, ao deparar-se com a consciência da realidade da não existência de um ser acima de todas as coisas, ao se por de frente com as contradições e crueldades do mundo capitalista, sentir-se-á solitário. Os homens há tempos vêm sendo construídos assim, covardes, dependentes, incapazes de tomarem decisões, conformados, bem como o sistema pede. Diante dessa covardia, sem saber onde amparar-se, define impossível e inaceitável a inexistência de um Deus que o salve e que resolva seus problemas terrestres.
Essa ideologia capitalista cristã, que cria essa consciência do bem e do mal, do céu e do inferno, é a mesma que é impiedosa diante das diferenças de classes, tem como principal foco, a preservação da propriedade privada, a concentração das riquezas e a exploração do trabalho do homem coisa, que dentro do ciclo, se vê como parte de uma passagem bíblica, o pobre, que receberá o milagre, e terá o direito sagrado ao reino dos céus. Este condena os atos humanos, os atos carnais, e os instintos e desejos que emergem no homem. O homem animal é visto em suma, como o demônio, a possessão, enquanto o homem reprimido de seus desejos, contra sua natureza, temente as normas e padrões sociais, garantem eticamente o seu espaço ao lado do ser supremo, nos campos verdejantes do paraíso eterno. Sejamos irônicos com a sensibilidade máxima para compreender minhas palavras, que são sérias, contudo permeiam o caminho critico da comédia, do cômico, do tragicômico.
Somos todos irmãos, filhos do mesmo pai, entretanto, humanos o suficiente para diante do nosso livre arbítrio julgar e condenar na terra. E a justiça terrestre é cega, mas a divina meu caro, essa não erra, mas também nunca acertou. Pregou o salvador na cruz, e condena dia após dia uma multidão a morrer de fome, sem ter onde morar, sem a dignidade que alguns, classe média tanto se orgulha, e não bastasse isso tudo, ainda tem que sentir-se culpados, pecadores, e amedrontados pois além do inferno da terra, um outro bem pior, caso não siga as regras sociais impostas, ou os dogmas da igreja, que para mim são a mesma coisa, o espera após a morte do corpo, da carne, dos instintos animais.
O mal, também é um constructo social, e depende dos valores morais que foram designados por um grupo social, e enquanto paradigmas se reproduzem pela história. O mal hoje se representa de várias formas, e vão desde os marginalizados que não tem o que perder nas ruas, que podem matar por uma pedra de crack, mas que são produtos do próprio sistema, mesmo a classe média que se esconde atrás de cercas elétricas insistindo em negar, até a liberação dos instintos mais primitivos do homem, como matar para comer, ou por qualquer outro motivo passional. O homem vai realmente para o inferno? Então qual o sentido dele pagar pelos crimes aqui na terra? Crimes esses que existem por que homens decidiram sobre quais atitudes não seriam aceitáveis em sociedade. Os punidos pela justiça terrestre seriam punidos duas vezes, uma aqui e outra no inferno. Uma viva a impunidade que pode ser resolvida no inferno. O fato é que o inferno tornou-se a primeira e ultima instancia, para controlar a consciência da sociedade, primeira por que desde a tenra infância, aprende-se no berço da religião quais os valores morais que cercearão sua liberdade de ser quem é pelo resto da vida, e se mesmo assim ousar transgredir, te mostrará o inferno na terra, e alertarão de que o inferno após a morte pode ainda ser pior.
Temer o inferno é nada mais do que reproduzir os paradigmas sociais capitalistas, que sobrevivem das massas acéfalas, crentes, que ao invés de enfrentar concretamente os conflitos que lhes surgem, ajoelham-se num altar, e aguardam um milagre, depois ignoram todas as evidências de que as soluções se deram de modo real, concreto, e atribuem os resultados aos seus atos simbólicos e abstratos. E assim o inferno se solidifica, e vira arma na mão de quem tem o poder.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Paralelo para mim

Estava por aqui, imaginado como seria se o medo que eu sinto de viver, não interrompesse todos os meus caminhos. Acostumei-me a viver a vida dos personagens, e o máximo do meu desafio, é o desafio que o mocinho da novela das oito vive. Não aprendi a superar os meus desafios, não aprendi a viver a minha vida, a realidade imita a arte, mas minha capacidade tem como limite viver somente a parte do final feliz. Toda vez que o clímax da minha vida entra tempestivamente em ação, a sensação de viver me corrói o estômago, uma dor de barriga interminável, um frio constante, uma irritação nos lábios inferiores, um surto depressivo suicida, uma vontade de não existir, uma crise de identidade me abate, como um animal pronto pra ser consumido. É uma síndrome? Covardia? Medo? Não sei. O que sei, é que as dores são físicas, é real, tomaram a minha vida, saíram da ficção, e tomaram meu corpo. Eu não posso ser o protagonista da minha vida, eu não sei como lidar com a fama de ser quem eu sou. Eu não estou preparado para viver esse personagem, eu. Posso ser quem eu quiser no submundo das idéias, por que viver a realidade? Eu tenho consciência do perigo que corro, ando sobre a linha estreita, da insanidade. Não sei ao certo o quão diagnosticável pode ser, nem ao menos se é uma doença, contudo dói, paralisa, deixa tremulo, impaciente, ansioso. 

Ao papel não digo adeus. A vida, todos os dias.

A vida. Algo relativamente longo, que alguns abonados, afortunados, realizados, vomitam como curta, passageira, uma só. Às vezes confesso, me parece tão longa, em outros momentos, no reflexo do espelho, salto os olhos de susto, o tempo passou rápido sim, eu não sei ao certo o quanto da vida foi realmente vivido, o que posso dizer, é que consequências trágicas da não vida assombram meu presente, e, por conseguinte meu futuro, se é que há. 
Eu queria não precisar admitir, no entanto, esta é uma carta de derrota, sim, ela é. Uma carta de quem se deu por vencido. Os que acreditam em forças divinas e sobrenaturais julgarão e condenarão minha conformação, minha desistência. Alguns ainda dirão que as chances são as mesmas para todos, eu não duvido de mais nada, o problema esta claro, e sou eu mesmo. Já desejei inúmeras vezes ser protagonista da minha própria história, mas nunca pude imaginar que a minha história fosse ter um enredo dramático, no entanto não a ponto de superações e grandes revira voltas. A cruz, ao contrário do que dizem é sim mais pesada, e tenho ciência que não é somente a minha.
Eu realmente gostaria de sacudir a poeira, olhar no espelho, me chamar de gostoso e ser feliz, independente de qualquer coisa. Na verdade fiz isso várias vezes. O problema é justamente esse, as repetições, a quantidade de vezes que tenho que fazer isso. A cada sacudida que dou, espero a nova tempestade de areia, e ela sempre vem.
O menino reclamão aqui, não tem do que reclamar, e realmente, eu não teria coragem de expressar todas as passagens difíceis que tive, eu sei, todo mundo tem momentos assim, eu não tenho a menor duvida disso.
Meus momentos somam-se infelizmente a tudo aquilo que eu não sou, forte, resistente, indiferente, afortunado dos dons da sorte, o que me faz muita falta. A poeira na roupa fica cada vez mais pesada, solidificou-se, chacoalhar esta ficando complicado. Cada dia que passa torno - me aquilo que  mais temia, eu mesmo. O gene ruim. A ovelha negra. Vitima de si mesmo. Quem quer ser assim? As pessoas agem como fosse realmente uma escolha, enquanto eu me sinto de mãos atadas. Dói-me profundamente não ter sido o que eu queria, me dói não ter visto em momento algum a oportunidade de ousar, de ser eu por completo, eu não sei ao certo em que momento começou essa história de não poder ser. O que me recordo, é que a cada vez que isso se passava pela minha cabeça, eu me lembrava das conseqüências, das mágoas, das dores, das comparações, dos estereótipos, dos olhares condenadores, do futuro incerto, e isso tudo sempre me deixou tão inseguro, paralisado, como se o portal de volta para casa se fechasse na minha frente a cada episódio, antes mesmo que eu pudesse atravessá-lo. Isso nunca passou, se estende interminavelmente, e o futuro, me parece cada vez mais assustador e obscuro, lamento admitir, lamento mesmo.
O tempo passou, as pessoas passaram, eu fiquei aqui, esperando a minha vez, que chegou tantas vezes, na hora e no lugar errado, e foram tantos os erros, que aqui, hoje, cansado, exausto de não ter realmente com quem contar, ou de não ter mais coragem de contar com alguém, me despeço de mim, porém jamais digo adeus a você, papel, que me aceita, sem quaisquer julgamentos. 

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

A tampa da laranja podre, e as frutas proibidas.


O par. A metade. A ilusão. Não tenho medo de esfregar isso na minha própria cara, pois sei bem, nem todos viverão uma grande história e nem todas as grandes histórias são tão grandes assim, digo isso, não com grande conhecimento de causa, mesmo por que, quem sou eu para entender de grandes histórias, se nem ao menos vivo uma. Não por falta de vontade, talvez até tenha tido oportunidades, contudo, vale lembrar, que grandes histórias, só acontecem de verdade, quando ouvimos tempos depois, e desconsideramos a bela porcaria que a tal história foi.
Eu já pensei em ser bonito, tentar ser mais simpático, sociável talvez, tudo por uma história, e tudo que consigo escrever, não passam de algumas linhas desconexas, desarticuladas, desprovidas de realidade, letras que fincam raízes em meras ilusões.
Nenhuma grande história começa como a minha, ou como várias a fora, que se fazem sem protagonistas, história bonita tem gente de atitude, tem gente que fala bonito a todo o momento, sempre com um ótimo conselho. Grandes histórias, ou tem gente muito bonita, ou muito feia, ou tem gente imensamente feliz, ou tão no fundo do poço, que o compadecimento do leitor, aquele que lê e re-lê aumenta o ibope. Ser normal, é um sacrilégio para grandes histórias, não faz nenhum sentido ser normal, e talvez essa tenha sido a pedra no sapato, ser comum demais. Soma-se esse ar comum, com essa cara de nada, e temos como resultado um mero figurante da vida dos outros. Claro que os protagonistas, generosos e impecáveis como só eles são, dirão: “Faça sua própria história, todos somos capazes”, imensamente fácil vomitar otimismo com todos os holofotes voltados para si mesmos. Alguns confundem as minhas reivindicações, me depreciam como se o meu querer, fosse justamente o contrário de toda a humanidade, como se eu com meu coração amargurado quisesse o fim de todas as grandes histórias, o que me lembra aos “achismos” sobre o comunismo e socialismo serem um conjunto de pessoas querendo dividir a pobreza. Acordem meus caros, o que querem os socialistas é a divisão das riquezas, e o que eu quero, é a divisão da felicidade. Posso eu viver grandes histórias também?  Claro, não depende de vontade, tem a ver com ousar ser, e eu definitivamente não fui, até agora, eu não fui. E ser, eu sei, é tão fundamental. Entretanto ser, é desconstruir tudo aquilo que eu sou, e nada mais que isso.
Particularmente, viver uma grande história sempre esteve nos meus planos, até que a cada ilusão de que isso seria possível, tive que me deparar com a realidade, do eu, dos outros, dos fatos. Toda laranja tem a sua metade, e eu no meu estado de loucura vejo isso por todos os lados, nas ruas, nos parques, nos shoppings, no trabalho, os pares tomam conta, e no alto da minha insanidade, me percebo podre, isso mesmo, uma metadinha pequenina, e podre, sem par. Não entendam mal, é uma laranja podre, às vezes saboreada, por motivos diversos. O fato é que não tem par para fruta podre, tenta um encaixe daqui, um encaixe dali, topa com umas frutas proibidas, mas são só frutas, se chupam, se espremem, viram bagaço, e continua podre e sem a metade, aquela que até as laranjas mais solitárias, tem.
Não é nada fácil perceber que sempre falta alguma coisa, é a partida que nunca sai da estação, o destino que nunca chega, é como a areia que corre entre os dedos, cada um com seu mundo, com seu jeito de ser, laranjas lindas por assim dizer, outras tão agradáveis de falar, outras parecem que nasceram para você, e quando você se abre, laranja podre, desencaixam, desiludem, e uma outra tampa sã, te toma o lugar num piscar de olhos, e você nem sabe ao certo como isso aconteceu.
É como um fruto que não sabe de que pé caiu, sem origem, vê-se sem rumo, perdido entre as folhas secas, acaba virando adubo para que novos frutos, mais doces, mais viçosos, e já com tampas, amadureçam, cresçam, e se divirtam pomar a fora. Irônico, nunca ser colhido, estando ali tão próximo da sanidade das outras laranjas, aquelas que se aproximam como quem não quer nada, e querem tantas coisas. Tanto que às vezes de fruto, me transformo em árvores, que é para deixar que subam, escalem, façam a ponte, me sinto sinceramente usurpado, como já fui outras ocasiões. Não sei se me acostumo, se mesmo podre resisto, se finjo ser uma laranja podre feliz. É o que todos querem, não é mesmo? Claro, sou eu meu próprio algoz. Estúpido, infértil, sem história alguma pra contar. Laranja podre querendo ser salada de frutas, não é natural, não é normal, só comum. E ser comum, não faz uma grande história.



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