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terça-feira, 29 de junho de 2010

(Des) Cerebrados Filhos de Eva

Difícil acreditar que estamos falando de seres (des)humanos racionais ao tratar de uma pluralidade de pensamentos idealistas, pautada em irônicos e sínicos homens que por acharem estar travando uma guerra, acabam ferindo mais que o seu próprio ego, ferem também a dignidade alheia, ferem a verdade, ferem o verdadeiro conceito de coletivo, de união, e de luta (des) interessada, porém com foco, com ponto de vista, com tomadas de partido, com atitude, com honestidade, com o tal do caráter, que há muito se perdeu em meio as falácias, festas e superficialidades, que atendem nada menos que os desejos imediatistas, e que por isso se tornam a primeira vista essenciais. Há tempos que anseio denunciar de dentro da luta, de dentro do grupo, porém no caminhar diário, oprimido como qualquer um, me vi enquanto alguém engajado de pouca inteligência, e de muita indignação. Como lutar para defender justamente os direitos daqueles que insistem em dizer de modo conformado que isso não passa de uma rebeldia desmedida e inconseqüente? Como lutar pelos direitos daqueles que num flerte a la Judas, te passam uma rasteira, e dificultam a caminhada? Dentre os Cains e Abels, e os mal agradecidos, somos todos infeliz ou felizmente da mesma fornada, todos se caracterizam pelos polegares opositores, dotados de inteligência, e capacidade de evolução. O que define a causa de cada um? O que define se alguém algum dia terá ou não uma causa? O que me faz acreditar na minha causa? Deve ser justamente o fato desta causa não ser simplesmente a minha, deve ser pelo choro amargo que molha a garganta seca e mantém o nó atado, ao se perceber incomodado, rodeado de acomodados pelas causas alheias. Não! Eu definitivamente não posso aceitar, que alguém que obstante de tudo tenha tido uma vida cruelmente pobre, ou mesmo levemente pobre, ou ainda regada de insuficientes mordomias que o modo capitalista rege, consiga discriminar a classe dos pobres. Eu não consigo aceitar que um negro não seja a favor da cota racial, ou que um pobre não seja a favor da cota social, e que um homossexual não seja a favor da criminalização da homofobia, ou que alguém que por toda a vida estudou em escola pública não defenda a cota para os mesmos. Não, eu não acho que estas são as soluções perfeitas. Mas o que não se compreende é como estamos sendo mal agradecidos com aqueles que lutam diariamente pelos direitos das minorias, contra os preconceitos, contra os homofóbicos, contra os racistas, contra todo o tipo de repressão. As cotas são as migalhas, é a lavagem aos porcos, devido a toda uma história de luta. Sim, eu também acho que tudo isso não passa de estratégia política, uma tentativa de amortecer possíveis revoltas. Mas daí, você fazer parte de uma minoria, e conseguir ir contra ela, é digno de um covarde, de um conformado, de um acomodado rastejante, que deixa os “insetos interiores” crescer dentro de si. Eu já disse e repito, se o preconceito esta ai para todo mundo ver, por que diabos tentar botar panos quentes? Sou sim a favor da cota para negros, mesmo alguns negros, e alguns “burros” acharem ser um reforço da discriminação, mesmo alguns achando que isso é reforçar a exclusão. Mas ninguém pensa que para um grupo que por toda uma vida foi excluído não interessa as apologias baratas feitas pelos pequenos burgueses. É nisso que querem que acreditemos, é assim que querem que as minorias ajam, de forma que corroborem para continuidade da posição de minoria, fingindo sempre que esta tudo bem, que não somos minoria, que não somos descriminados. Essa desavença entre classes é parte das estratégias. Por uma classe contra a outra é parte da estratégia. Se por toda sua vida você estudou em escola particular e não tem direito a cota na Universidade pública, provavelmente será contra a cota, e alguns “(des) cerebrados” que por toda a vida estudaram em escolas públicas também vão achar isso injusto, pois bem, não da pra chorar pelo leite derramado. Eu já disse em outro post que o certo era a não existência da propriedade privada, ou seja, da escola particular, afinal de contas todos os filhos de Eva deveriam supostamente ter direito ao mesmo tipo de educação, mas isso não é a realidade, a cota para estudantes de escolas públicas não muda a realidade, mas eu enquanto estudante da escola pública, acho mais que merecido a cota, e digo mais, seria de extrema importância que as Universidades públicas abrissem espaço somente para quem estudou em escola pública, para só assim existir uma possibilidade mais concreta de mudar a realidade. Já imaginou os pequenos burgueses colocando seus filhos nas escolas públicas? Duvido que não pensariam em valorizar mais o ensino público. Cansa! È uma sensação de expulsão do paraíso todos os dias, é ser traído todos os dias, é sentir-se sozinho todos os dias. Eu definitivamente devo ser um filho adotado de Eva.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Jardineiro de mim

Eu não preciso de você pra me dizer
Que tudo acabou, e não preciso receber
Flores que me digam
Que falem sobre os dias, que nunca voltarão
Preciso então sentir teu corpo aqui, pertinho do meu
Nunca se esqueça
Nunca se esqueça
Que eu cuido bem do seu jardim
Que as tuas flores são
Que as tuas águas são
Que os teus beijos são
Conheço bem, a tua intenção, de me roubar
E sentir, e levar, as flores que eu cultivei para mim
Vamos em frente
Eu quero ser, um amor sem fim
Uma rosa, um broto de jasmim
Enfim
Me leve, me regue
Me esquece, me observe
Me contemple,  me roce
Me entenda,  seja um jardineiro
Seja o lavrador
E me plante o seu amor

Rodrigo E.

terça-feira, 15 de junho de 2010

A Vuvuzela é só a ponta do iceberg

Não sei se repararam, mas no Brasil, toda e qualquer babaquice que se preze, vira moda, vira fascínio, e até texto de Blog, pra não fugir a regra, eis que eu carente de estar na moda faz tempo, entendo que só mesmo entrando com o nome de vuvuzela nesse momento poderíamos chamar atenção dos honrosos brasileiros, que sai copa entra copa, ainda não se deu conta da força que tem quando em prol dos mesmos interesses. Do trabalho para casa, de casa para minha tia, em todos os lugares que eu passava as pessoas estavam lá, juntas, com o mesmo objetivo, com o mesmo fervor, gostando ou não, estavam lá, quase uma sensação de obrigatoriedade, mas esta bem quista, visto que nada melhor que sair mais cedo do trabalho, e ter uma terça feira com cara de feriado mundial. Todo mundo já entendeu que gostando ou não gostando, se nós estamos juntos as coisas se movem, saem do lugar, e remetem a mudanças efetivas, mas agora me diz por que mesmo assim termina a Copa, termina a coletividade? É cada um por si e Deus pelos ricos? Gente, desde a copa de 94 que eu assisto, vibro, torço, e me sinto emocionado com todo esse auê, mas eu acho que desde lá, que algo me diz que há muito mais entre a Copa e a verdade, e a política do que a gente pode imaginar, e na verdade não sou só eu que sei disse, qualquer pelego sabe, mas pra que mexer com isso? Pra que querer saber dessa sujeira toda, se o que interessa mesmo é se divertir com a boca na Vuvuzela? Eu não preciso dizer pra ninguém que é ano de eleição, e não preciso dizer que os vereadores votam projetos polêmicos bem nas datas de jogo do Brasil, isso todos sabem, mas é fatigante imaginar assistir uma assembléia a um jogo do Brasil. Sair do conforto de casa pra votar projeto que vai definir o destino de centenas de pessoas pra que? Eu que não faria isso, sei que sei que nada sei, pois sei que sabem que nada sabem. A diferença é que eu sofro por isso. Como proceder então? Bem, a principio escrever, por pra fora essa indignação, e depois pensar em alguma forma de por em prática essa intenção, que é pura, que é livre da contaminação. Mas o problema é, que sozinho, eu com minha Vuvuzela, no máximo vai acordar a vizinhança, que acha que ser patriota é tocar tambor, e pintar a casa de verde e amarela de 4 em 4 anos.

Descartando o descartável

Crónicas Marcianas
Montevideo Enero 2006
(Tradução Espanhola – Português: Michelle Behar – Correção da tradução lingüística e adaptação de texto: Celito Medeiros)


Com certeza, o destino esta tramando para me complicar a vida. Não consigo acomodar meu corpo aos novos tempos. Ou por dizer melhor: Não consigo acomodar meu corpo a esse “use e jogue fora”, nem ao “descartável”. Eu sei, se eu tiver que pedir a um psiquiatra para me medicar, então estou frito e estarei ‘nas mãos dele’! O que acontece é que não consigo andar pelo mundo jogando fora as coisas ou trocando-as pelo modelo seguinte somente porque alguém pensou em adicionar uma função ou faze-lo menor.


Não faz tanto tempo, minha mulher e eu lavávamos as fraldas das crianças, as pendurávamos no varal; passávamos, dobrávamos e as preparávamos para elas voltarem a sujar. E eles, nossos nenéns, mal cresceram e tiveram os próprios filhos, começaram a jogar tudo fora, incluindo as fraldas. Entregaram-se inescrupulosamente ao descartável, nem sempre ao melhor.


Sim, eu sei. Para a nossa geração sempre foi difícil jogar fora. Nem o lixo nos parecia descartável! E assim passamos a vida guardando papel de bala no bolso e as tampinhas nas gavetas. Nossas irmãs e namoradas se viravam como podiam em guardar algodão para enfrentar a sua fertilidade mês a mês. 


Não, eu não digo que era melhor. O que digo é que em algum momento fiquei distraído, cai do mundo, e agora não sei por onde entrar. 


O mais provável é que o de agora esta bem…, não discuto. O que acontece é que não consigo mudar o aparelho de som a cada ano, o celular a cada três meses e o monitor pela ultima novidade. 


Guardo os copos descartáveis! Lavo as luvas de borracha feitas para serem usadas uma única vez! Empilho como um velho as bandejinhas de isopor dos frios! Os talheres descartáveis convivem lado a lado com os de prata! 


É que eu venho de um tempo em que as coisas eram compradas para a vida toda. Mais ainda, eram para a vida dos que vinham depois! A gente herdava relógios de parede, jogos de taças, toalhas de mesa e até tigelas de uso diário. 


Estão nos complicando!
E eu descobri, eles fazem de propósito! Tudo se estraga, tudo enferruja, tudo gasta ou quebra ao pouco tempo para que tenhamos que troca-lo. 


Nada é consertado. Onde andam os sapateiros que trocavam as meia solas dos nossos sapatos? Alguém tem visto os afiadores passando pelas casas? Quem arruma as facas elétricas? O afiador ou o eletricista? Será que o ferro velho esta cheio de Tefal? Tudo é jogado fora, e enquanto isso produzimos mais e mais lixo. 


Outro dia eu li que temos produzido mais lixo nos últimos 40 anos que em toda a historia da humanidade! Quem tiver menos de 40 anos, não vai acreditar nisto. Mas quando eu era criança pela minha casa não passava o lixeiro. Eu juro! E tenho menos de 50 anos. Todos os detritos orgânicos iam para as galinhas, patos ou coelhos (e não estou falando do século XVIII).


Não existia o plástico nem o nylon. A borracha era só para os pneus dos automóveis. Os poucos detritos que não eram comidos pelos animais, eram queimados ou serviam como adubo. 


É dai que eu venho. E não que tenha sido melhor. É que não é fácil para um cara coitado como eu que foi educado para “guardar tudo que algum dia pode servir” a mudar para “compre e jogue fora que já vem modelo novo”.


Minha cabeça não agüenta tanto. Agora meus parentes e os filhos dos meus amigos, não só trocam de celular uma vez por semana, como, além disso, trocam de numero, de endereço eletrônico e ate de endereço real. Eu fui preparado para viver com o mesmo numero, a mesma mulher, a mesma casa e o mesmo nome (e era um nome a zelar).


Fui educado para guardar tudo. Tudo! O que servia e o que não. Porque algum dia as coisas poderiam servir. Sim, eu sei, tivemos um grande problema: nunca nos explicaram que coisas podiam servir e que coisas não. No empenho de guardar (porque a gente obedecia) guardávamos até o primeiro cachinho, o primeiro dentinho…, os cadernos da escola, e não sei como não guardamos até o primeiro chiclete.


Como quer alguém que a gente de desfaça do celular aos poucos meses de ter comprado? Será que as coisas se conseguem facilmente e não se dá o valor, viram descartáveis com a mesma facilidade com que as conseguimos? Em casa tínhamos um móvel com quatro gavetas. A primeira era para as toalhas de mesa e panos de prato, a segunda para os talheres e a terceira e quarta gavetas eram para tudo o que não fosse nem toalha nem talher. Guardávamos tudo, e como guardávamos!


Guardávamos até as tampinhas de refrigerante. Para que? Fazíamos com elas tapetes de limpar calçados na entrada de casa, pregados numa tábua. Dobradas e enfiadas no fio, serviam de cortinas para os bares. Tudo a gente guardava! Os botões que caiam das camisas, os carretéis sem fio, as canetas que algum dia podíamos precisar, canetas sem tampa, tampas sem caneta. Tudo na terceira e quarta gaveta. 


Isqueiros sem gás ou que perdiam a mola. Molas que perdiam seu isqueiro. Em quanto isso, o mundo espremia o cérebro para inventar isqueiros que se jogam fora quando acabe seu uso. E as lâminas Gillette, até pela metade, serviam como apontadores durante todo o ano escolar. Nossas gavetas guardavam chavinhas para abrir latas de patê, no caso que alguma delas viesse sem a chave. 


E as pilhas! As pilhas passavam do congelador ao teto, porque não sabíamos se devíamos dar calor ou frio para aumentar um pouco sua carga. Não podíamos nos resignar que tivesse acabado sua vida útil, não podíamos acreditar que algo vivesse menos que um jasmim. 


As coisas não eram descartáveis, eram guardáveis! Os jornais serviam para tudo! Para fazer calço no sapato, para jogar nos dias de chuva, e principalmente para embrulhar as coisas. Quantas vezes ficamos sabendo das coisas lendo jornal que embrulhava as compras.


Guardávamos o papel laminado dos chocolates e cigarros para fazer enfeites de Natal. As paginas das folhas do ano passado para fazer quadros, e os ‘conta-gotas’ dos remédios no caso que algum viesse sem conta-gotas. E os fósforos usados para poder acender a boca do fogão com a outra que estava acessa. Os maços de baralho eram guardados mesmo faltando algumas. Sempre era possível usar um coringa com um escrito à mão dizendo: Este vale um sete de copas. Às vezes era guardada a metade do pregador, esperando a outra metade para virar um pregador completo.


Eu não sei o que acontecia, mas era difícil declarar a morte dos nossos objetos. Assim como as nossas gerações decidem ‘matá-los’, assim que eles deixam de servir. Aqueles tempos não eram de declarar nada morto, nem ao Walt Disney. 


E quando tomávamos sorvetes em taças, cuja tampa virava base, era falado: Tome o sorvete e jogue a taça fora. Imagina se a gente ia jogar! Iam direto para a prateleira junto com os copos e as xícaras. As latas de ervilhas e pêssegos serviam como vasos de flor e as primeiras garrafas plásticas de água, como enfeites de gosto duvidoso. As caixas de ovos serviam para depósito de aquarelas, as tampas em cinzeiros, e as primeiras latas de cerveja, em porta lápis. As rolhas esperavam uma garrafa que servisse. 


Estou me segurando para não fazer um paralelo com os valores descartáveis e os que preservamos. Não vou fazer isto. Seguro-me para não falar que hoje, não só os eletrodomésticos são descartáveis, que também o casamento e até a amizade é descartável. Mas não vou comparar objetos com pessoas. Seguro-me para não falar da identidade que vai se perdendo, da memória coletiva que vai sendo jogada fora, do passado efêmero. 


Não vou fazer isso! Não vou misturar os temas, não vou falar que o perene virou caduco e o caduco virou perene. Não vou falar que os velhos é que declaram a morte assim que as suas funções começam a falhar, e que os conjugues podem ser mudados por modelos mais novos. E que, se a alguma pessoa falta-lhe uma função, não tem mais valor, é discriminada e se dá valor ao mais lindo e glamuroso. Não, esta é só uma historia de fraldas e celulares. 


Do contrario, se misturarmos as coisas, teríamos que pensar seriamente em entregar a esposa como parte de pagamento por uma senhorita com menos quilômetros rodados e alguma nova função. Mas, eu sou devagar neste mundo, e até corro o risco de que minha esposa ganhe de mim, e seja eu o trocado. Não devemos ser conservadores com relação às tecnologias, mas também não podemos ser destruidores do que tanto nos poderia ajudar na economia de nossos tempos. Estamos à mercê dos modismos, do que nos ditam ser a verdade ou o melhor para nós próprios? O quê ganhamos e o quê perdemos com tudo isto?
Eu… Eu não me entrego!

Marciano Durán

sexta-feira, 11 de junho de 2010

O teatro magico.


Notas de um observador:

Existem milhões de insetos almáticos.
Alguns rastejam, outros poucos correm.
A maioria prefere não se mexer.
Grandes e pequenos.
Redondos e triangulares,
de qualquer forma são todos quadrados.
Ovários, oriundos de variadas raízes radicais.
Ramificações da célula rainha.
Desprovidos de asas,
não voam nem nadam.
Possuem vida, mas não sabem.
Duvidam do corpo,
queimam seus filmes e suas floras.
Para eles, tudo é capaz de ser impossível.
Alimentam-se de nós, nossa paz e ciência.
Regurgitam assuntos e sintomas.
Avoam e bebericam sobre as fezes.
Descansam sobre a carniça,
repousam-se no lodo,
lactobacilos vomitados sonhando espermatozóides que não são.
Assim são os insetos interiores.

A futilidade encarrega se de “mais tralos'.
São inóspitos, nocivos, poluentes.
Abusam da própria miséria intelectual,
das mazelas vizinhas, do câncer e da raiva alheia.
O veneno se refugia no espelho do armário.
Antes do sono, o beijo de boa noite.
Antes da insônia, a benção.

Arriscam a partilha do tecido que nunca se dissipa.
A família.
São soníferos, chagas sem curas.
Não reproduzem, são inférteis, infiéis, “infértebrados”.
Arrancam as cabeças de suas fêmeas,
Cortam os troncos,
Urinam nos rios e nas somas dos desagravos, greves e desapegos.
Esquecem-se de si.
Pontuam-se


A cria que se crie, a dona que se dane.
Os insetos interiores proliferam-se assim:
Na morte e na merda.

Seus sintomas?
Um calor gélido e ansiado na boca do estômago.
Uma sensação de: o que é mesmo que se passa?
Um certo estado de humilhação conformada o que parece bem vindo e quisto.
É mais fácil aturar a tristeza generalizada
Que romper com as correntes de preguiça e mal dizer.
Silenciam-se no holocausto da subserviência
O organismo não se anima mais.
E assim, animais ou menos assim,
Descompromissados com o próprio rumo.
Desprovidos de caráter e coragem,
Desatentos ao próprio tesouro...caem.
Desacordam todos os dias,
não mensuram suas perdas e imposturas.
Não almejam, não alma, já não mais amor.
Assim são os insetos interiores.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

O conformado e o seu pequeno mundo

O filho de uma mãe, pobre, maltrapilho, camarada de pouca sorte, nascido em berço esplêndido, tomado pela ideologia burguesa, temente a Deus, e aos paradigmas(dogmas) da igreja, que com muito esforço, conseguiu se sobressair cursando uma "faculdadezinha" e ganhar um a- salário de estagiário, mais otário do que escravo, crê que a linha da vida esta traçada e acredita fielmente que cada um tem o destino que merece, ou que cada um faz seu destino como quer. Dizem que a faculdade foi feita para disseminar conhecimento, e transcender o senso comum, mas o afortunado camarada confunde chegar ao resultado de algumas complexas "equaçõezinhas", com o sentido máximo de viver e solucionar os problemas que lhe rodeiam. Somente os que lhe rodeiam. O degenerado capacho da ideologia, e da apologia institucional ao conformismo e a manutenção do modo de produção capitalista, não se enxerga dentro do problema e acredita que a cada qual cabe fazer a sua parte, e provavelmente deve acreditar que quem nasceu pra ser gari, lixeiro, ou outra profissão que por mais digna que seja exigem do individuo mais que humildade, tem como pré requisitos ser pobre, não ter acesso ao conhecimento especializado ou mesmo o básico, cabendo a este somente os serviços braçais  que lhe restarem, e que estes estão simplesmente obedecendo a ordem natural das coisas. E para este, quem questiona ou discute, ou simplesmente se indigna com o sistema de divisão de classes são  loucos, e isso é coisa pra quem não tem o que fazer, coisa de gente metida, que adora se aparacer na política, que procura cabelo em ovo, que gosta de irritar os outros, e adora bater panela reivindicando seja lá o que for. Odeia os socialistas e comunistas e ainda acredita na história cabeluda da vovó que estes comem criancinhas, e nunca nem ao menos teve o mínimo interesse de ler a respeito, e procurar entender o verdadeiro conceito de comunhão, ou mesmo o de revolução, no caso a unica forma de transformação. Mas transformação de que? diria nosso amigo pobre de dinheiro, de espírito e de humanidade. Para o esforçado que esta conseguindo comer, e morar, e ainda conseguiu comprar seu meio de locomoção, e vez ou outra consegue fazer uma viagem via CVC nas suas férias para um lugar lindo do nosso país maravilhoso, não se tem o que transformar. Se o maltrapilho com seu esforço honroso conquistou tudo isso em meio a forte concorrência do mercado livre, qualquer mendigo, sem referencias, sem comida e sem educação pode conseguir, basta querer, basta acreditar em Deus, por que claro, é Deus quem esta governando o Estado, e se algo der errado, muito mais fácil vai ser por a culpa em algo divino e invisível. O fulano beltrano com certeza vai justificar de todas a formas possíveis o modo de vida em que vivemos, em sua própria defesa, acreditando que este é o modo ideal, e que este nunca foi diferente, sem saber que até os burgueses um dia fizeram revolução, sem saber que a custa de todo esse avanço tecnológico, muito há de se perder, e muito já se perdeu. Mas se o esforçado esta usufruindo de tudo isso, e ainda esta vivo, pé na tábua,   acelerem as máquinas, e vamos esquecer qualquer que seja o contexto desse episódio superficial de avanços e de globalização, vamos esquecer que enquanto disseminamos os conhecimentos aqui, avançamos e nos esforçamos para fazer parte da famosa classe média, uma boa parte da população, que claro, o camarada esforçado não tem culpa, e por isso não se sente responsável por isso, esta simplesmente passando fome, enquanto outros tem o trabalho explorado. Oras, mas todo trabalho é explorado, e nosso deprimente camarada nos diz que devemos aceitar, e buscar melhorar nossa condição, calcando uma ascensão de classe. Engraçado falar em classes, quando percebe-se que os camaradas mais condenados, mais fadados ao infortúnio se matam entre si por um lugar ao sol, um lugar numa classe mais alta, sem saber que a porcaria da divisão de classes existe sim, mas as divide em apenas duas, a dos ricos donos do meio de produção, e a dos pobres, donos da força de trabalho. Será que é tão difícil assim entender que está todo mundo no mesmo barco? Que não adiante ficar pagando de gatinho com o tênis da moda, por que isso não te põe entre os donos do capital?  E que não adianta fugir do problema, ou do assunto, ou da discussão, por que de qualquer forma você garoto esforçado esta mais envolvido na política do que pensa. Pode até ser que você morra sem saber disso, e pode ser que até lá muita gente morra acreditando que nunca se evoluiu tanto, mas eu vou morrer tentando provar o contrário.

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